Capítulo 3

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Aoom olhou para o relógio e suspirou profundamente. Eram quase oito da noite, e John ainda não tinha voltado para casa. Ela estava na cozinha, cortando legumes distraidamente enquanto sua mente vagava. As noites pareciam intermináveis quando John não estava, mas ultimamente, a presença dele não tornava as coisas muito melhores. As conversas eram superficiais, limitadas a "Como foi seu dia?" e "Você já pagou a conta de luz?". Aoom se sentia como uma coadjuvante na própria vida, cumprindo um papel para o qual já não tinha mais entusiasmo.

John chegou pouco depois, sem um cumprimento caloroso, apenas um aceno de cabeça enquanto tirava os sapatos. Ele parecia cansado, o rosto marcado por olheiras profundas. O cheiro de álcool pairava no ar, o que não era novidade nos últimos meses. Aoom sentiu um nó no estômago; as noites que ele passava no bar com os colegas de trabalho eram cada vez mais frequentes, e Aoom não sabia mais como lidar com isso.

— Você jantou? — perguntou Aoom, tentando manter o tom de voz neutro enquanto continuava a cortar os legumes.

— Não. Não estou com fome. — John respondeu secamente, sentando-se no sofá e ligando a TV, sem ao menos olhar para ela.

Aoom apertou os lábios, controlando o impulso de comentar sobre o comportamento dele. Nos primeiros anos de casamento, eles eram inseparáveis. John era divertido, cheio de planos para o futuro, e a presença dele era um alívio para as longas horas que Aoom passava no escritório. Mas agora, ele era um estranho, alguém que ela mal reconhecia. Aoom tentou várias vezes resgatar o relacionamento, sugerindo viagens, jantares a dois, e até terapia de casal, mas John sempre rejeitava, dizendo que não tinha tempo ou que era apenas uma fase.

Naquela noite, porém, Aoom não conseguiu mais se conter.

— John, podemos conversar? — Ela perguntou, virando-se para encará-lo. John desviou os olhos da TV com visível irritação.

— Sobre o quê, Aoom? Já não discutimos isso o suficiente? — disse ele, sem esconder a impaciência.

— Não, John. Nós nunca discutimos de verdade. Você sempre sai ou se esquiva. Estou cansada disso. — A voz de Aoom tremia, mas ela sabia que precisava falar. — Eu quero entender o que está acontecendo com a gente.

John desligou a TV e se levantou, visivelmente aborrecido. Ele andou pela sala como se procurasse as palavras certas, mas quando finalmente falou, sua voz estava carregada de frustração.

— O que está acontecendo? A vida, Aoom. Eu estou tentando manter o nosso sustento, lidando com pressão no trabalho e com tudo mais. Não tenho tempo para essas... bobagens de sentimentos. — Ele gesticulou, como se varresse o ar com as mãos, tentando afastar a tensão.

— Bobagens de sentimentos? — Aoom repetiu, incrédula. — John, nós somos casados! Não dá para viver assim, ignorando o que estamos sentindo. Você acha que eu não tenho pressão no trabalho? Eu também tenho responsabilidades, mas isso não significa que podemos simplesmente esquecer que somos um casal.

John bufou, pegando uma cerveja da geladeira e abrindo-a com um estalo alto. Ele tomou um gole antes de responder, e a irritação em seus olhos aumentava.

— Talvez o problema seja esse, Aoom. Estamos tentando ser algo que não somos mais. Eu sei que você está infeliz, e eu também estou. Então por que continuamos fingindo?

Aoom sentiu o impacto das palavras de John como um soco no estômago. Ela sempre soubera que as coisas estavam ruins, mas ouvir aquilo em voz alta, de John, tornava tudo mais real. A sala, de repente, parecia sufocante, e Aoom sentiu as lágrimas começarem a se formar, mas se recusou a chorar na frente dele.

— Então o que você quer fazer? — perguntou Aoom, tentando manter a voz firme.

John deu de ombros, sem olhar para ela.

— Não sei, Aoom. Só sei que não dá mais para continuar assim.

Aoom se virou para o balcão, tentando respirar fundo. As palavras de John ecoavam na sua mente, e pela primeira vez, ela sentiu que o casamento realmente havia chegado ao fim. Ela sempre acreditara que, com esforço, as coisas poderiam melhorar, mas agora parecia que ambos estavam apenas se agarrando a uma ideia do passado.

— Talvez você esteja certo. — disse Aoom, surpreendendo a si mesma com a calma em sua voz. — Talvez seja hora de pararmos de fingir.

John não respondeu, e a conversa morreu ali, com os dois presos em seus próprios pensamentos. Aoom foi para o quarto, sentindo o peso de anos de expectativas desmoronar sobre seus ombros. Ela deitou na cama e olhou para o teto, as lágrimas finalmente escorrendo pelo seu rosto. Não era apenas o fim de um casamento; era o fim de um sonho que ela construíra com John, de uma vida que ela acreditava que teria.

Na manhã seguinte, Aoom se sentiu vazia. John já havia saído, deixando apenas o eco das palavras ditas na noite anterior. Ela sabia que precisava tomar uma decisão, mas o medo do desconhecido era paralisante. Em meio à confusão, Aoom pensou em Meena. Lembrou-se do sorriso caloroso e do jeito atento com que Meena a ouvia, algo que fazia muito tempo que não experimentava com John. Sentiu um conforto inesperado ao pensar na advogada, como se Meena fosse uma luz no fim de um túnel escuro.

Enquanto se arrumava para o trabalho, Aoom decidiu enviar uma mensagem para Meena.

Mensagem de Aoom: Oi, você está livre para um café hoje? Acho que preciso conversar com alguém…

Meena respondeu quase imediatamente.

Mensagem de Meena: Claro, Aoom. Estou aqui para você. Vamos nos encontrar às seis?

Aoom sorriu levemente, sentindo-se um pouco mais leve ao saber que Meena estaria lá. Ela não sabia o que esperava da conversa, mas pela primeira vez em muito tempo, Aoom sentiu que não estava sozinha em seus sentimentos.

O dia passou arrastado, e Aoom mal conseguiu se concentrar no trabalho. Quando finalmente deu seis horas, ela correu para o café onde se encontraria com Meena. Ao chegar, viu Meena já sentada, olhando para o cardápio com uma expressão calma. Quando Aoom se aproximou, Meena levantou o olhar e abriu um sorriso acolhedor.

— Oi, Aoom. — disse Meena, levantando-se para cumprimentá-la. — Como você está?

Aoom sentou-se à mesa, sentindo uma onda de emoções que quase a fez chorar ali mesmo. Meena estendeu a mão, e Aoom segurou-a, sentindo o calor e o apoio silencioso.

— Não sei mais o que fazer, Meena. — Aoom confessou, sua voz tremendo levemente. — Tudo está desmoronando, e eu não sei como consertar.

Meena apertou a mão de Aoom, oferecendo um conforto silencioso.

— Você não precisa consertar tudo sozinha, Aoom. Às vezes, deixar ir é a coisa mais corajosa que podemos fazer. — Meena disse, com uma serenidade que fez Aoom respirar fundo.

As palavras de Meena ressoaram profundamente, e pela primeira vez, Aoom sentiu que talvez fosse possível recomeçar. Não havia garantias sobre o que viria a seguir, mas com Meena ao seu lado, Aoom sentiu que poderia encontrar forças para seguir em frente, mesmo que isso significasse começar tudo do zero.

Enquanto as duas conversavam, o peso do que Aoom enfrentava parecia diminuir um pouco. Meena não tinha todas as respostas, mas sua presença era o suficiente para dar a Aoom a coragem que ela tanto precisava. E ali, naquele café movimentado de Bangkok, Aoom decidiu que não queria mais viver pela metade. Ela queria mais, e talvez, só talvez, Meena fosse a pessoa que a ajudaria a encontrar o caminho para isso.

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oi guys :)

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