Foi numa tarde de verão, um sábado em que o sol parecia banhar o mundo com uma luz quase divina, a humanidade experimentava uma sensação rara de paz e união universal. As ruas eram tomadas por sorrisos genuínos, olhares repletos de esperança e uma prosperidade que ressoava em cada passo, em cada gesto. Era como se, pela primeira vez em séculos, acreditássemos que o futuro traria redenção. O mundo, ao menos por um breve instante, parecia ter encontrado o equilíbrio que por tanto tempo lhe escapara.
Mas então, sem qualquer aviso, de súbito, o impossível aconteceu, a harmonia foi interrompida. Do solo, uma sombra titânica começou a emergir, lenta, silenciosa, mas devastadora em sua ascensão, como se o próprio solo estivesse a dar à luz uma criatura ancestral, medonha e sem forma, que crescia até engolir o céu. engolindo a luz do sol até transformar o dia em uma noite de pesadelos. O mundo silenciou-se, como se até os ventos tivessem sido silenciados pelo medo.
A partir daquele momento fatídico, uma corrente de pavor atravessou a alma da humanidade. O que antes era apenas uma inquietação difusa tornou-se um terror palpável. A sombra não era apenas uma presença física, era o presságio de tormentos inimagináveis. Uma opressão tão sufocante desceu sobre nós , fomos tomados por sentimentos indescritíveis: desespero avassalador, uma solidão que esmagava o espírito, uma melancolia ancestral, e um arrependimento tão profundo que parecia puxar nossas almas para as profundezas do abismo.
Então, ecoou dos céus um som estrondoso, não como um trovão comum, mas como um choro. Um lamento profundo e interminável, carregado de uma tristeza tão antiga quanto o tempo. um lamento reverberando como o pranto de uma entidade cósmica, uma dor que ecoava pelos céus em uma agonia sem fim. Um choro que parecia carregar nas suas notas todo o sofrimento do universo.
Nenhuma alma viva conseguia compreender o que acontecia. O céu, que há pouco irradiava vida, agora estava obscurecido por nuvens densas e negras, pulsando com relâmpagos ferozes que rasgavam o ar. As tempestades que se seguiram eram mais do que meros eventos naturais; eram a manifestação física do caos que dominava nossos corações. O medo, que se espalhava como uma doença contagiosa, consumiu toda a humanidade. Não havia palavras para explicar o terror, apenas o sentir de uma angústia esmagadora que transcendia qualquer compreensão. O pavor invadiu cada canto, cada mente, deixando-nos à mercê de uma angústia tão desoladora que parecia não haver refúgio nem nos braços da morte.
Vi pessoas abraçarem-se em desespero, lágrimas a rolar pelos rostos de homens e mulheres que já não sabiam mais o que esperar. Entrelaçados pela dor, alguns poucos tentavam compartilhar um gesto de solidariedade em meio ao pavor. Mas, na verdade, era o temor que reinava supremo, uma sombra que obscurecia até a mais forte das esperanças. Pessoas que até então eram totalmente desconhecidas abraçavam-se como se fossem irmãos, buscando no calor humano uma proteção que sabiam ser inútil. Outros gritavam, chamavam por divindades que jamais responderiam, enquanto lágrimas de medo corriam por seus rostos. E havia aqueles, como eu, que eram afogados em uma tristeza tão profunda que já não havia volta, a desesperança total.
Foi então que, do alto dos céus turvos, o som de trombetas ecoou com uma clareza aterradora, Cada nota reverberava como um golpe, sinalizando o início de um apocalipse, um prenúncio do fim.
Era o início das catástrofes que só tínhamos visto em pesadelos. O mundo estremeceu com um rugido imenso, um som primitivo e devastador, que se alastrava pelos mares. Um rugido inominável, uma força colérica que se erguia das profundezas , Muitos acreditaram, com razão, ser o grito do Leviatã, a fera colossal dos oceanos, cuja presença sozinha trazia à tona o pavor ancestral enterrado nas profundezas da memória humana.
O mundo inteiro estremeceu, e sob os céus enegrecidos, a única certeza era que o fim não apenas havia chegado, mas que ele estava além de qualquer terror que pudéssemos suportar.