Decidi que minha separação de Ryle deveria ser permanente após dar à luz Emmy. Pedi o divórcio logo depois que ela nasceu. Não quis ser cruel em relação ao momento, mas só tomei minha decisão quando a segurei no colo e soube, do fundo do meu coração, que faria tudo o que fosse necessário para interromper o ciclo de violência doméstica.
Sim, pedir o divórcio foi sofrido. Sim, fiquei de coração partido. Mas, não, eu não me arrependo. Minha escolha me fez perceber que, às vezes, as decisões mais dificeis que a pessoa toma costumam levar aos melhores resultados.
Não posso mentir e dizer que não sinto falta dele, porque eu sinto. Sinto falta da família que poderiamos ter sido para Emerson. Porém, sei que tomei a decisão certa, apesar de, às vezes, me sentir sobrecarregada com o peso dela. É difícil porque ainda preciso interagir com Ryle. Ele ainda tem todas as qualidades pelas quais me apaixonei, e agora que não estamos mais juntos, é raro eu ver o lado negativo que levou ao fim do nosso casamento. Acho que é porque ele tem se comportado muito bem. Ele teve que colaborar e não resistir muito, pois sabia que eu poderia tê-o denunciado por todos os episódios de violência doméstica pelos quais passei com ele. Ryle poderia ter perdido muito mais do que a esposa, então, na hora de negociarmos a guarda, as coisas foram mais tranquilas do que eu esperava.
Talvez tenha sido mais porque eu resisti ainda menos do que ele. Minha advogada foi muito direta quando falei que queria guarda unilateral. A não ser que eu estivesse disposta a contar a um juiz as partes mais feias dos nossos piores momentos, eu não tinha muito o que fazer para impedir Ryle de visitar Emerson. E ainda que eu mencionasse a violência doméstica, minha advogada falou que é raríssimo um pai disposto e bem sucedido, sem antecedentes criminais, que ajuda financeiramente, ter algum direito seu suspenso.
Eu tinha duas opções: podia decidir denunciá-lo e entrar na Justiça, correndo um grande risco de ter que aceitar a guarda compartilhada. Ou eu podia tentar chegar a um acordo com Ryle que satisfizesse a nós dois, mantendo nossa relação coparental.
Acho que se pode dizer que chegamos a um meio-termo, muito embora nenhum acordo no mundo fosse me fazer aceitar com tranquilidade o fato de eu ter que entregar minha filha a alguém que eu sei que tem pavio curto. No entanto, escolher o menor dos males é tudo o que posso fazer em termos da guarda de Emmy - e também esperar que ela jamais veja esse lado dele.
Quero que Emmy seja próxima do pai. Nunca quis mantê-la longe dele. Quero apenas garantir a segurança dela, e foi por isso que implorei para que Ryle aceitasse visitas diurnas nos primeiros anos. Nunca lhe disse que é porque não sei se confio plenamente nele com nossa filha. Talvez eu tenha colocado a culpa na amamentação e no fato de que ele pode ser chamado pelo hospital a qualquer momento, mas, no fundo, tenho certeza de que ele sabe por que nunca quis que ela dormisse na casa dele.
Nós não falamos da violência do passado. Falamos de Emmy, falamos de trabalho, colocamos um sorriso no rosto quando estamos com nossa filha. Às vezes parece forçado e falso, ao menos para mim, mas prefiro isso ao que poderia ter acontecido caso eu tivesse entrado na Justiça e perdido. Posso muito bem fingir um sorriso até os dezoito anos dela se isso significar que não preciso dividir sua guarda nem possivelmente expô-la com mais regularidade às piores partes do pai.
Até agora tem dado certo, se não considerarmos o gaslighting ocasional e seus flertes indesejados. Por mais que eu tenha deixado meus sentimentos evidentes durante o divórcio, ele ainda tem esperanças quanto a nós dois. Às vezes diz coisas que demonstram que não abriu mão por completo da ideia de reatarmos. Receio que boa parte da cooperação de Ryle se baseie na ideia de que ele poderá me reconquistar caso se comporte bem o bastante, por tempo o bastante. Ele enfiou na cabeça que vou acabar cedendo com o tempo.
Mas as coisas não vão acontecer como ele quer, Ellen. Um dia vou dar outro rumo para minha vida, e, sendo bem sincera, espero que esse rumo inclua Atlas. É cedo demais para saber se isso é uma possibilidade, mas tenho certeza absoluta de que meu rumo nunca mais incluirá Ryle, por mais tempo que passe.
Faz quase um ano que pedi o divórcio, mas faz quase dezenove meses da briga que causou nossa separação. O que significa que estou solteira há mais de um ano e meio.
Um ano e meio entre dois possíveis relacionamentos parece bastante, e talvez fosse mesmo, se não estivéssemos falando de Atlas. Mas como posso fazer isso dar certo? E se eu mandar uma mensagem para Atlas e ele me convidar para um almoço? E se o almoço for maravilhoso, o que certamente seria, e virar um convite para jantar? E se o jantar nos levar de volta ao ponto em que paramos quando éramos mais jovens? E se nós dois ficarmos felizes e nos apaixonarmos de novo e ele se tornar uma parte da minha vida?
Sei que parece que estou me precipitando, mas é de Atlas que estamos falando. A não ser que ele tenha passado por um transplante de personalidade, creio que você e eu sabemos o quanto acho fácil me apaixonar por ele, Ellen. É por isso que estou hesitando tanto: tenho medo que dê tudo certo.
E se der certo, o que Ryle vai achar do meu novo
relacionamento? Emerson tem quase um ano de idade, e nós passamos este ano inteiro sem muito drama, mas sei que é porque encontramos um bom ritmo que não foi afetado por nada. Então por que me parece que qualquer menção a Atlas vai causar um tsunami?
Não que Ryle mereça essa preocupação que estou sentindo com a situação, mas ele pode transformar minha vida amorosa em um verdadeiro inferno. Por que Ryle ainda ocupa uma parede inteira nas muitas camadas dos meus pensamentos? É isso que parece é como se todas essas coisas maravilhosas acontecessem, mas, à medida que as vou assimilando, elas acabam alcançando uma parte de mim que ainda toma decisões com base em Ryle e suas possíveis reações.
Suas reações são o que mais temo. Queria ter esperanças de que ele não fosse sentir ciúme, mas sei que vai. Se eu começar a sair com Atlas, Ryle vai dificultar a situação para todos. Apesar de saber que o divórcio foi a decisão certa, ainda assim essa decisão tem suas consequências. E uma delas é que Ryle sempre pensará que foi Atlas quem causou o fim do nosso casamento.
Ryle é o pai da minha filha. Independentemente do homem que, de agora em diante, entrar na minha vida ou sair dela, Ryle é a única constante que sempre terei de apaziguar se quiser que Emerson tenha a experiência mais tranquila possível. E se Atlas Corrigan voltar para minha vida, Ryle jamais será apaziguado.
Queria que você pudesse me dizer o que fazer. Devo sacrificar algo que sei que me deixará feliz, a fim de evitar o tumulto inevitável que a presença de Atlas causaria?
Ou será que sempre terei um buraco com a forma de Atlas no meu coração, a não ser que eu lhe permita preenchê-lo?
Ele está esperando uma mensagem minha, mas acho que preciso de mais tempo para assimilar tudo. Nem sei o que lhe dizer. Não sei o que fazer.
Eu te conto se decidir alguma coisa.
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É assim que começa
RomanceLily e Ryle acabaram de chegar a um acordo civil para a guarda conjunta da filha, Emerson, quando Lily repentinamente esbarra em Atlas, quase dois anos após terem se falado pela última vez. Feliz que o timing finalmente parece estar favorável para q...