CAPÍTULO QUATRO

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MANUELLA

O sol havia desaparecido, o céu já estava num azul escuro sem nuvens e eu... eu observava o PL com a Vivian nos braços enquanto ele andava de um lado pro outro tentando fazer ela dormir. Mas ela não dormiria. Eu a conhecia tão bem que era certo dela achar que toda aquela movimentação era só uma brincadeira estupida. Busquei seu rostinho encolhido na camiseta amarrotada dele e os olhos grandes estavam acessos como brasa. Sorri. A minha menina não ia dormir enquanto o mundo brilhasse ao seu redor.

O PL me olhou de lado e me deu as costas em seguida, voltando para o ponto inicial da caminhada. Sorri novamente entendendo sua careta. Baixei os olhos, eu estava de calça, uma calça de moletom cinza, era bem-comportada por sinal, porém o cropped branco parecia algo que se deveria usar por baixo da roupa... um sutiã chique talvez? Levantei os olhos e vi os seus grudados em mim enquanto ele caminhava de volta novamente.

Era engraçado... eu sentia falta daquilo e até admirava o seu alto controle. Quando me viu sair do banho, uma meia hora atrás, ele não havia aberto a boca, só tinha me encarado estranho e observado atentamente as pessoas ao nosso redor. Gostei dos seus olhos, adorei a forma tensa que seu corpo se transformou... mas me apaixonei quando ele, simplesmente, retirou a Vivian dos meus braços e me acompanhaou até a mesa, onde as outras crianças estavam.

Ao sentar à mesa, onde eu estava agora, sorri ao ver as crianças prontas para o jantar. E enquanto eu jantava e fazia os nossos filhos comerem, ele cuidava da Vivian. Foi a primeira vez, após quase um ano, que comi tranquilamente. Era uma sensação confortável, sem pressa, sem precisar se transformar em dez Manuellas ao mesmo tempo.

— Mãe? — Voltei pra terra, tirei a colher de dentro do prato e encaminhei pra boca do Vitor. Ele abocanhou e eu sorri quando ele se virou pra irmã e logo depois para o PL.

A Tina estava numa cadeira em frente à minha. Comia sozinha. Tinha os olhos tão fixos no PL que me admirava que conseguisse colocar a comida na boca. O Vinícius já tinha se rendido aos desenhos do celular e estava naquele momento dormindo num pequeno sofá da sala com a coisa no último volume. Suspirei ao ver o PL dá as contas novamente. Olhei para o prato buscando mais uma colher cheia e observei as mãos da Luana ao meu lado na mesa. Havia uma tensão entre a gente.

Eu havia ouvido sua voz apenas uma vez naquela noite, foi quando sentei, ela havia dito que o Caveira não daria as caras até a madrugada e após isso o silencio entre nos duas era de tirar qualquer um do sério. Pensei no que o Caveira havia pedido, mas, na minha cabeça, aquele não era o momento pra conversar. Eu queria que os meninos curtissem o PL, sem briga idiota pra atrapalhar.

— Eu coloco eles pra dormir, pode ficar com o PL um pouco. — Olhei pra cima sentindo o coração acelerar. Observei seus olhos vermelhos. Era agora a segunda vez que ela me dirigia a palavra.

— O que? — Perguntei a Luana.

— Eu levo a Tina e os meninos pra cama. — Ela continuou e desviou os olhos pra Valentina. — Vocês dois merecem.

Ela não levantou, apenas afastou a cadeira e deu atenção a Tina, ajudando ela com o resto da bagunça que tinha feito no prato. Eu baixei os olhos tentando controlar a ponta de felicidade que aquelas simples palavras me provocavam. A tarde inteira o PL foi das crianças. Passei o dia tentando não chorar ou não surtar, tentando sorrir pela felicidade dos meninos de ter o PL de novo. Mas, dentro de mim, eu precisava de tempo, tempo pra ter certeza que ele tava ali de verdade. Algo estranho ainda me fazia questionar as suas escolhas.

Deixei a última colher pronta e esperei o mini PL procurar a comida. O Vitor estava estático, observando o pai, era impressionante como a figura paterna mudava as crianças. A Tina tinha chorado depois de ver o PL, o Vinícius ficou numa euforia, mas o Vitor... pra ele o PL era um super-herói. Alguém que havia aparecido do nada e que a qualquer momento poderia sair voando. Sorri observando o Vitor me olhar quando o PL nos deu as costas e, depois de abocanhar a última colher, lá estava os olhos grudados no pai novamente. Nunca havia sentido a falta que o Paulo fazia pra eles, a cada risada, a cada brincadeira e a cada olhar que eles davam, parecia de outro mundo.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora