CAPÍTULO CINCO

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SEIS MESES ANTES

O carro parou e eu agarrei o cinto de segurança que rodeava meu corpo. Ouvi o suspiro dela e fechei os olhos desejando que tudo que eu estava fazendo fosse o certo. Pensei no rostinho da Tina, pensei no sorriso dos gêmeos e no insistente choro da Vivian quando bati a porta de casa... eu era a Manuella Brandão e não tinha medo de nada que pudesse dar errado.

— Você vai entrar sozinha? — A voz calma da Sofia me fez abrir os olhos outra vez.

Havia dois caras parado na frente do meu carro, os dois seguravam um fuzil de assalto e encarava nós duas ali dentro. A Sofia estava no volante, no seu lado esquerdo um muro alto, pichado e velho, impedia que eu a obrigasse a dar a volta e ir embora dali. Suspirei buscando coragem de onde quase não tinha e movi a mão que apertava o cinto. Com apenas um clique o cinto soltou.

— Você vai entrar comigo, mas se abrir a boca pro Conan, vou te jogar num buraco lotado de barata.

— Eca, Manuella! — Tentei sorrir. — Prefiro quando você ameaça arrancar o pau do Conan!

— Eu posso fazer isso também. — Respondi sorrindo, eu não vi seu rosto, mas podia imaginar a filha da mãe revirar os olhos.

— Se eu contar é capaz de ele mesmo me jogar no buraco lotado de barata... — Balancei a cabeça concordando. — Então eu só fui te levar ao médico, só isso. — Com um sorriso falso no rosto e uma carapuça que eu estava cansada demais de usar, abri a porta do carro e senti o vento quente do meio dia balançar o meu cabelo.

Por mais insano que toda aquela situação fosse, eu gostei da cara de espanto dos dois me encarando. Um deles eu nunca havia visto perto do Conan, mas o outro, quem eu realmente queria encontrar, era um homem mal-humorado e grande demais pra que eu pudesse enfrentar sozinha... o Conan sabia arrumar aliados que davam medo. Sorri com petulância quando a arma do "PITBULL" baixou e ele me reconheceu. A porta do motorista se abriu e vi seus lábios formarem um palavrão. Ele me encarou.

— Era só você! — Ele gritou, eu concordei e, com apenas um movimento, fechei a porta do carro.

— É por precaução! — Gritei de voltar.

— Trazer a mulher daquele lunático pro meio do meu morro não é precaução, é suicídio!

— Ele não sabe que estamos aqui. — A Sofia respondeu e eu vi os dentes brancos como leite refletirem quando o PitBull encarou ela.

— Jura, Boneca? — Ele cruzou os braços. — Se o PL estivesse vivo, eu tenho certeza que metade do meu morro estaria no chão se o maldito sonhasse que a princesa dele estava aqui... — Ele me encarou. — Mas com aquele filho da puta do Conan o meu morro inteiro vai tá fodido!

A Sofia começou a rir.

Em passos lentos andei até o PitBull. Eu sabia que, mesmo os dois sendo aliados, o Conan não gostaria de nenhuma de nós duas tentando fazer um acordo por baixo do pano. Sabia também que aquilo tudo poderia virar uma merda e eu acabar mais fodida do que já estava, mas eu precisava reagir, eu precisava voltar a comandar a minha maldita vida! Parei na frente do chefe do morro do Turano e encarei seus olhos negros.

O PitBull, como era conhecido o Tiago Silva, era duas vezes maior que eu. Ele deveria ter um metro e noventa, quase uns 100 quilos e uns 50 anos de idade. Era negro, forte e possuía longos dreads caídos pelos ombros. Era o tipo de cara que uma mina como eu deveria correr... não pela minha falta de poder, mas pelas merda que aquele simples encontro poderia causar. Deveríamos ser inimigos por causa das facções.

— Eu trouxe algo pra você. — Ele bufou.

— Falei pra aquele teu soldadinho de merda que eu não queria problema com o teu irmão! Eu não vou comprar as tuas parada, primeira dama! — Sorri com o apelido.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora