CAPÍTULO SEIS

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CINCO MESES ANTES

— Um doce pelos seus pensamentos. — Pisquei sentindo todos os pelos do meu braço se arrepiarem. Mesmo que o coração começasse a bater rápido, mantive a pose... como se a sua voz não tivesse me pego de surpresa.

— Acho que seus olhos ficam ainda mais perversos quando encara um dos meus aliados com vontade de matar.

— Não confunda vontade de foder, com matar. — Sorri quando ele engasgou e se afastou da minha cadeira.

— Tu não ouve o que fala?

— Ouço. — Olhei pra ele, seus olhos negros faiscavam. — É você que não gosta de ouvir.

Tentei conter o sorriso quando o PitBull balançou a cabeça com raiva.

Aquela reunião pra entrega de mercadoria tinha me roubado mais de duas horas, e estar sentada numa das mesas lotada de macho, não me deixava confortável. Era por isso que eu analisava todos ali com atenção, principalmente o homem mais afastado da mesa... o que estava de boné e que tinha entrado pela rua as minhas costas. Tá bom que todos eles fizeram a mesma coisa, mas ele parecia novo na área... e parecia interessado demais na Vivian dormindo ao meu lado.

Meus olhos desviaram do PitBull e eu olhei pra frente, olhei a tempo de ver o cara desviar os olhos de novo e me virar as costas. Me concentrei outra vez tentando reconhecê-lo. Ele era forte, uns 20 centímetros mais alto que eu, vestia uma camiseta preta e fios loiros despontavam do boné vermelho que usava. Estreitei os olhos quando ele virou de lado e cumprimentou dois caras sorridentes.

— O problema é que você não sabe controlar isso. — Pisquei e trinquei os dentes. Mais uma vez senti o coração estrondando. — Enquanto os seus olhos querem matar alguém vivo, da tua boca saem coisas que ninguém espera... e o seu rosto só transmite um maldito anjo! — Sorri.

— Você acha que me pareço com um anjo? — Perguntei com a voz mais doce que encontrei e olhei pra ele, sua carranca era engraçada.

— Quem não te conhece que te compre e leve pra casa, Manuella. — Comecei a rir. — Não adianta se parecer com um anjo e trazer a filha pra uma reunião de negócios, a sua língua detona qualquer ilusão que nós vê quando tu chega.

— Assim eu me sinto mal, me visto tão bem pra impressionar. — Vejo seu maxilar travar e começo a rir alto quando ele volta a olhar pra frente.

— Então se vestir assim é realmente pra chamar atenção.

Aquilo não era uma pergunta, mas eu quis concordar e rir da sua cara mal-humorada. Minha roupa não era tão ruim. Um short jeans rasgado e uma blusa preta sem alça que fazia os meus seios quererem sair do lugar.

— Os homens são burros, Tiago. — Gostei quando ele rosnou em resposta ao seu nome verdadeiro. — Eu chego bem arrumada, com uma filha fofa do lado e apenas com um soldado de segurança. A minha vida tá exposta, eles sabem de quem fui e sabem quem é o meu irmão... eles vão me desejar enquanto me olham, sentir medo quando imaginam o meu irmão e vão querer saber por que um ADA ficou tanto tempo ao lado do inimigo.

— E a tua filha? — Sorri um pouco mais e me virei pra cadeira em que o bebê conforto estava. Mesmo que o barulho de música e falação tomasse a rua, a Vivian dormia. — Tu trouxe a mais nova pro meio de uma parada que pode dá em guerra, não prestou atenção nesse erro enquanto tentava foder os meus homens?

Olhei pra ele de volta e notei a pura arrogância. O PitBull poderia saber como comprar os melhores canos, poderia conhecer metade do Rio e me colocar nos esquemas dele. Poderia até conseguir me fazer ver que ele tinha razão em algumas situações, mas não sabia de nada sobre os homens do mundo em que vivíamos. Olhei pra frente, para os mais de dez "chefe" de comunidade e seus soldadinhos.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora