4. Lily

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A minha situação com Ryle tem sido incomum desde que Emerson nasceu. Acho que poucos casais dão entrada no divórcio na mesma hora em que assinam a certidão de nascimento da filha recém-nascida.

Por mais que eu tenha me decepcionado com Ryle por ele ter me levado à decisão de acabar com o nosso casamento, não quero impedi-lo de se conectar com a nossa filha. Coopero o máximo possível com ele, pois sei que seus horários são caóticos. Às vezes, até a levo para visitá-lo no hospital durante o almoço.

Ryle também tem a chave do meu apartamento desde antes de Emerson nascer. Dei uma cópia a ele porque estava morando sozinha e tinha medo de entrar em trabalho de parto e ele precisar entrar no apartamento. Porém, ele nunca a devolveu após o nascimento, embora eu tenha pensado em pedi-la de volta. Ele a usa nas raras ocasiões em que opera até tarde e tem tempo sobrando de manhã para ficar com Emmy depois que saio para o trabalho. Foi por isso que não a pedi de volta. Mas, ultimamente, ele tem usado a chave quando leva Emmy para casa.

Ele me mandou uma mensagem pouco antes de eu fechar a floricultura mais cedo para dizer que Emmy estava cansada, então ia levá-la para minha casa e colocá-la para dormir. A frequência com que ele tem usado minha chave faz com que eu me pergunte se ele também não está tentando passar mais tempo com outra pessoa além de Emmy.

A porta da frente está destrancada quando finalmente chego em casa. Ryle está na cozinha. Ele me olha ao ouvir a porta se fechar.

Trouxe o jantar
- anuncia ele, erguendo uma sacola do meu restaurante tailandês favorito.
- - Você não comeu ainda, comeu?

Não estou gostando disso. Ele está ficando cada vez mais à vontade aqui. No entanto, já estou emocionalmente exausta depois do dia de hoje, então balanço a cabeça e decido confrontar a questão em outro momento.

Não comi, obrigada.

Coloco a bolsa na mesa e passo pela cozinha, indo para o quarto de Emmy.

Acabei de colocá-la na cama avisa.

Paro perto da porta do quarto e encosto o ouvido nela. Está silêncio, então recuo e volto para a cozinha sem acordá-la.

Estou me sentindo péssima por ter dado uma resposta curta para Atlas mais cedo, mas esta interação com Ryle confirma todas as minhas preocupações. Como eu começaria algo com alguém novo quando meu ex ainda me traz comida para jantar e tem a chave do meu apartamento?

Preciso estabelecer limites firmes com Ryle antes de poder sequer considerar a ideia de Atlas.

Ryle escolhe uma garrafa de vinho tinto da minha adega. Posso abrir?

Dou de ombros enquanto sirvo o pad thai no meu prato.

Pode, mas não vou querer.

Ryle devolve a garrafa e decide tomar um chá. Pego uma água na geladeira e nós dois nos sentamos à mesa.

Como ela estava hoje? - pergunto a ele.

Um pouco rabugenta, mas eu tinha muita coisa para resolver. Acho que ela cansou de tanto entra e sai na cadeirinha. Estava melhor quando passamos na casa de Allysa.

Quando é seu próximo dia de folga?

Ainda não sei. Eu te aviso.

Ele estende a mão para a frente e usa o polegar para limpar alguma coisa na minha bochecha. Eu me retraio um pouco, mas ele não percebe. Ou talvez finja não perceber. Não sei se ele repara que, sempre que sua mão se aproxima de mim, minha reação é negativa. Conhecendo Ryle, ele deve achar que me retraí por ter sentido alguma química entre a gente.

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