Parte Um

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"Venha Maite, deixe de ser medrosa! Larga essa droga e venha para o meu lado"  Alfonso gritou para mim do alto da árvore do parque onde estávamos.

"Eu já disse, hoje eu estou só filmando," Respondi sorrindo e ele revirou os olhos.

"Eu queria que você visse como é lindo tudo daqui de cima" Ele se recostou num galho grosso e observou o horizonte enquanto eu registrava tudo.

"Eu morro de medo de altura, Poncho você sabe, sou muito melhor como cinegrafista." O lembrei.

"Se fosse para você filmar tudo daí debaixo eu nem teria te convidado." Eu abri minha boca em sinal de surpresa.

"Não acredito que você ia me deixar em casa em pleno domingo!"

"Ok, não iria" Ele riu e sorri vitoriosa "Mas sobe aqui só um pouquinho? Juro, prometo, que nada vai acontecer, sabe que te protejo" Ele olhou para mim lá de cima e me pegou sorrindo. "Sabe que sim, não é?" Perguntou, sorrindo de canto, enquanto foi descendo e agarrava os galhos meio úmidos de orvalho.

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Meus olhos se encharcaram mais uma vez, eu os apertei e deixei a lágrima correr pelo meu rosto. Me agarrei ao travesseiro e me encolhi como uma bola e fiquei murmurando e chorando algumas palavras. Eu jamais iria despertar feliz e nem com vontade de viver outra vez. Esse era o fim. As lembranças iriam me consumir e, pouco a pouco, eu iria apagando como vela...

"Maite! Maite, minha filha..." Ouvi minha mãe entrar no quarto e logo senti seus braços me acolherem em um abraço. "Eu sei que não é fácil, querida..."

"É, você não sabe" Retruquei, rancorosa. "Eu não vou ser a mesma sem ele mãe, ele era meu ar" Mais uma lágrima escorreu pelo meu rosto, mais uma perdida.

"Então você tem que aprender a respirar direito. Não respire tão fundo. Vá com calma." Orientou, então mais soluços começaram a preencher o silencio da casa.

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"Alfonso, eu não vou subir, não adianta!" Eu bati o pé, franzindo o cenho em sinal de desacordo.

"Mai, Maite linda" Ele pulou ao meu lado, sorrindo encantadoramente. "Nossa ... se você visse ...ah, se você visse! O céu está colorido no horizonte e o sol está quase se pondo. Mai, vem comigo?" Insistiu. Ele tocou meu rosto e foi como se uma corrente elétrica tivesse passado por mim, eu sorri na hora, reconhecendo a reação.

"Poncho!" Eu gemi manhosa. "Enquanto eu crio coragem..."

"Xiii, lá vem." Ele pegou a câmera da minha mão e me filmou. "Dá um sorrisinho, dá?" Pediu, rindo, eu fiz biquinho e mandei careta para a lente. "Mai, minha musa, sei que pode fazer melhor" Ele piscou e soltei um sorriso involuntário, ele se vangloriou. "Isso amor! Mais um vai? Vai ficar para os nossos netos, pensa nisso" Narrou, enquanto circulava envolta de mim e mexia nos meus cabelos. "Manda beijo pro teu amor" Eu mandei e ele continuou a narrar. "Ai, ai, aii... desse jeito eu não resisto" Ele se aproximou de mim e me beijou lentamente, registrando tudo com a mão livre.

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Olívia chegou por volta das dez horas da manhã, com a missão de me animar, mas fracassou miseravelmente. Nós duas éramos muito unidas, como irmãs. Nós ficamos abraçadas por um longo tempo e tudo o que ouvíamos eram fungadas e soluços. Quando nos separamos, Olívia passou seus dedos delicados pelo meu rosto, numa tentativa de conter as lágrimas e eu fiz o mesmo com ela.

"Mai... houve um motivo, acredita nisso." Ela fungou e eu dei um longo suspiro. Eu queria mesmo acreditar em um motivo, mas eu não conseguia encontrar nenhum. "Ok, se fosse com Jake eu...eu não sei o que iria fazer." Eu forcei meus lábios em um sorriso torto. "Quero dizer, você é forte Mai, você vai superar isso."

"Eu não sei se sou tanto como dizem Olívia. Eu estou morta por dentro sabe? Eu não consigo pensar na minha vida sem ele. Ele se foi sem dizer tchau, um até logo" Ela fungou mais uma vez, agora mais profundo. "Ele dizia que a gente ia se casar, mas agora eu não sei mais o que vou fazer da minha vida." Eu olhei nos olhos azuis cintilantes de Olívia e dei de ombros.

"Você vai seguir em frente! Mai, tanta gente passou por isso, você tem que seguir também! Você vai conseguir eu sei." Vi seus lábios esboçarem um sorriso.

"Eu te amo, Liv." Confessei. "Não sei nem como te agradecer por tudo. Desde ontem eu pareço estar em um universo paralelo e, algumas vezes, eu chego a acreditar, mas eu me lembro que é real e tudo fica pior de suportar."

"Primeiramente vou preparar um café-da-manhã para você, pois sua mãe me contou que você não comeu nada desde ontem."

"Minha mãe anda falando demais" Resmunguei. Olívia ajeitou os fios que caíam no seu rosto.

"Ela só quer te ver bem e eu também" Eu assenti. "Eu vou preparar algo gostoso para você e vou cuidar de tudo, certo? Vamos lidar com isso como sempre fazemos; juntas."


Palavras Que Não Pude Dizer (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora