O bote havia furado.
Sentindo a água gelada pressionando seu corpo, os membros frios de Catupi começaram a ficar dormentes, e em seu pulmão havia pouco ar.
Seu nariz não exercia sua função respiratória, sua visão se turvava cada vez mais e seu pulmão ardia pela falta de oxigênio.
Demorou a tentar sair de lá pelo susto, mas ao tomar um pouco de consciência da situação, nadou até o topo.
Enfim ar.
E lá estava, reluzindo sob a luminosidade suave da manhã recém-nascida, a ilha.
Catupi sentiu um alívio absoluto inundar seu corpo tenso. Mas antes que pudesse celebrar, quando olhou para os lados, não viu Kyoto.
Mergulhou de novo, na esperança de encontrá-lo, abriu os olhos já irritados pelo sal, procurou por ele e nada. Não o encontrava, e cada segundo que passava a angustia se agitava mais em seu peito. Uma sensação de culpa sufocou-a ainda mais do que aquelas águas.
Com olhos ardendo, viu algo, um borrão. Não se importou se fosse algum animal, podia ser ele. Ela nadou impetuosamente, lutando contra a falta de ar.
Era ele. Kyoto estava inconsciente, a água o puxava para baixo. E mesmo com o ar acabando, foi até ele o mais rápido que pode. Com as mãos trêmulas, alcançou seu amigo, agarrou-o pelo peito e lutou contra a força da água para trazê-lo de volta à costa.
O ambiente calmo da ilha estava em total contraste com a situação angustiante. Kyoto, imóvel sobre a areia dourada, perdera todo o pigmento marrom claro de seu rosto, o que fez o desespero de Catupi alcançar um novo patamar.
Ajoelhou-se ao lado dele, a água salgada escorrendo de seus cabelos ondulados. Por alguns segundos ficou travada sem saber o que fazer. Mas não havia tempo a perder, com mãos trêmulas, segurou o queixo de Kyoto e chegou perto de seu nariz para sentir algum sinal de respiração.
Não estava respirando.
Tentou deixar de lado o assomo de preocupação que caiu sobre seus ombros, tampou o nariz e assoprou na boca dele. Fez 5 ventilações sucessivas e... nada; continuava ali inconsciente, não apresentou nenhum retorno de sinais vitais.
Isso significava uma parada cardiorrespiratória.
Ainda tremendo, ela iniciou os primeiros socorros, rezando silenciosamente para que o conhecimento que obteve no acampamento militar fosse suficiente para trazê-lo de volta.
A cada compressão, seu rosto ficava mais rígido de aflição e seu peito arfava, uma súplica desesperada pela vida de Kyoto. Catupi sentiu uma onda quente e incômoda sufocar sua garganta; um emaranhado de desespero e culpa tomava conta dela como um parasita devorador, crescendo e se alimentando de suas entranhas.
Até que... sob seus dedos trêmulos, o peito de Kyoto se ergueu em resposta, seus pulmões encontrando novamente o ritmo da vida.
Estava vivo. Estava vivo!
— Eu nunca mais vou deixar a segurança da superfície terrestre — ele disse quando enfim parou de ofegar.
Um sorriso largo surgiu no rosto contraído de aflição, e ela teve que fazer algum comentário para esconder o medo que a cercava.
— Justo. Depois dessa eu me demito como programadora de viagens e nossas próximas aventuras vão ficar só no RPG.
Ela lutou contra o ímpeto de abraçá-lo porque não desejava sufocá-lo, então apenas apertou sua mão, depois se levantou.
Com o vento frio e salgado batendo em seu rosto, ele ficou sentado com os braços abraçando as pernas, esperando recuperar-se por completo. Absorto em seus pensamentos, contemplava o nascer do sol que pintava o mundo inteiro de um tom dourado antes de fechar os olhos e começar a orar de gratidão.
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Intrépida: a relíquia do inventor
AdventureHá dois anos, um ex-arqueólogo desvendou um enigma intrigante em um museu, deixado por um inventor famoso, sem suspeitar que isso desencadearia uma série de conflitos que mudariam vidas para sempre. Sua filha, Catupi Reis, uma garota intrépida de 1...