Suspenso por fios de marionete

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~{24}~

Tudo é passageiro, talvez isso fosse apenas mais uma dessas coisas...

Talvez eles tenham sido apenas uma dessas coisas...

Sua respiração formava suaves nuvens de vapor enquanto ele se recostava na cadeira, ignorando propositalmente o estalo de suas articulações doloridas. Duas semanas atrás, ele teria feito um comentário amargo sobre o frio no ar e pulado na cama ao lado de seu amigo - colega de quarto? Parceiro? - em busca de calor. O moreno teria bufado divertido, mas se aproximado mesmo assim, fazendo uma piada sobre como a baixa estatura de Chuuya não conseguia reter calor.

Em vez disso, ele desviou o olhar cheio de saudade da janela aberta e o direcionou para os papéis, sua mente ocupada com pensamentos sobre o futon vazio e praticamente intocado no dormitório da agência. Já fazia algum tempo que estava assim, os cobertores nunca mais foram arrumados ou usados desde que Chuuya tentou dormir sozinho uma vez. Não deu nada certo e o ruivo simplesmente voltou a se sentar em sua mesa de carvalho, com papéis espalhados por toda parte, sentindo-se seguro dentro das paredes da agência.

Como todas as noites a essa hora, ele ouviu um leve som de passos no piso de azulejo do outro lado da grande porta. Os passos desaceleraram drasticamente ao se aproximarem da porta trancada, antes de, hesitantes, pararem, ouvindo apenas sua respiração gelada por alguns momentos.

"Um... dois... três..." Chuuya sussurrou para si mesmo enquanto apoiava a cabeça na mesa, usando o tecido amassado de suas mangas como um travesseiro improvisado. Como um relógio, assim que ele chegou ao número três, o som rítmico dos passos começou a ecoar e se afastou pelo corredor do mesmo jeito que havia chegado.

Chuuya desejava de coração que Dazai simplesmente abrisse a porta - fosse com uma chave, batendo ou arrombando a fechadura, tanto fazia - e entrasse como se nada estivesse errado. Ele preferia isso do que ver Dazai indo até a agência, hesitando na porta à noite e reconhecendo a distância que havia crescido entre eles.

Parte dele estava ciente do impacto que isso causaria, mas a outra parte só implorava por aquela sensação de companhia. Qualquer coisa para se livrar das agulhas afiadas da solidão cravadas em seu coração.

Afastando o cabelo oleoso do rosto, ele se levantou e olhou para os papéis inacabados que ainda precisava completar, fitando-os com um olhar melancólico, como se eles tivessem as respostas para seus problemas.

O emaranhado de cabelo no topo de sua cabeça tinha uma cor estranha, ele concluiu. Estava despenteado e com uma aparência úmida por causa da oleosidade que ele ainda não tinha lavado — afinal, ele ainda não tinha voltado aos dormitórios para fazer isso. Ele havia retornado apenas uma vez, alguns dias atrás, mas o quarto vazio o deixou tão inquieto que ele correu de volta para a agência.

O tempo passava devagar, com o prédio vazio e sem vida por causa do fim de semana. Todos estavam fora, fazendo compras para as festas; afinal, não havia motivo para voltar ao trabalho fora do horário de expediente.

O amanhecer quase o pegou de surpresa. Os tons dourados do sol tocaram suavemente seu rosto, como uma carícia delicada, mas queimaram seus olhos quando os raios finalmente subiram o suficiente para alcançá-lo. Apesar disso, não aqueceu seu corpo trêmulo. Essa é a solitária maldição do inverno, ele supôs.

Havia uma reunião agendada para hoje. O Presidente, os Membros da Agência, o Chefe da Máfia do Porto e os Executivos se reuniriam em uma sala para discutir acordos futuros e até mesmo negócios atuais ou antigos. Embora fosse bom saber a posição de todos, ele temia a passagem do tempo. Ele não sabia se suas pernas o levariam para fora da sala ao primeiro olhar que recebesse ou se ele desmoronaria sob o peso de seu antigo título de Executivo.

Imagens distorcidas, memórias distorcidas {Tradução pt-br}Onde histórias criam vida. Descubra agora