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DULCE MARIA SAVIÑON

Oito anos atrás

Então você quer falar sobre poder?
Ooh
Me deixe te mostrar o que é poder
Eu como garotos como você no café da manhã
um por um, pendurados no colar
( Breakfast – Dove Cameron)

Minhas pernas doem. Meu couro cabeludo incomoda. Meu pescoço está dolorido. Minha garganta está arranhada. E mesmo com tudo isso, o sorriso satisfeito não sai do meu rosto enquanto caminho sob o sol escaldante de Los Angeles.

Óbvio que minhas pernas doeriam depois de todos movimentos que fiz sobre o pau de Christopher, assim como eu já esperava pelo incômodo que viria depois de cada um dos puxões de cabelo. Sem contar com cada grito que dei enquanto era fodida, o que acabou arranhando minha garganta.

Quando a energia de nossos corpos acabou e nós dois desabamos um sobre o outro, a medida em que minha respiração se regularizava, me dei conta de tudo o que havia acabado de acontecer. E de todas as consequências que eu estava prestes a enfrentar.

Quando decidi me vingar de Pablo, eu não pensei no que aconteceria depois. Eu nem mesmo me lembrei que haveria algo depois da vingança.

Acontece que o "depois" chegou e veio me mostrar que uma delas é: estou desabrigada.

Nem se Pablo oferecesse, eu continuaria morando sob o mesmo teto que ele. Também não tenho pais para pedir por abrigo e não posso voltar para o orfanato, afinal tenho dezoito anos.

Conclusão: uma desabrigada.

Christopher não só cumpriu a promessa de me fazer gostar de tudo o que fez comigo, como também foi excelente em bagunçar qualquer possível pensamento à minha volta, não só me fazendo esquecer que a vingança estava me motivando, como também apagou da minha mente o fato de que eu não teria uma casa quando nosso sexo terminasse.

E talvez ao entender tudo isso, eu devesse me sentir, pelo menos, preocupada. Mas eu só me sinto livre.

Desde o segundo em que Pablo fechou a porta atrás de si e eu continuei fazendo o que eu queria fazer, que era transar com Christopher, sinto como se nada fosse capaz de ser um problema pra mim, afinal, meu jogo, minhas regras.

Então, continuo sorrindo.

Durante o Ensino Médio e sem que quase ninguém soubesse, consegui ganhar um dinheiro dos filhinhos de papai que eram incapazes de somar dois mais dois. Os trabalhos que eu precisava fazer para manter as médias que a escola requeria eram feitos com tanta facilidade que eu acabava tendo tempo para fazer as atividades dos outros.

Óbvio que por um preço.

Juntei algumas economias e nunca precisei gastar com nada, afinal, eu era a namorada de Pablo Lyle e mesmo que isso fosse um ônus, eu ainda tinha alguns bônus, como não precisar me preocupar em gastar com roupas, já que nem todo meu dinheiro seria capaz de me vestir à altura do garoto de ouro.

No primeiro dia em que saí com sua mãe, Chloe Lyle, e vi o preço do vestido que ela queria que eu comprasse, eu ri.

Joguei minha cabeça para trás e ri alto enquanto ela me olhava sem entender.

– Esqueceu que sou pobre e moro em um orfanato, sogrinha? – questionei, me divertindo com o claro desgosto que ela tinha por isso. O claro desgosto que ela tinha por mim.

– E você se esqueceu que também é namorada de um futuro senador? – pontuou, irritada pelo meu deboche.

Ela me odiava e nunca fez questão de esconder isso. E eu nunca fiz questão de mudar a forma como ela me via.

AmnésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora