CAPÍTULO OITO

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TRÊS MESES ANTES

SOFIA

O som já não estava mais alto, as vozes no meio da rua tomava conta de toda a minha sala... o que me deixava ainda mais nervosa. Fazer a cabeça do Conan até que foi fácil, mas agora, quase cinco horas depois da sua saída, queria gritar comigo mesmo por meter o dedo nas coisas da Manuella. Fechei os punhos novamente e continuei a andar. A noite estava fria, era quase quatro da manhã e parecia que a pouca chuva que caia lá fora congelava o piso da casa. Bufei de raiva. Eu estava de pés descalços, com um pijama curto demais e não me importava que a janela de vidro estivesse escancarada... eu só precisava saber o que estava acontecendo lá fora!

O dia não tinha começado bem. Não. Talvez a semana não tivesse começado bem... parei novamente de frente a parede e me virei voltando a andar. Na verdade, tudo, desde que o PL morreu, vinha dando errado. Passei a mão suada contra a roupa e fechei os punhos novamente. Há seis meses o PL havia morrido, há três eu e a Manuella havíamos parado dentro da favela do Turano com uma bolsa de cocaína na mala do carro. Sem o Conan saber, sem o 2K ter ideia, a Manuella tinha feito um acordo com o chefe do tráfico do Turano e dado início a um reinado solido. Um reinado que crescia sem controle e sem qualquer indício do fim.

Um vento frio me fez xingar e segurei no sofá quando o pânico ameaçou me dominar. A Manuella era a minha cunhada, irmã do homem que eu amava, do homem mais louco e controlador que já tinha comandado o tráfico do Vidigal. Os dois se amavam e se odiavam numa intensidade que nunca pensei que fosse possível, e, depois que o PL se foi, tudo entre os dois parecia ser uma guerra, viver ao lado do dois era como está no meio de um cabo de guerra, nenhum de nós sabia qual era o lado que ia arrebentar primeiro.

Fazia mais de um ano que eu havia entrado pra aquela família, eu e a minha filha, a Flavia, devíamos a vida a eles... principalmente a Manuella e ao Conan. A Manú tinha me encontrado e o Conan havia sido o responsável pela minha liberdade, pela vida cheia de amor e esperança que eu tinha agora. Mesmo hoje eu sendo feliz longe de tudo que eu vivi nas mãos do Trek, está no Vidigal como a mulher do Chefe me deixava em completo alerta, principalmente quando a irmã dele fazia de tudo pra ser seu concorrente naquele reinado.

A Manuella era tudo, menos dócil, doce, fofa e meiga. A Manú antes do PL, era controlável, hoje era ela que controlava tudo ao seu redor. Talvez fosse isso que deixava o Conan em completo desespero. A Manú era a pessoa que você pedia ajuda quando entrava em um problema, ela podia ser amiga, verdadeira e justa, mas era a pior pessoa para se bater de frente. Ela era a junção do PL e do Conan... as duas pessoas mais temidas e cruéis do Rio de Janeiro. Larguei o sofá e me equilibrei tentando voltar a andar, porém, só dei três passos antes do barulho alto me fazer derrapar.

Meu ar se foi e me virei pra janela, o portão de entrada se escancarava e vi os dois entrando apressados. O problema nem foi o Cabeça quase gritando, mas o Conan... a sua camiseta cinza de manga longa estava completamente vermelha. O chão embaixo dos meus pés se abriu e eu paralisei.

— Foi pra ela! Estão atrás dela e só eu que tô vendo essa parada!

— Aquela bala não foi pra ela! Ela estava do meu lado! — Ouvi o Conan gritar de volta enquanto se aproximavam da casa. — Aquela merda foi disparada contra um vagabundo qualquer e a porra daquele bosta entrou na frente. — O Cabeça bufou.

— E tu acredita nessa parada aí?

Vi o Conan girar pronto pra começar a gritar, mas no mesmo momento o portão se abriu novamente. Só que dessa vez o meu corpo inteiro estremeceu quando notei os dois principais seguranças da Manuella entrar de fuzil na mão, aquilo parecia ainda mais aterrorizante. O 2K estava sem camisa, seu corpo negro brilhava com chuva e sangue, já o Berg, que vinha pouco passos atrás, falava apressado num celular, com tanto sangue quanto o 2K.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora