CAPÍTULO NOVE

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PAULO

Depois de ver a Manú comemorar aquela parceria tomando a porcaria de um copo inteiro de whisky, saí da sala e me posicionei do lado de fora. Só que ainda ouvi ela reclamar daquela maldita mercadoria que ele começava a distribuir. Eu sabia da movimentação que ela fazia aqui fora, mas não sabia que os dois tinham aquela intimidade toda. Uma intimidade tão fodida que ele perdeu algumas embalagens de pó só pra ela observar o brilho contra a mesa. Fiquei na porta vendo os dois conversarem sobre aquela merda e quase enfiarem dentro do nariz. Não foi nada divertido ouvi ela resmungar sobre cristais, sobre como aquela merda era diferente e cheirava a cola.

Que se fodesse aquela merda! Quem se importava com o que os cracudo cheirava?!

Deixei os dois sozinhos durante alguns minutos antes deles saírem. Ela se colocou ao meu lado sem falar nada e ele entrou em um dos carros e sumiu com o outro vagabundo que tava de guarda. Assim que o carro desapareceu, ela começou a bater o pé no chão com força. O salto fazia barulho contra as pedras e chamava mais atenção sobre ela. Cruzei os braços encarando mais um desavisado, suicida e filho da puta que passava e a encarava!

Eu deveria morrer. Vai lá seu imbecil! Enfia uma saia nela pensando só na facilidade de tirar depois!

Em pouquíssimo tempo um carro parou a esquerda e encarei os dois que saiam, um deles era meu. Aquele que eu queria a porra da cabeça. Nem era por ter colocado a mão nela... era sim, mas não era só por isso. Não tinha ido com a cara do infeliz. Quando escolhi entrar na porra daquele mundo eu era um pau mandado. Baixava a cabeça pra um monte de filho da puta, recebia ordem calado e fazia de tudo pra crescer... aquela desgraça não tava querendo crescer. Tava querendo foder com a vida de geral.

— Não vou fugir, PL. — Olhei pro lado vendo os olhos azuis em mim. — A sua mão. — Abri o punho que prendia a sua cintura e tentei respirar. Em que momento eu a tinha agarrado? Bufei e voltei a olhar pra frente.

Estar ali era como se eu estivesse preso com as mãos amarradas e sem armas. Eu não tinha comando mais. Nem a Rocinha, nem o Alemão e muito menos o apoio do ogro. As únicas pessoas que estavam ali, os três, me obedeciam pelo dinheiro e não pelo respeito que eu tinha conquistado. Eu havia perdido a porra toda. Meus homens, meu dinheiro, meu comando, minha casa e... Olhei pra Manú de braços cruzando e seu pé batendo contra o chão... em certos momentos parecia até que eu tinha perdido a minha mulher. Olhei pra parede a minha frente. Homens começavam a fazer fila pra comprar aquela coisa na mesa.

Subir o morro do Turano tinha me feito só ter certeza de uma coisa. A Manuella não precisava tanto de mim assim, ela realmente havia ganhado o respeito daqueles vagabundo! Sozinha!

— PL! — Olhei pra ela irritado. Ela segurava minha mão contra a sua cintura. — Você vai me esmagar desse jeito!

Abri os dedos pela segunda vez sem perceber que a havia agarrado, mas trouxe ela mais pra perto dessa vez, encostando suas costas em meu peito. Meu coração batia descontrolado e eu nem entendia por quê. Nunca tive medo de subir morro nenhum! Também! Nunca precisei subir favela com três filho da puta que servia a outro! Eu não tinha mais poder nenhum! Deveria ser por isso que ela tava querendo me socar toda vez que me olhava. Ela percebia que desviava os olhos pro chão toda vez que eu pegava ela me olhando? Ela percebia que nunca me tocava com a necessidade que eu precisava? Ela tinha se escondido de mim no dia anterior! Qual era a porra do problema?!

— Caralho! — Ela xingou e se virou nos meus braços. — Eu vou te socar, juro por Deus! Por que tá me apertando tanto?

Encarei seus olhos sem falar. Eram lindos. Eu sentia falta daqueles olhos, daquela boca, das suas mãos. Desci os olhos pelo seu pescoço, recebendo boas-vindas do montante saindo do decote rosa. Ela era a porra da minha mulher!

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora