43_ Teddy

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ㅡ Er... ㅡ Jamal coçou a cabeça, sentindo o clima pesado que ficou no apartamento. ㅡ Eu acho que já vou indo. ㅡ Ele pegou a mochila e sumiu pela porta, me deixando sozinha com Aila, que estava respirando fundo desde que Bela saiu.

Comecei a guardar minhas coisas na mochila e ajudei a levar as louças para a cozinha, das coisas que tínhamos comido enquanto fazíamos o trabalho.

ㅡ Sobre o que eu falei sobre o seu corpo... ㅡ Aila quebrou o silêncio enquanto lavava as louças. ㅡ Eu sinto muito. ㅡ Ela parou e ficou apenas encarando a pia. ㅡ Eu estava tendo umas crises e... Não devia ter falado o que eu falei. A verdade é que somos um pouco parecidas, mas você tem muito mais corpo do que eu e eu me senti insegura. Depois você começou a andar com o James, que eu nem gostava de verdade, mas estava nas minhas " metas ".

ㅡ Suas metas?

ㅡ Eu mudei de escola. Estava em outra, do outro lado da cidade, no ano passado. Eu meio que sofria bullying e por isso minha mãe me mudou de colégio. Decidi no início do semestre que seria diferente. Que seria popular, animadora, namoraria o cara mais popular e tudo seria diferente. Até tinha esperanças de ser a rainha do baile de primavera.

ㅡ Você vai ser a rainha do baile de primavera. ㅡ Me escorei na mesa. ㅡ Pode ter sido insuportável, mas ainda é a mais popular.

Aila olhou para mim e começou a rir de minhas palavras.

ㅡ Me desculpa. Eu ainda quero ter um bom ano letivo, não quero ter outro ano como o ano passado. ㅡ Aila suspirou. ㅡ Mas, prometo não ser mais tão escrota. E eu quero deixar claro que não tenho nenhum interesse no James.

ㅡ O que te fez mudar de ideia? ㅡ Cruzei os braços.

ㅡ Eu percebi que ficaria sozinha se continuasse sendo a babaca que estava sendo. Assim como a sua amiga, Bela. Sabe que ela é uma típica pick me girl, né? Não sei como aguentam ela. ㅡ Aila voltou a lavar a louça.

Eu não disse nada, mas meus olhos concordaram com ela. Senti o meu celular vibrar no bolso e o peguei. Era uma ligação da Maria.

ㅡ Preciso de você. ㅡ Ela falou assim que atendeu a ligação.

ㅡ Por que? O que aconteceu?

ㅡ Nada de mais, só estou entediada. Vou te mandar a localização.

ㅡ Eu to na casa da Aila, acabamos o trabalho agora. ㅡ Peguei minha mochila.

ㅡ A Bela ta com vocês? ㅡ Pelo tom de Maria, ela queria que a resposta fosse não.

ㅡ Não.

ㅡ Ótimo, pode trazer a Aila também. ㅡ Maria desligou a chamada e eu olhei para Aila, surpresa com o pedido.

ㅡ Maria ta me chamando pra ir sei lá aonde e me pediu pra levar você também. ㅡ Aila fez uma careta.

ㅡ Isso é um modo de dizer que ela vai me matar? ㅡ Ri de sua pergunta.

ㅡ Não sei, não. Mas, se você não for, ela vem te buscar.

Aila e eu saímos do apartamento dela e fomos em direção a localização que Maria havia mandado. Era uma casa. Uma casa bonita com gramado verde e bandeira dos Estados Unidos.

ㅡ Ela mora aqui? ㅡ Aila perguntou.

ㅡ Não. ㅡ Respondi estranhando a localização.

Já era noite e eu toquei a campainha da casa, morrendo de medo que fosse a localização errada. Quando Maria abriu a porta, fiquei aliviada.

ㅡ Graças a Deus vocês chegaram. ㅡ Maria deu espaço para entrarmos. ㅡ Eu to morrendo de tédio.

ㅡ De quem é essa casa? ㅡ Olhei em volta, parecia uma casa normal, familiar.

ㅡ Eu conheci um carinha a umas semanas atrás e nós voltamos a conversar hoje. Ele me pediu um favor e eu estava tão carente hoje que aceitei. ㅡ Ela nos guiou até a sala de estar, onde uma menina que devia ter uns seis anos, estava sentada no tapete, desenhando na mesa de centro. ㅡ Essa é a irmã dele. Estou de babá.

ㅡ Você se mete em cada coisa. ㅡ A garotinha olhou para nós e acenou com um sorriso. ㅡ Por que chamou a gente?

ㅡ Porque estou entediada. Ela só fica desenhando e eu estou sem internet. ㅡ Ela bufou.

ㅡ Ta aqui a muito tempo? ㅡ Aila perguntou.

ㅡ Dez minutos. ㅡ Maria se jogou no sofá, ao lado da menina.

Aila e eu nos entre olhamos e rimos do drama.

ㅡ Olha, tia Maria. ㅡ A garotinha entregou um papel para Maria.

ㅡ Que lindo, Luen... ㅡ Maria analisou o desenho com um sorriso, porém seu brilho foi desaparecendo aos poucos. ㅡ Quem são?

Aila e eu nos aproximamos para ver o desenho.

ㅡ Essa sou eu. ㅡ A garotinha apontou para um dos bonecos no desenho, a menor com maria Chiquinha no cabelo. ㅡ Esse é meu irmão. Esse é meu pai. Essa é minha mãe. Essa é você. E esse é o Teddy. ㅡ Ela apontou para um bonecos em particular no canto, simplesmente pendurado por uma corda no pescoço.

ㅡ Teddy? Quem é Teddy? ㅡ Maria entregou o desenho de volta.

ㅡ Meu melhor amigo. ㅡ A garotinha voltou a desenhar.

ㅡ Seu melhor amigo? ㅡ Aila perguntou induzindo a menina a falar mais.

ㅡ É, ele morava aqui na minha casa. Mas, ele morreu. ㅡ Maria deu um pulo do sofá.

ㅡ Ta repreendido, eu to indo embora. ㅡ Maria deixou a sala.

ㅡ Maria? Não pode deixar a garota sozinha. ㅡ Corremos atrás dela.

ㅡ Eu não vou ficar com essa menina do capeta. ㅡ Ela respondeu balançando a cabeça.

ㅡ Tadinha. ㅡ Aila gargalhou.

ㅡ A menina tem um melhor amigo enforcado que morou aqui e morreu? Eu não vou ficar aqui. Daqui a pouco Teddy aparece aqui e eu sou muito bonita pra morrer. ㅡ Maria pegou o casaco que estava pendurado e começou a vestir.

ㅡ É coisa de criança, Maria. Eu também tive amigos imaginários. ㅡ Aila deu com os ombros.

ㅡ Eu também, mas a minha amiga imaginária era uma garota de dez anos que brincava comigo, não uma criança que morreu enforcada. ㅡ Maria cruzou os braços em negação.

ㅡ Tia Maria? ㅡ A menina voltou a falar com ela da sala. ㅡ O Teddy quer brincar com você.

ㅡ Ta amarrado! ㅡ Maria fez o sinal da cruz na frente do rosto e pegou o celular. ㅡ Eu vou ligar pro irmão dessa criança agora.

As luzes da casa se apagaram, o que fez Maria deixar de ser a única com medo. Aila agarrou o meu braço e Maria soltou um grito.

ㅡ Luen! ㅡ Maria gritou. ㅡ Por que apagou a luz?

ㅡ Não foi eu! Foi o Teddy! ㅡ A criança gritou já perto de nós.

ㅡ Tchau pra vocês. ㅡ Maria abriu a porta de entrada da casa. ㅡ Alô? Jonny? Pode voltar pra casa agora e ficar com a sua irmã. ㅡ Ela exclamou ao telefone saindo da casa. Nós, obviamente, a seguimos. ㅡ Problema é seu! Você não me contou que o diabo morava na sua casa.

ㅡ Diabo? Que que isso? ㅡ A menina apareceu na porta.

ㅡ É o Teddy. ㅡ Maria respondeu.

ㅡ Não sei quem vai sair mais traumatizada dessa história, a Maria ou a criança. ㅡ Aila riu.

ㅡ O Teddy ta na escada. Ele não encosta os pés no chão. ㅡ A menina disse, voltando a atrair nossos olhares para ela.

ㅡ Alguém tira essa criança de perto de mim? ㅡ Maria foi para a calçada.

Acabou que ficamos com a criança até o irmão dela chegar. Maria o xingou e foi embora deixando o cara sem entender nada. Aila e eu nunca rimos tanto na vida.

•••
Continua...

Coração em Jogo Onde histórias criam vida. Descubra agora