- Eu tinha que dizer alguma coisa - responde ela, na defensiva. Você ficou parada como uma árvore! De nada.
Espero alguns minutos para garantir que Ryle teve tempo de ir embora. Vou até a frente da floricultura para ver se o carro dele realmente não está mais lá. Então ando tristemente até meu escritório e me dirijo ao armário para avisar a Atlas que ele está a salvo. Expiro antes de abrir a porta.
Atlas está aguardando pacientemente, encostado numa estante de braços cruzados, como se ficar escondido num armário não o incomodasse nem um pouco.
-Me desculpe.
Não sei quantas vezes vou precisar me desculpar para compensar o que acabei de pedir que fizesse, mas estou disposta a dizer isso mais umas mil vezes.
-Ele já foi?
Faço que sim, mas, em vez de sair do armário, Atlas segura minha mão, me puxa para perto e fecha a porta.
Agora nós dois estamos no armário.
No armário escuro. Mas não tão escuro assim: consigo ver o brilho em seus olhos indicando que ele está se segurando para não sorrir. Talvez ele não me deteste tanto assim pelo que fiz.
Atlas solta minha mão, mas está tão apertado para nós dois aqui dentro que partes dele roçam em partes minhas. Sinto um frio na barriga, então pressiono as costas na estante atrás de mim, tentando não me apertar contra ele, mas parece que ele está me cobrindo como um cobertor macio. Ele está tão próximo que consigo sentir o cheiro do seu xampu. Com muita calma, tento respirar para diminuir o nervosismo.
-E então? Posso? - pergunta ele, a voz um sussurro.
Não faço ideia do que ele está me perguntando, mas quero responder veementemente que sim. Em vez de aceitar algo que nem sei o que é, conto na minha cabeça até três. Então digo:
-Pode o quê?
-Te ligar hoje à noite.
Ah. Ele voltou à conversa que estávamos tendo lá na frente, como se Ryle nem tivesse nos interrompido.
Mordo o lábio, querendo dizer sim, pois quero que Atlas me ligue. Mas também quero que Atlas saiba que escondê-lo de Ryle dentro de um armário provavelmente já reflete como será o restante das nossas interações, já que Ryle sempre estará por perto devido ao fato de termos uma filha.
-Atlas... - digo seu nome como se fosse falar algo terrível depois, mas ele me interrompe.
Lily - responde ele sorrindo, como se nada que eu pudesse dizer depois do seu nome conseguisse ser terrível.
-Minha vida é complicada.
Não queria que isso parecesse um alerta, mas é o que acontece.
-Quero te ajudar a descomplicá-la.
-Temo que sua presença vá complicá-la ainda mais.
Ele ergue a sobrancelha.
-Vai complicar a sua vida ou a de Ryle?
-Todas as complicações dele se tornam minhas. Ele é o pai da minha filha.
Atlas abaixa a cabeça só um pouco.
Exatamente. Ele é o pai dela. Não é seu marido, então você não deveria deixar sua preocupação com os sentimentos dele convencê-la a desistir do que seria a segunda melhor coisa que já te aconteceu.
Ele diz isso com tanta convicção que parece que meu coração está despencando no meu peito. A segunda melhor coisa que já me aconteceu? Adoraria que essa confiança que ele tem em nós fosse contagiosa.
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É assim que começa
RomanceLily e Ryle acabaram de chegar a um acordo civil para a guarda conjunta da filha, Emerson, quando Lily repentinamente esbarra em Atlas, quase dois anos após terem se falado pela última vez. Feliz que o timing finalmente parece estar favorável para q...