CLARICE FECHOU OS OLHOS Tristemente enquanto encarava a sala fechada. Paredes brancas e uma porta trancada, apenas uma manopla de vidro quadricular para que seus pais pudessem ficar de olho em seu experimento mais perfeito já criado.Clarice Hildegard não passava de nada, além disso. Um experimento. Pois era assim que eles à enxergavam. Um objeto de testes. Ainda que isso lhe deixasse por um fio de finalmente morrer e escapar do seu inferno pessoal.
Ela estava cansada. Cada mísero muscúlo do seu corpo doía, implorando por uma noite de sono tranquila e sem as luzes da sua prisão ardendo seus olhos como lâmpadas neon coloridas.
Ela estava zonza. Isolada de sua própria vida do lado de fora, crente na descrença das mentiras que eles lhe diziam. E por mais que ela tentasse, não conseguia se recusar a aceitar tudo aquilo calada.
Eles conseguiam manipular sua mente de um jeito absurdamente ilusório e incansável, fazendo-a acreditar que estava se sacrificando por todos os seres vivos inocentes do planeta.
Clary tocou seu pulso. Marcas de agulhas e cortes marcados em sua pele branca pálida. Questionando mentalmente o dia em que realmente saiu para fora de sua cela. O dia em que presenciou a cena mais linda de sua pequena e inútil vida.
O pôr do sol. Este que conseguia ser tão encantador quanto nas estórias que lerá nos gigantescos livros de romance e clichês. A amanhecer...se pondo sobre o seu azul piscina, sendo coberto pela camada alaranjada em tons avermelhados.
As poucas imagens que viu lhe lembrariam para sempre daquele dia. Um dos primeiros e raros momentos em que se sentiu livre para fazer o que quiser. Livre de tudo aquilo que lhe prendia naquela tortura interminável que seus próprios pais determinaram para a sua filha Herege.
Donos de uma linhagem que eles acreditaram que havia sido selada à muitos séculos atrás. Pelo menos foi o que eles acharam, até que, aos seis anos de idade ela começou a dar sinais de poderes incessantes. E, ela se arrependeu muito disso. Pois foi um dos motivos pelos quais ela estava lá agora.
Ela sentou-se no chão frio da sala, procurando por um dos seus muitos livros favoritos de fantasia. Ele falava muito sobre fé. Algo que ela tinha demais. O suficiente para doar ou até compartilhar com seus pais, se eles ao menos fossem capazes de sentirem alguma coisa além da ambiciosidade.
A sede de afirmações, projetos, pesquisas...Tudo aquilo que lhes renderia dinheiro. Sempre ocupados com algo que não fosse Clarice clamando por ajuda e liberdade. E quando não era isso, ela estava morrendo por falta de água e alimento. Necessidades básicas de uma adolescente, por mais anormal que ela ainda fosse. Sua existência não era um fardo quando o assunto era espetá-la com fagulhas pontiagudas de lâminas.
Mal imaginava Clarice que sua vida estaria prestes a mudar para sempre naquela noite...Faltava poucos minutos para que finalmente desse a sua hora de jantar, mesmo que sempre estivesse com fome, por conta do tempo que passava presa e também em relação as suas vontades e desejos infantis.
Afinal, ela era somente uma garota tímida, apesar de extrovertida. O mundo ao seu redor não girava em seu eixo, tornando todo o seu destino um pouco mais difícil de compreender. Ainda que tentasse explicar para si mesma o que estava acontecendo, não haviam palavras para descrever.
Pois, nenhum dos seus maiores pesadelos, fora tão aterrorizante, amedrontador e cruél, seria tão impactante quanto a cena que verá à seguir em sua frente. Quando o teto do seu quarto desabou em alguns tijolos de concreto e uma anja surgiu em meio a todo o dano causado na sala.
Seus olhos brilhavam fatalmente em uma cor branca tão luminosa. Parecia se ascender como uma lâmpada. Mas não era daquelas que lhe causavam dor de cabeça à ponto de deixá-la quase cega e sonolenta. Era uma luz fortemente intensa que refletiu dos olhos de Clarice para todos os cantos que ela olhará.
Rapidamente, a anja se aproximou em uma velocidade impressionante. Ela trajava uma armadura dourada e suas asas combinavam com toda a sua vestimenta. Seus cabelos eram pretos e, quando seus olhos cessaram aquele brilho, eles estavam notoriamente castanhos claro.
A mulher agarrou-lhe pela cintura e bateu as asas no chão pegando impulso no ar. Assim que percebeu, Clarice estava flutuando no céu da noite estrelada, e a lua seria a prova viva de mais um dos seus momentos raros de liberdade. Por mais que fosse pouco, comparado ao que ela sonhava.
── Você pode estar surpresa agora, mas acredite no que eu vou te dizer, está bem? ── a mulher perguntou, fitando-a atônita. Clarice assentiu e elas pousaram sobre o solo gélido da estrada coberta por neblina. ── Deus mandou eu lhe salvar das mãos deles. ── a anja apontou para a sua casa, que a alguns quilômetros de longínquidade, perdia sua imagem familiar enquanto a névoa se espalhava arduamente. ── Ei. Não volte para lá, Clarice. Por mais que sejam os seus pais, por favor, não volte.
A loira castanha crispou os lábios avermelhados e encarou a anja de forma curiosa. Deus havia mandado-a para lhe ajudar? Depois de tantos anos, experiências e traumas...Ele finalmente notou-a? E por que não poderá ter feito isso antes? Ela tinha tantas perguntas... E não sabia se aquela mulher teria as respostas que ela queria ouvir.
── Meu nome é Alita. ── a anja tocou os ombros paralisados de Clarice, tomando a atenção dela para si enquanto a garota acordava dos seus devaneios. ── Sim, eu tenho todas as respostas para as suas perguntas. Mas agora, o importante é você ficar segura e ter um lugar para chamar de seu. Diferente dessa prisão.
Clarice concordou com a ideia, ignorando todos os seus pensamentos e dando foco ao que estava bem diante dela. A sua vida. Aquele era definitivamente o seu destino chamando-lhe pelo nome e dizendo-lhe que era a sua vez de aproveitar. A sua chance para recomeçar.
Clarice segurou as mãos oferecidas por Alita, em contentamento com a situação, ela estava segura de si. Crente de que poderia confiar naquela mulher. Afinal, mentir era pecado, e ela era um anjo.
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𝐅𝐀𝐈𝐓𝐇 ── 𝗛𝗼𝗽𝗲 𝗠𝗶𝗸𝗮𝗲𝗹𝘀𝗼𝗻
Fanfiction𝗙𝗘́ ────── ❛ Um resquício de esperança. ❟ 𝐂𝐋𝐀𝐑𝐈𝐂𝐄 𝐇𝐈𝐋𝐃𝐄𝐆𝐀𝐑𝐃 É apenas mais uma adolescente anormal, perdida e solitária, mas, que apesar de todas as marcas, dores e cicatrizes profundas deixadas em sua pele por aqueles que deveriam...