14 | Rosane

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O apartamento da Bárbara era o refúgio onde eu poderia ser eu por algumas horas. O ambiente era totalmente diferente da minha casa com Roberto: era aconchegante, minimalista, mas com aquele toque de luxo discreto que só o Leblon conseguia proporcionar. Sempre que pisava naquele lugar, era como se a tensão do mundo lá fora desaparecesse, mas não hoje.

— A gente não pode continuar assim, Rosane — Bárbara falou, a voz cortante como uma lâmina afiada.

Ela estava de pé na frente do sofá, onde eu estava sentada, com os braços cruzados, a postura tensa. O cabelo loiro dela, sempre impecavelmente arrumado, caía sobre os ombros, brilhando à luz suave que entrava pela janela. Seus olhos, azuis e frios, me atravessavam como se estivessem à procura da verdade que eu não conseguia admitir.

Eu suspirei, sentindo o peso daquela conversa que eu evitava há tanto tempo. Era sempre a mesma coisa quando a gente se encontrava. No começo, era o carinho, o riso, o sexo incrível. Mas, eventualmente, a realidade batia à porta, e a cobrança de Bárbara começava a me sufocar.

— Eu não tô pronta pra isso, Bárbara — tentei argumentar, mas minha voz saiu fraca, como se eu mesma não acreditasse no que estava dizendo.

Ela descruzou os braços e deu um passo à frente, a frustração clara em seu rosto.

— Pronta pra quê? — ela retrucou, a voz se elevando um pouco. — Pra admitir que você gosta de mulher? Que gosta de mim? Ou pra parar de fingir que seu casamento com o Roberto tem algum sentido?

Me mexi no sofá, desconfortável com a direção da conversa. Eu amava estar com Bárbara. O tempo com ela me fazia sentir viva de verdade. E o sexo... o sexo era algo que eu nunca tinha experimentado antes de conhecê-la. Com Roberto, era mecânico, vazio. Com ela, cada toque me levava além de qualquer coisa que eu tinha conhecido.

Mas ao mesmo tempo, eu não conseguia simplesmente deixar Roberto. A gente estava junto há tanto tempo. Dois anos de namoro, dois anos de noivado, oito anos de casamento. Eu construí uma vida com ele, e mesmo que as coisas entre nós estivessem desmoronando, não era tão fácil assim... Não era só sobre amor ou desejo. Era sobre segurança, sobre manter as aparências.

— Você não entende — murmurei, desviando o olhar para a janela, tentando evitar o confronto nos olhos dela. — Eu tô com o Roberto há muito tempo... Não é fácil deixar tudo isso.

Bárbara soltou uma risada amarga, cruzando os braços novamente.

— Não entendo? — ela repetiu, a voz carregada de sarcasmo. — Eu tô me doando pra você há meses, aceitando suas inseguranças, seus joguinhos... Até aceitei participar de um ménage com o Roberto, mesmo odiando homem, só pra te agradar. Você acha que isso é fácil pra mim?

Minha respiração ficou presa na garganta. Ela tinha razão. Eu sabia que estava sendo injusta com ela, empurrando-a para uma situação que ela nunca deveria ter sido forçada a aceitar. Mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia encontrar uma saída. Eu estava perdida, presa entre dois mundos que pareciam irreconciliáveis.

— Bárbara... — comecei, mas ela não me deixou terminar.

— Você odeia ele — ela disparou, se aproximando ainda mais, o rosto agora a poucos centímetros do meu. — Eu sei quando você transa com ele. Sei porque você chega aqui cabisbaixa, com nojo de si mesma, como se tivesse sido obrigada a deitar com o próprio marido. Para de fingir que isso é normal! — A voz dela estava alta agora, quase um grito.

Eu senti as lágrimas queimarem meus olhos, e tentei segurar, mas não consegui. O choro veio com força, como se todas as emoções reprimidas finalmente tivessem explodido dentro de mim. Minhas mãos tremiam, e minha respiração ficou entrecortada enquanto as lágrimas rolavam pelo meu rosto.

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