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Esta história contém spoilers da nova Quest do Xianzhou. Leia por sua conta própria e risco.

Boa leitura ❤️

_____

— Jiaoqiu.

A voz de Moze preencheu o ar, Jiaoqiu encostado no muro enquanto ouvia o som calmante das ondas do mar resvalando nas areias de Scalegorge Waterscape.

As pálpebras fechadas do foxiano escondiam um segredo que apenas ele, Moze e Feixiao sabiam, mas ao mesmo tempo, ele pretendia que assim fosse, não queria que as pessoas em sua volta, afinal, sentissem pena de si.
A mão do foxiano se estendia na direção do horizonte, como se isso o ajudasse a enxergar o que estava para lá da sua visão, mas era impossível que aquilo ajudasse em algo. Ele não poderia simplesmente e do nada ver seu envolvente com a ponta dos dedos, pelo menos não aquilo que não lhe era palpável. A brisa corria suave contra a sua pele e ele podia sentir pelo menos isso junto com o cheiro da maresia que inundava suas narinas de uma forma intensa, mais que antes.

Todos seus sentidos tinham se apurado desde que deixou de poder enxergar as cores do mundo com as suas orbes alaranjadas.
Logo ele voltou à sua realidade,  se voltando na direção de onde a voz do de cabelos cinza, esboçando um sorriso leve, que se chegou a espelhar nos seus olhos.

— Ah, Moze… Eu bem que senti sua presença perto. Desculpe não me ter voltado para o cumprimentar, mas não conseguia discernir de onde você vinha, afinal, você nunca tem um cheiro que me ajude a distinguí-lo na multidão ou mesmo em espaços abertos como este…

Moze soltou um som baixo de reprovação, se apoiando do lado de Jiaoqiu. Ele apenas queria estar ali ao lado do curandeiro, e não sabia muito bem o que falar. Viu as mãos de Jiaoqiu tatearem o muro na sua direção, até que a mão delicada encontrou a sua, o foxiano sorrindo aliviado por ter acertado a direção em que ele estava, mesmo sem ter um aroma que caracterizasse Moze para o identificar mais facilmente por entre os demais.

Talvez ele devesse ter aprendido a encontrar outras formas de percepcionar o mais novo, mas agora era tarde para seus olhos, que apenas viam nublado e escuridão.

A expressão do espião do Yaoqing se fechou, arrancando um ligeiro suspiro do homem, que logo fitou sem graça o foxiano. Como guerreiro das sombras ao serviço da General Feixiao, ele claramente fazia de tudo para não ser detectado pelos demais, e Jiaoqiu sabia disso como ninguém. No entanto, saber da dificuldade do curandeiro foxiano estava quebrando seu coração em mil pedaços, principalmente por aparecer de forma tão furtiva diante dele.

Aos seus olhos, Jiaoqiu era forte, lutador. Nada o afetava e nada o perturbava. Ver o foxiano de cabelos rosados completamente desconsolado, sem a sua energia habitual e até mesmo desmoralizado, quebrava totalmente a imagem que detinha dele e o fazia querer cuidar dele, como no momento em que o encontrou entre a vida e a morte, e prometeu a si mesmo que o traria com vida ate aos curandeiros da comissão de Alquimia do Xianzhou.

Jiaoqiu, num gesto delicado, tateou o braço, os dedos suaves subindo pelas fibras ásepras da vestimenta de Moze, passando pelo seu pescoço, mandíbula, e até chegar no seu rosto, logo ele fazendo o mesmo com a outra mão, os dedos tocando cada milímetro da pele alva. Ele podia na ponta dos seus dedos sentir cada traço do rosto alheio, a distancia da ponta do seu nariz às sobrancelhas, as cavidades dos olhos, que o mais alto fechou, deixnado-o tocar as suas pálpebras. Moze confiava em Jiaoqiu, sendo o único que alguma vez deixaria tocar daquela forma tão íntima para si.
— Você não parece estar muito machucado, Moze. Tem feito os seus curativos de forma correta? Tem se cuidado? Você cheirava a sangue demais… — Jiaoqiu manifestava preocupação na sua voz, mesmo que no fim, ele tivesse sido o que mais perdeu. Foi nesse momento que Moze perdeu sua compostura de durão, apertando-o para si com força medida num abraço que pareceu durar uma eternidade, surpreendendo o curandeiro e até o próprio espião, já que ele não era muito dado a contato físico.

— Você devia se preocupar mais com você, Jiaoqiu… Aeons, você quase… — Moze não ousou terminar a frase, as mãos tremendo na base das costas do foxiano, os dedos longos e calejados pelas armas que utilizava apertando o tecido alvo das roupas alheias. — Eu realmente pensei que poderia ter perdido você.

— Mas não perdeu, Moze… Minha visão foi um pequeno preço a pagar. Ter seu rosto como a última coisa que eu vi, e saber que continuo podendo ouvir o timbre da sua voz, tocar seu rosto e sentir seus lábios, para mim isso é o bastante, assim como o som do mar resvalando nas margens de Scalegorge Waterscape, ou a voz de Feixiao. Para mim, está tudo bem, tudo certo, pelo menos estou vivo.

Ouvir aquelas palavras, carregadas de melancolia que escapavam da boca do foxiano, eram como adagas no seu coração. Moze queria que ele pudesse continuar enxergando a beleza do pôr do sol, que ele pudesse continuar cozinhando seus pratos bizarros, que ele pudesse ver a beleza das flores quando elas desabrocham.

Era injusto demais, ainda que tivesse sido por um bem maior.

— Jiaoqiu… — Moze falou baixo, subindo uma das suas mãos ao rosto do foxiano, e acariciou a sua bochecha enquanto encostava a testa na alheia. A respiração quente e o aroma de menta que exalava do seu hálito inundaram as narinas de Jiaoqiu, ele conhecia bem aquele cheiro, tão familiar, das vezes que teve a ocasião de provar aqueles lábios, ainda que antes, fossem só provocações unilaterais da sua parte. O foxiano adorava atiçar o xianzhouita, mas naquele momento, ele só queria que pelo menos uma vez, seus atos tentadores fossem retribuídos.

— Moze… Eu estou aqui. Não irei a lado algum. — Falou baixo, ele próprio mantendo a sua mão trêmula na bochecha alheia. Moze se aproximou um pouco, depositando um beijo casto e demorado nos lábios do curandeiro, que ganhou um rubor no seu rosto.

O toque foi cuidadoso, inesperado. O sabor de menta permeou seus lábios e trouxe frescura para si. Jiaoqiu o retribuiu, sem tirar a mão da sua bochecha, a acariciando por todo aquele momento em que se permitiram trocar aquela carícia tão gentil, apenas se afastando para que o ar pudesse voltar aos pulmões de ambos.

— Me deixe então fazer parte da sua sinfonia de sons e toques. Eu serei seu guia. Eu não vou deixar você sozinho. Não mais. — Moze falou num tom baixo. — Eu não vou deixar você lutar sozinho nunca mais, você pode contar comigo para tudo.

Jiaoqiu se surpreendeu por aquela atitude de Moze, chegando até a abrir os olhos, ainda que suas orbes carmesim sequer enxergassem o rosto alheio; mas ao mesmo tempo, se sentiu aconchegado, amado.
Ele apenas esboçou o seu sorriso mais gentil, se deixando encostar no peitoral do homem, focando nas batidas reconfortantes do coração dele.

A caminhada tinha sido longa, e ele se sentia exausto. Afinal, ele tinha fugido do seu leito a contragosto com a vontade de Lingsha e Bailu, que certamente puxaram suas orelhas perante tanto descaso com o seu estado de saúde frágil.

— Vamos tocar nossa própria sinfonia, Moze, aos poucos. — Ele murmurou, deixando-se cochilar ali onde se sentia mais protegido, aconchegado, amado.

Moze apenas pôde suspirar quando o foxiano decidiu adormecer bem ali, o pegando no colo, de forma a poder o levar de volta para a Comissão de Alquimia, para que ele pudesse se recuperar adequadamente.

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Let Me Be Part Of Your Symphony (MozeQiu)Onde histórias criam vida. Descubra agora