Rock me • Hyunlix.

One.

Subindo as escadas de madeira, acima dos sons de rangidos ocasionais da construção, era possível ouvir uma melodia suave e parcialmente abafada, junto com uma voz macia e claramente infantil, porém muito bem consistente. O sorriso nos lábios de Hyunjin chegou automaticamente.

Aproximando-se da última porta no final do corredor, que estava entreaberta, a voz se tornava mais nítida e ainda mais bonita, como uma carícia aos ouvidos do ômega. Seria uma pena interromper algo tão agradável e que claramente demandava concentração; foi com isso em mente que ele decidiu esperar ali do lado de fora, onde poderia apreciar sem atrapalhar.

Somente quando a melodia chegou ao fim foi que o garoto decidiu entrar no quarto após uma única batida contra a madeira de sua porta, um sorriso brilhante estampado em seu rosto.

— Chan hyung, a cada dia que passa você fica mais parecido com um artista de verdade – o garotinho de apenas sete anos exclamou, o sorriso largo destacando o pequeno espaço onde havia caído um de seus dentes de leite.

Pego de surpresa, o alfa se virou de onde tinha desligado a música de seu pequeno rádio portátil, mas rapidamente sorriu de volta para o mais novo.

— Obrigada, primo! É bom saber que com dez anos eu já sou capaz de parecer profissional – respondeu, estufando o peito magro como um alfa orgulhoso, o que arrancou uma risada escandalosa do Hwang.

Crianças. Elas realmente viam graça em tudo, coisa que as pessoas com certeza sentiam falta em algum momento da vida adulta. Chan só não conseguia imaginar aquilo acontecendo com Hyunjin, ou com ele mesmo.

— Se continuar assim, você vai ultrapassar todos os artistas que tocam na rádio hoje em dia e vai ser o número um do mundo todo, tenho certeza – Hyunjin afirmou, assentindo com a cabeça como se estivesse contando a informação mais séria de sua vida, as sobrancelhas franzidas para demonstrar o sentimento.

Foi a vez de Chan rir da determinação do primo, porém com o coração quentinho no peito ao perceber o quanto Hyunjin o admirava. O pequeno era quase como um terceiro irmão pra ele, então era muito importante saber que poderia acabar se tornando uma referência para o ômega, um motivo para fazê-lo se orgulhar.

— E você vai ser o primeiro a ouvir meu álbum de lançamento, e também terá entrada vip para todos os meus shows – Chan acrescentou, assentindo também com a expressão de seriedade.

— Com certeza, não espero menos que isso, até porque eu sempre vou ser seu fã número um, hyung, nunca se esqueça disso – ele voltou a sorrir, dessa vez com um brilho nos olhos que fez o alfa ter a certeza de que estava no caminho certo, mesmo com tão pouca idade.

Sentado no balanço do lado de fora da casa enquanto assistia o sol se pondo, a visão embaçada pelas lágrimas, Hyunjin ignorava as rajadas de vento que faziam seu rosto doer, muito anestesiado pelo aperto quase sufocante em seu peito para prestar atenção ou se importar com qualquer outra coisa.

O dia tinha começado tão bem, ele tinha tirado a maior nota da classe em biologia e tinha recebido elogios de sua professora de dança, além de ter sido convidado para participar de uma apresentação especial que teria no fim do ano. E o melhor de tudo, sua professora tinha lhe indicado para uma vaga de meio período como auxiliar de dança para crianças em uma escola. Estava explodindo de alegria e orgulho de si mesmo, ainda mais empolgado com a ideia de poder contar tudo para o primo, seu maior confidente, e aquele a quem Hyunjin sempre buscava aprovação, como se precisasse deixar Chan orgulhoso acima de todas as pessoas.

Ele sabia que a razão por trás de tudo aquilo era porque sempre tinha tido Chan como um exemplo em sua vida. Tinha perdido o pai alfa muito cedo, e apesar de ter uma mãe incrível, o primo acabou sendo sua idealização e inspiração de uma figura masculina, principalmente porque Chan sempre tinha sido esforçado, determinado, um excelente filho e irmão mais velho de dois - três se fosse contar com ele - e também sempre correndo atrás de seus sonhos, usando a maior parte de seu tempo livre para produzir músicas independentes que se tornavam melhores a cada dia.