[EM ANDAMENTO]
Cotidiano é, como diria o nosso sábio Chico, todo dia fazer tudo sempre igual. Mas... até que ponto isso nos impede de (re)viver e recordar? E quanto aos detalhes, o que fazemos com eles?
Quanto tempo dedicamos aos sonhos engavetados...
" Vamos falar sobre a brisa? Gelada, quente; derradeira, virtuosa Tão suave, normalmente... Sinto que através dela meu espírito em deleite desliza Tem duas faces, é claro Às vezes mal se sente! Não que eu a esteja julgando Talvez essa seja a forma inconfundível pela qual ela se encontre De fato, nem sei do que estou falando... Mas poesia não precisa ser sempre incrível. "
Veja. Hoje mesmo, uma menina muito amável do consultório que eu faço estágio me entregou uma folha e, muito firmemente, disse:
" — Leia somente em casa, tudo bem? Aindasintouma pressão enorme nas expressões alheias quando leem ou observam algo que eu fiz."
Longe de mim contradizê-la.
É o meu trabalho e gosto muito de acompanhar a evolução das pessoas que cruzam a porta da clínica. São grandiosos passos. A maioria, por si só, silenciosamente colossais. De um barulho inaudível aos mais ignorantes. E tudo certo. Às vezes, só você e eu precisamos reparar neles.
Aquela menina mostrou interesse na escrita como meio de expressão. E isso me fez olhar para dentro um pouco, lembrar-me de velhos e gostosos hábitos que se esconderam em um baú com algumas roupas fora de moda.
Pessoas são mesmo marcantes, né? Querendo ou não, aprendemos mais com eles do que o oposto. Minha função é dar direções, orientar, ser um porto (e alguém) seguro para ouvir quem precisa falar. Ou para quem precisa ficar em silêncio. Tudo bem para mim também. E eu gostei de trabalhar dessa forma, com coisas lúdicas. Bem pessoais.
Comecei a escrever também. E parei de só alisar as minhas pranchas encardidas – as quais tenho demasiado apego e carinho insubstituíveis.
Enfim! Mais um dia sendo um dia.
Em anexo, segue o poema da minha querida e talentosa "Margarida" – com um falso nome e verdadeiro consentimento para tal publicação.
Erva-doce
"Eu não estou aqui de verdade, Ângela – afirmei.
Eu nunca estive Ando tropeçando por aí desde que meus pés encontraram o chão pela primeira vez É claro, a gente “vive” Suspira, respira, inspira, gira… Mas o mundo parece sofrer de uma eterna surdez! Você sabe disso, é claro Quando lhe escapam as cordas, os nós, eu me refiro…você sempre pira Não falo por mal, sabe? Mas é toda vez
É um fato engraçado (qual?) A forma como você se agita sem piscar A careta torta que se forma quando algo na pintura dá errado Ou o jeito que insiste em batucar os dedos para pensar… Até que, de repente, você também percebe: Poetas não nasceram para se espremerem em algum tipo de quadrado.
Eu tentei tocá-la, buscando uma reação Aparentemente, o tato lhe fugia nesses momentos Não conseguia alcançar seus ouvidos, Outrora tão atentos e com aquela típica gana por emoção Entendia porque, naquela noite, eu a vi se retorcendo de dor no coração… Sabe, o sufoco dos sentimentos Aqueles que transbordavam de uma alma doce, com fome do viver (quase sempre) Os olhos, tão sensíveis aos carentes de compreensão, de repente se afogaram O que ela via, ouvia, sentia, dizia… Agora, eu sei: era o que ela também precisava receber.
Ângela, tudo perdeu a cor Você fervia de espírito, de magia, de criatividades, de amor… As malas abarrotadas de flores e sonhos Seja lá para onde tenha partido Almejo que seja uma sociedade mais viva Tão imprudente, rebelde e astuta como também sabia ser Seus registros, essa sua mania de escrever tão invertido! Enfim, um lugar que finalmente mereça te receber.
Procure, em algum espelho, se olhar Você sempre soube Eu não estou aqui Sou apenas um reflexo falante com quem você costumava conversar Em uma outra ocasião (vida), por favor… Se puder, querida, escolha ficar. "
★
Atualização breve:
Provei um sabor diferente de sorvete na beira-mar hoje. Kiwi. Recomendo!
Meu dia correu tranquilamente, entretanto, nada foi tão satisfatório quanto molhar os pés. A água, como sempre, lavou para bem longe o que quer que tivesse de filtrar. Deixou um arrepio e uma vontade de sair de lá saltando pelo frio inesperado.
Nada de surfe. Só telenovelas e uma dose de insulina para ficar esperto. E é isso, feliz quarta-feira e meio/fim de semana. Abraços!
– Com amor, Yoongi.
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