CAPÍTULO DOZE

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De todos os dons da humanidade, o maior deles é a capacidade de perdoar. Perdoar a si próprio. Olhar pra trás, ver os erros cometidos, e acreditar que tudo de ruim teve um propósito. Você não erra porque é ruim demais pra ver a coisa certa, não. Você erra porque acreditava que aquela era a coisa certa. Você acredita que precisa procurar o seu filho até a última moeda do seu bolso. Acredita que sua filha merece algo melhor do que um pai culpado, um pai que escolheu o passado do que viver um futuro por ela... com ela.

A cada passo errado é gerado uma consequência... Mesmo a menor que seja. Eu sei as consequências que causei. Sei da forma que mudei a vida de cada um a minha volta, até a vida do Trek eu fui capaz de alterar. Uma pena que nunca vou saber se foi ruim ou bom para ele. Apesar de todos os erros, de todas as merdas que fiz e causei, não vou desistir de seguir o caminho que acho certo... mesmo que no futuro ele seja o errado. A minha vida foi decidida esse tempo todo por causa de alguém. Pra ajudar alguém, pra achar alguém e porque era melhor pra alguém. Hoje, enquanto eu olhava as luzes vermelhas e a minha filha gritando, eu decidia que seria egoísta e pensaria apenas em mim. Na minha felicidade... e não no que seria melhor pra alguém.

— Por favor! — Manuella gritou. — O plano não é esse, o plano não é esse!

Encarei os meus olhos no rosto da mulher que fui capaz de me apaixonar um dia. A Manuella, sendo a cópia exata da mãe, tinha sido a única a me fazer questionar os meus planos. Abandonar uma pessoa pela segunda vez, era cruel demais até pra mim.

— Te contei o que ia fazer, essa é a minha chance. — Sussurrei contra o seu desespero.

— Não! — Ela tentou me empurrar pra trás. — Se "entregar" foi o combinado! Aqui é ser pego em flagrante. Com armas, com drogas e até com o PL no meio! Tem medo de passar 5 anos na cadeia, mas tá tenta se enfiar lá pra passar o resto da vida!

Encarei de novo as suas costas. O PL tentava se aproximar enquanto tiros eram disparados na sua direção, será que todos já sabiam que ele tava vivo? Que meu sacrifício por outra pessoa tinha sido falho de novo?

— Pai! — Olhei pra ela. — Confia em mim! Pelo menos uma vez, não me faz perder você de novo!

Concordei com a cabeça ao mesmo tempo que dois carros paravam na frente da casa, o amigo do PL descia de um de um deles e o 2K do outro. Eu precisava tirar a Luana dali. Olhei de volta pra Manuella.

— O que quer que eu faça? — Ouvi a sua respiração forte e ela se virou.

— 2K, consegue tirar as crianças?! — Ele confirmou com a cabeça. — Quero que mande alguém que confie ir com eles, você fica comigo e com o...

— Você vem comigo! — O PL surgiu e tentou arrastar ela do meu lado, o problema foi a chuva de bala que nós recebemos.

Ouvi os gritos das crianças, o desespero da Luana ao mesmo tempo que todo mundo se jogava no chão. Olhei pra porta procurando uma saída... A Luana estava ali no chão, agarrando a barriga redonda, notei os olhos dela na minha direção. Estavam vermelhos de tanto chorar.

Como eu podia pensar nela se o problema estava em mim?

O terror que vi em seus olhos enquanto me contava da morte do pai, tinha me feito odiar o mundo que eu estava, o mundo que cobrava "matar" a todo instante pra sobreviver. Como eu ia criar o meu filho ali? Com medo de sair do barraco, com medo de deixar a mulher que eu amava sozinha, com medo de entrar em uma guerra como aquela e nunca voltar pra casa, nunca ver meu filho crescer. A prisão era um obstáculo sim, mas 5 anos sem poder tocá-la era mais fácil sobreviver do que o medo de perdê-la pra sempre. E se fossem atrás do meu filho? Se me pegassem numa emboscada entre a polícia e os vagabundo que eu comandava?

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora