SURPRESA

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POV: Lux

— Jinx, casa comigo... — falo encarando minha melhor amiga.

— Comé que é??? — me olha com uma cara de surpresa maior do que eu poderia explicar.

Você deve estar se perguntando como cheguei a esse ponto, não é mesmo? Bom, tudo começou há cerca de uma semana...

Estávamos em um almoço de família no domingo, na casa dos meus pais, os pais e irmã da Jinx, a própria e meu irmão também estavam. Nossos pais se conhecem desde a escola, então, por tabela, viramos amigas e somos coladas desde a infância. Bom, continuando, foi um final de semana bem tranquilo e divertido, nossas famílias se reúnem uma vez no mês para esse tipo de evento. Quando chegou a tarde, por volta das 18:30, todos foram embora e eu também decidi ir, sim, eu não moro com meus pais. Como eu não veio de carro, Jinx resolveu me levar em casa.

Nos despedimos de nossos pais e irmãos e fomos embora, quase todo mundo junto. Já no caminho para casa começamos a falar como havia sido ótimo o fim de semana.

— Hoje foi bem divertido — comenta Jinx.

— Sim, até mesmo quando a Vi e o Garen saíram na porrada. — dei uma divertida risada lembrando da situação.

Vi havia falado que Garen era um frouxo porque não havia falado com a garota de quem ele estava afim e isso deixou ele pistola, e assim começou uma discussão na qual os dois chamavam um ao outro para ir para o tatame resolver isso, a briga foi logo apartada por nossos pais que lhes deram uns belos puxões de orelha, assim os finalmente se aquietaram.

Garen é meu irmão mais velho e Vi é a irmã mais velha de Jinx, eles brigam muito, mas assim como Jinx e eu, eles são muito amigos. Nossos pais até acharam que eles iriam namorar, mas não aconteceu, e quando sugeriram isso para eles só faltaram vomitar.

— Grita, foi muito daora ver eles brigando, mas queria que a porrada comesse a solta — fez um biquinho, fofo, desapontada.

— Qual a novidade? Cê adora ver brigas e participar delas também — falo e nós duas rimos.

Jinx e Vi eram quase idênticas em várias coisas. Jinx sempre foi meio maluquinha e eu até gosto disso, já Vi é mais séria, até certo ponto, só isso que elas se diferem porque de resto é a mesmíssima coisa, as duas adoram uma briga e não fogem delas de jeito nenhum, já perdi a conta de quantas vezes elas foram para na diretoria, Tia Janna e Tio Wander que sofriam com elas, mas nunca as deixou de amá-las.

— Mas fala aí, quem cê acha que ganharia? Eu aposto minhas fichas na Vi — fala toda convencida.

— Tá zoando? Garen iria ganhar com certeza — digo com ainda mais convicção.

— Ha ha ha — deu risada irônica — Vi pode ser menor, mas é mais rápida e também é bem forte, além disso, ela ganhou vários torneios de kick-box e ainda é faixa preta em judô, ela com certeza pode ganhar do gigante do seu irmão — fala olhando para estrada enquanto dirigia.

— Pode até ser, mas foi o Garen quem incentivou ela a lutar judô em primeiro lugar, então não creio que ela ganhe dele assim...

Fomos discutindo isso até chegar na minha casa, e é claro, não chegamos a um consenso, pois nós duas gostávamos demais dos nossos irmãos, era quase uma idolatria, às vezes até acho que é. Enfim em casa, antes de sair do carro nos abraçamos e nos despedimos, antes dela sair me falou uma coisa.

— Em amore, eu não vou tá aqui essa semana, okay? — me abaixo e escoro meu braço na janela do motorista.

— Para onde tu vai muié? — pergunto tentando me lembrar se ela tinha me falado algo, mas nada veio a mente.

— Vou sair num acampamento com o pessoal da empresa, meu pai disse que precisamos estreitar os laços para um melhor trabalho em equipe, ou algo assim. — ela dá um forte suspiro, revira os olhos e continua — Enfim, lá não pega área e nem tem internet, então não vamos poder nos falar... — fala um pouco cabisbaixa.

— Tá bom, então — falo meio triste, adoro conversar com ela durante a semana — quando cê volta?

— Na sexta a noite provavelmente, mas se eu não mandar mensagem é porque eu e minha cama vamos matar saudades uma da outra, então no sábado venho te ver — fala dando um sorriso lindo que só ela tem.

— Vou esperar hein?! — ela assentiu com a cabeça e sorri.

Ela da partida no carro e joga beijinhos no ar para mim, me fazendo sorrir devolvendo os beijinhos. Antes que ela se afaste muito, ela para o carro, abre a janela e grita:

— A Vi ganha! — em seguida sai dando risadas.

— No seu sonho! — grito de volta rindo também.

Entro na minha casa, como disse antes, não moro com meus pais, pois queira ser independente deles e eles super entenderam e até me apoiaram, mas insistiram em me dar essa casa e eu não tinha o direito de recusar. Trabalho na empresa de marketing do meu pai, mas comecei do menor cargo e sem nenhum tipo de regalia, queria conquistar tudo com meu esforço, e assim o fiz, comprei meu carro com meu próprio suor, não passo nenhum tipo de dificuldade, pelo menos não agora, no começo foi difícil, mas era isso que eu queria, desafios.

Após entrar, subo as escadas em direção ao meu quarto, entro no mesmo, abro meu closet, pego um babydoll e uma calcinha box na gaveta, pois acho mais confortável. Fui para o banheiro tomar meu banho e fiquei la por uns 30 minutos, me vesti, passei um creme facial e um hidratante no corpo, é sempre bom cuidar do corpo não é mesmo? Voltei para o andar de baixo e me direcionei à sala e liguei a TV na Netflix e comecei a assistir uma série, Brooklyn Nine-Nine, adoro essa série, essa é a segunda vez que assisto. Pego meu celular para pedir um lanche, não estou afim de cozinhar hoje, peço um x-tudo, que é o que gosto e uma Coca-Cola e fui assistir à série enquanto esperava o lanche chegar.

Passados 20 minutos a campainha toca, estranhei, pois geralmente demora uns 40 minutos para chegar, mas tudo bem porque tô só a fome, nisso já eram 19:45. Fui saltitando e cantarolando abrir a porta imaginando aquele lancha delicioso e aquela coca geladinha descendo na minha garganta, minha boca até encheu de água. Ao abrir a porta não vi ninguém, de início achei que fosse alguma brincadeira de crianças, mas ao olhar para baixo vi uma menininha sentada abraçando suas próprias pernas no degrau da escada que dava em minha porta, ela aparentava ter 2 ou 3 anos, que chorava e soluçava baixinho, Deus, aquilo me quebrou. Ela havia sido abandonada na porta da minha casa, achei que esse tipo de coisa só acontecesse em filmes.

Me abaixei lentamente para não assustá-la, tentando pensar no que eu falaria para ela. A toquei suavemente em seus ombros, foi o momento em que ela olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas, meu coração ficou todo apertado. A menina era uma criança com um tom de pele negra clara, linda, pude notar, apesar da pouca claridade, que seus olhos eram de cor pretos, seus cabelos eram curtos e cacheados amarrados com uma presilha, mas estavam maltratados, assim como o corpo dela. A garota estava magra, havia alguns machucados aparentes em suas pernas e braços, suas roupas estavam sujas e rasgadas, mal cabia nela, o que aconteceu com essa criança?

— Oi, tudo bem? — Pergunto, mas ela não me responde — qual o seu nome? — o silêncio persistia, eu estava quase chorando, mas segurei e fiz mais uma pergunta — e seus pais? Onde estão? — nesse momento ela tirou um papel amassado debaixo de sua blusa e me entregou.

Peguei o papel meio desconfiada, ele estava amassado e sujo. O abri e descobri que, na verdade, era uma carta, provavelmente endereçada a mim. A letra era quase ilegível, fora alguns erros ortográficos. Comecei a ler a carta.

"Oi mim disculpe mais voce podi cuidar da minha filia? Meu marido bate em nois duas e eu num tenhu condissão pra cria ela e nem fugi. Andei vendo voce por dias e vi que era uma boa pesoa, eu queria da uma vida boa pra ela mais não posso por isso eu pesso que cuide dela e mais uma veiz me disculpe. O nome dela é Beatriz, tem 2 anos e meio ela num consegui fala. Fala pra ela que eu amu ela, adeus".

— Meu Deus, o que faço agora?

E foi assim que uma criança entrou e mudou completamente minha vida.

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