Naquela noite, Jake se viu questionando repetidamente o que o havia levado a aceitar o convite de Kyoko para andar de moto. Talvez fosse a cerveja que ele havia tomado, um elemento que lhe parecia agora uma desculpa conveniente para algo que, na verdade, parecia ser uma decisão absurdamente impulsiva.
Ao olhar para trás, parecia claro que ele nunca teria feito algo assim em um estado normal. Primeiro, ele mal conhecia Kyoko; segundo, não tinha ideia se ela era uma motorista prudente; e terceiro, nem mesmo tinham um destino em mente para ir. A sensação de estar ali, deslizando pelas ruas de Montpellier sem um rumo definido, parecia cada vez mais surreal.
Por que ele estava ali?
À medida que a moto acelerava e o vento frio da noite batia em seu rosto, Jake começou a refletir sobre tudo o que havia acontecido naquela noite. O cansaço que o envolvia, a confusão emocional que lhe era tão familiar e a dor constante que parecia seguir cada passo seu. Mas, de repente, com o vento desarrumando seu cabelo e a cidade se transformando em um borrão de luzes e sombras ao seu redor, Jake começou a experimentar algo novo.
Uma sensação de liberdade, pura e inexplorada, tomou conta de seu peito. Era como se, por alguns minutos, todas as suas preocupações se dissipassem e ele se conectasse a uma sensação de grandeza e vastidão, algo que jamais havia conhecido. A liberdade que sentia era como um escape temporário de todas as suas amarras, um vislumbre de algo que parecia mais vasto e mais grandioso do que ele imaginava.
Kyoko acelerou ainda mais, e Jake, guiado por essa nova sensação de liberdade, fez algo que nunca imaginaria: soltou as mãos da cintura dela e abriu os braços. Por um breve momento, ele se sentiu como se estivesse voando. O vento cortava o ar ao seu redor com uma força revitalizante, e a adrenalina pulsava através de suas veias, criando uma sensação de êxtase que lhe fez sorrir e quase rir da própria ousadia.
No entanto, a euforia foi rapidamente acompanhada por um medo crescente. A ideia de cair e se machucar, o medo do desconhecido, começou a subir pela sua espinha. Esse medo fez com que ele se agarrasse à cintura de Kyoko novamente, desta vez com um aperto mais forte, como se a força do aperto pudesse garantir sua segurança e estabilidade.
Apesar do medo, Jake percebeu que aquele momento era, de fato, diferente de tudo o que ele havia vivido. A combinação de liberdade, adrenalina e o medo subjacente criava uma experiência paradoxalmente intensa e reveladora. Ele estava consciente de que, mesmo com o terror de um possível acidente, havia algo de profundamente significativo em sentir-se tão plenamente vivo, mesmo que apenas por um breve momento.
O passeio de moto de Kyoko e Jake se estendeu por horas, com a cidade de Montpellier se desdobrando diante deles em uma sequência de luzes e sombras.
Quando finalmente chegaram ao fim da jornada, Kyoko escolheu parar em frente a uma igreja, uma decisão que parecia ser a conclusão perfeita para uma noite tão cheia de novas descobertas.
A madrugada envolvia a cidade em um manto de tranquilidade, e o tempo parecia ter desacelerado, dando a sensação de que estavam em um momento fora do comum.
Kyoko parou a moto diante da imponente fachada da igreja, seu motor silenciando gradualmente até a quietude antes de tirar o capacete e colocá-lo sob o banco.
Jake desceu com um movimento decidido e, sem hesitar, estendeu a mão para ajudar Kyoko a descer. Ela aceitou o gesto com um sorriso, apreciando a cortesia dele em meio ao cenário noturno.
— Por que decidiu parar aqui? — Jake perguntou, seu olhar curioso se fixando na igreja que se destacava na escuridão.
— Gosto de igrejas — Kyoko respondeu, o brilho nos olhos dela revelando um fascínio que Jake não esperava.
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RIDE OR DIE
Aktuelle LiteraturNo limiar de uma transformação que redefiniu suas vidas, um jovem prodígio em tecnologia e uma estudante de moda com um passado enigmático se encontram no início de uma jornada inesperada. Quando o destino os une, uma teia intrincada de conspiraçõe...