⁵O jogo de poder

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O dia seguinte chegou rápido demais. Eu me encontrei na imponente entrada da Mansão Wayne novamente, o sol ainda subindo lentamente no horizonte. Um vento gelado varria a propriedade, e me fazia ajustar o casaco enquanto me aproximava da porta principal. Toquei a campainha, e, alguns instantes depois, a porta foi aberta por ninguém menos que Alfred Pennyworth.

— Bom dia, senhorita Drake — disse ele com sua costumeira cortesia, mas com um olhar curioso que deixava claro que ele estava avaliando a minha presença.

— Bom dia, Alfred — respondi, tentando soar o mais profissional possível. — Damian já está por aqui?

Alfred sorriu de forma ligeiramente enigmática.

— O jovem senhor Wayne estará descendo em breve. Ele mencionou que a senhorita estaria acompanhando-o a um evento hoje.

Fiz um aceno de cabeça enquanto entrava, os olhos vagando pela luxuosa sala de estar. A mansão parecia ainda mais imponente à luz do dia. Era o lar de segredos e histórias que a maioria das pessoas jamais conheceria. E eu estava prestes a fazer parte de uma delas.

Enquanto esperava, Damian desceu as escadas, com a mesma postura altiva de sempre. Seus olhos verdes brilhavam com aquele tom arrogante que eu já começava a detestar. Ele parecia desconfiado, como se minha presença fosse um incômodo mais do que uma necessidade.

— Astrid, você de novo — ele disse, sem rodeios, seus lábios se curvando em um esboço de sorriso, mas não de um jeito amigável. — Espero que esteja preparada para não interferir hoje.

Eu cruzei os braços, o encarando de volta.

— Estou aqui para fazer meu trabalho, Damian. Não sou eu quem fica entrando em confusão.

Ele deu um pequeno sorriso cínico, se aproximando mais.

— Quem sabe? Talvez hoje você aprenda a diferença entre ser uma detetive e lidar com algo maior do que você pode imaginar.

Minha paciência estava no limite, mas controlei o impulso de responder à altura. Ainda havia muito que eu precisava aprender sobre ele e, principalmente, sobre o papel que desempenhava naquele mundo. Decidi que hoje seria o dia em que eu provaria meu ponto.

No Evento o salão estava lotado. Empresários, políticos e a elite de Gotham se misturavam, trocando sorrisos e acordos disfarçados em conversas cordiais. Bruce Wayne, como o anfitrião, circulava pelo local com a destreza de alguém que estava completamente à vontade naquela arena.

Damian, ao meu lado, se mantinha afastado de toda a atenção. Estava claro que ele não gostava de ser o foco das câmeras, mas sua postura era de alguém que sabia que estava sendo observado. Cada movimento seu era calculado, e embora ele fingisse estar entediado, os olhos varriam o local de forma incessante. Eu estava igualmente atenta, tentando antecipar qualquer ameaça.

Foi então que notei um homem estranho, de terno escuro, se aproximando de nós com passos firmes. Seu rosto estava tenso, e havia algo em seus olhos que me fez imediatamente ficar em alerta.

— Senhor Wayne, posso ter um momento do seu tempo? — Ele perguntou, mas seu tom era forçado, as palavras saindo rápido demais.

Damian o olhou de cima a baixo, claramente desdenhando da abordagem.

— Quem é você? — ele perguntou com frieza, os braços cruzados.

Eu me adiantei, sentindo a tensão crescer a cada segundo. O homem não parecia ser apenas mais um investidor; sua mão direita tremia levemente, e ele evitava me encarar diretamente.

— Senhor Wayne, estou apenas... — O homem começou a gaguejar, sua mão indo rapidamente para dentro do paletó.

Foi como se o tempo desacelerasse. No mesmo instante em que percebi o que ele estava prestes a fazer, já estava me movendo.

— Damian! — gritei, empurrando-o com força antes que ele pudesse reagir.

O homem sacou uma arma, apontando diretamente para Damian. O estalo do disparo ecoou no salão, e eu senti a bala passar raspando pelo meu ombro, o calor do metal queimando minha pele. Em um movimento rápido, desferi um golpe no braço do atirador, fazendo com que ele soltasse a arma antes que pudesse disparar novamente. O caos se espalhou no salão. Gritos e pânico começaram a tomar conta dos convidados enquanto os seguranças se moviam para conter a situação.

Damian, entretanto, se levantou rapidamente, com uma expressão de fúria. Ele me empurrou para o lado, seus olhos verdes faiscando de raiva.

— Você perdeu o controle! — gritou ele, a voz carregada de frustração. — Eu tinha isso sob controle!

— Você estava prestes a levar um tiro, Damian! — retruquei, furiosa. — Isso é o que você chama de controle?

Ele se aproximou mais, o rosto apenas centímetros do meu.

— Eu não preciso de você, Astrid. Nunca precisei. Tudo isso? — Ele apontou para o caos ao nosso redor. — Eu lidaria com isso. Eu sei lidar com isso. Você está apenas no meu caminho.

O nível de raiva que ele irradiava era quase palpável, mas eu não recuaria.

— Você pode pensar que é invencível, Damian, mas você não é. E até que você perceba isso, vai continuar colocando a si mesmo e todos ao seu redor em perigo.

Damian apertou os punhos, seus olhos verdes estavam quase brilhando de tanta raiva, mas antes que pudesse responder, Bruce se aproximou, acompanhado por seguranças.

— O que aconteceu aqui? — perguntou Bruce, a voz calma, mas seus olhos denunciando a preocupação.

— Um idiota com uma arma — respondi, ainda respirando pesadamente. — Tentei protegê-lo, mas Damian acha que não precisa de proteção.

Bruce olhou de Damian para mim, como se estivesse tentando medir o tamanho do problema.

— Astrid está certa — disse Bruce finalmente, sua voz autoritária. — Você precisa dela, Damian. E ela vai continuar ao seu lado, quer você goste ou não.

Damian olhou para o pai, ainda fervendo de raiva, mas não disse nada. Ao invés disso, ele se virou e saiu do salão, sem olhar para trás.

Eu suspirei, sentindo o peso da tensão finalmente me atingir. Bruce se aproximou de mim, colocando uma mão no meu ombro.

— Ele vai entender com o tempo, Astrid. Não leve para o lado pessoal. Damian é... complicado.

Eu dei um leve sorriso de canto, embora ainda estivesse irritada.

— Ele não precisa entender, Bruce. Só precisa parar de ser tão teimoso antes que alguém acabe morto.

Bruce assentiu e olhou para o caos ao redor.

— Isso foi só o começo.

E eu sabia que ele estava certo.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora