Noivos por Acaso

1 • Diego

- Diego, entrei em contato com a importadora, e eles confirmaram que os tecidos franceses chegarão no prazo, sem atrasos - informou Julia, uma das minhas funcionárias mais antigas e praticamente meu braço direito na Brides Look At Me, ao entrar no ateliê onde eu e duas costureiras trabalhávamos.

- Obrigado, Ju - respondi, voltando-me para Ana Clara, minha assistente. - Precisamos ter toda a coleção pronta, nosso prazo está ficando apertado.

- Pode ficar tranquilo, Diego. Quando os tecidos chegarem, toda a modelagem já estará finalizada.

Assenti, agradecendo, mas a preocupação ainda permanecia. Esse era o preço do sucesso. O impacto da última coleção, que havia sido um grande sucesso, elevou a Brides Look At Me a um novo patamar entre a elite da cidade de São Paulo, e sua fama começou a se espalhar pelo país.

Havíamos inaugurado a loja a alguns anos atrás. Nosso público alvo eram mulheres. Mas ao decorrer dos anos, decidi que gostaria de atender especificamente o público LGBTQIAPN+, mulheres lésbicas e mulheres trans.

Em um primeiro momento, as pessoas desacreditaram que daria certo e fizesse sucesso. Atualmente, somos referência!

No último ano, fui convidado para dar entrevistas em vários programas de televisão desse nicho. Foi então que percebi o quanto esse público sentia falta desse atendimento adequado.

Com base na minha própria experiência, sempre procurei tratar o tema com cautela. Meu único desejo era que, independentemente de quem fosse, todos tivessem a oportunidade de encontrar o vestido dos sonhos, que lhes caísse perfeitamente.

As meninas que trabalhavam comigo eram treinadas para nunca deixar as clientes desconfortáveis com algum assunto constrangedor.

Davam opiniões apenas quando era solicitado pela noiva e auxiliavam em situações que envolvessem a família, para não comprometer um dia que era tão importante.

Eu, também sendo da comunidade, sabia o quanto esse momento poderia ser delicado. Mas tinha muito orgulho em saber que minha loja atendia a todas com muito afeto, carinho e cuidado.

Com um pouco mais de dois anos, Brides Look Me At Me já era um grande sucesso, ao decorrer do caminho encontrei pessoas maravilhosas que foram meu suporte durante esse processo, nós fazíamos um trabalho incrível e repleto de diversidade.

Passei por situações delicadas quando era mais jovem, mas fui amadurecendo e entendi que somos todos diferentes e não existe um padrão a ser seguido.

Desde que cheguei em São Paulo, conheci pessoas incríveis, e com elas, pude ter mais liberdade de ser quem eu sou. Agora sou um homem bem resolvido e confiante.

Eu tinha uma boa relação com a minha família, porém, era difícil fazer com que eles entendessem que a vida é muito mais do que casar e ter filhos.

Meu foco sempre foi na minha carreira, e com muito esforço, estava em um ótimo momento profissional.

Eu sempre estive em relacionamentos, mas nada sério. Para minha mãe, a culpa era do trabalho e por não querer me abrir de verdade.

Mas eu sempre tive o pensamento que vida é muito curta para me relacionar com apenas uma pessoa por toda vida.

Esse assunto se tornou ainda mais delicado, depois que minha irmã, Larissa, noivou. Ela havia acabado de se formar em moda.

Nada contra casamentos, afinal, fazia parte do meu trabalho. Porém, eu achava que Larissa era muito nova para casar, construir uma família, sem estar com a carreira consolidada.

Sim, eu desejava ser pai algum dia, mas, acima de tudo, queria que essas crianças crescessem em um lar repleto de amor. A pressão intensa que recebi me fez me afastar cada vez mais de casa, mantendo o contato com minha família o mais restrito possível.