Capítulo 3

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 "Nunca mais eu vou beber desse jeito." É o que eu costumava dizer sempre que acordava no dia seguinte com uma ressaca do caralho. 

 Aquela vez não seria diferente. 

 Suor frio escorria pelo meu corpo e fazia meu cabelo grudar na testa, e mesmo minha visão não estando mais embaçada, o teto girava conforme minha consciência retornava a realidade, mostrando-me que eu me encontrava deitada no sofá do meu apartamento, completamente nua e fedendo a álcool. Todo o meu corpo doia, e a sensação de não me lembrar do motivo de tanta dor era o suficiente para que o ar ameaçasse faltar em meus pulmões.

 Bastou uma respiração um pouco mais profunda para que me estômago embrulhasse. Girei o corpo na tentativa de me levantar, porém eu ainda estava tãso alterada que me desequilibrei no primeiro passo, cai de joelhos no chão com um baque abafado pela pulsação em meus ouvidos e vomitei absolutamente tudo o que eu havia bebido no dia anterior. Ali mesmo, na sala.

 Lágrimas verteram pelos meus olhos sem que eu fosse capaz de controla-las, e foi nesse instante que tudo piorou. Meu coração, que antes ameaçava romper os limites do meu corpo, parou de bater assim que captei o som de passos vindos do pequeno corredor.  Meus músculos se retesaram em antecipação, até que avistei a figura de Guilherme encostada no batente. 

 Assim que nossos olhares se cruzaram, eu sabia que eu estava fodida.

 - Eu te avisei. Não avisei? 

 Desviei os olhos e engatinhei para trás, tentando me afastar do vômito, no entanto, o gosto azedo estava impregnado no meu paladar. 

 - Cadê meu vestido ? - A pergunta foi feita sem que eu conseguisse sequer olhar para o meu namorado. 

 Mesmo sabendo que já era dia, mesmo que eu não soubesse exatamente que horas eram, o apartamento parecia escuro demais e carregado de tensão.

 - O que eu te falei, Julia? Hein? O QUE EU TE FALEI? - Ele não respondeu minha pergunta. Ao invés disso, sua voz grave subiu tantos tons de uma só vez que o meu corpo deu um pulo sem que eu processasse minhas ações. 

 Pisquei os olhos e me encolhi, tomada pela angustia. 

 - E-eu não fui pra nenhum outro lugar depois do evento... eu... - Minha voz falhava conforme eu tentava me justificar. 

Guilherme bateu com o punho fechado na parede ao seu lado e eu me sobressaltei mais uma vez. 

 - O CARALHO, JULIA! O CARALHO!

 O homem começou a andar na minha direção e eu usei de toda a minha força para ficar em pé, como se meu cérebro reconhecesse o perigo e entrasse no modo sobrevivência. Ainda assim, me curvei um pouco, em partes porque eu estava completamente despida, e em partes porque ficar reta doia como o inferno. Meu rosto se contorceu em uma careta quando senti o meio das minhas pernas queimar. 

 Pisquei algumas vezes, sem acreditar no que de fato estava acontecendo. Eu estava tão incrédula que as lágrimas simplesmente não desciam mais. Meu queixo tremia conforme eu tentava articular palavras.

 - Eu juro. Vim direto. Só bebi um pouquinho a mais. - Dei um passo para trás.

 - Um pouquinho a mais ? - Guilherme sorriu com desdém, e meu estômago mais uma vez se agitou. - Você não conseguia nem andar, Julia. Você veio pra cá carregada! 

 - Carregada? - Repeti sua última palavra com um sussurro assombrado.

 E então me lembrei vagamente de cair na escada e decidir dormir ali, mas o restante eram apenas flashes que me mostravam a uma distância considerável do chão, provavelmente sendo levada por alguém. No instante seguinte, a porta do meu apartamento se abria, porém as memórias seguintes eram inalcansáveis.  

Ultraviolence||Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora