08
DULCE MARIA SAVIÑON
Oito anos atrás
Chuto a costela de Christopher, mas antes que possa abaixar a perna, ele a segura, me olhando com reprovação.
– Quantas vezes já te disse que esse golpe te deixa vulnerável? – questiona e para provar seu ponto, chuta meu pé de apoio, me derrubando de costas no chão do ringue.
Ele estende a mão, mas eu nego, precisando de mais um momento para respirar enquanto o suor escorre por cada parte do meu corpo, meu coração batendo a uma velocidade preocupante. Mas, mesmo se eu estivesse prestes a ter um ataque cardíaco, eu não deixaria de sorrir para a adrenalina que corre por mim a cada vez que piso no Dojô.
E eu já piso aqui há quase três meses.
Desde a primeira vez em que Christopher me trouxe até aqui, todos os dias religiosamente, nós aparecemos para treinar.
No começo, achei que ele, no fundo, estivesse tentando me matar. Meu corpo doía e eu mal conseguia me mexer, mas uma semana depois eu só me sentia viva. A cada vez que notava como meu corpo ficava mais forte e meus movimentos mais ágeis, eu só conseguia pensar em como queria mais e mais.
Além disso, no começo, também sentia que estava atrapalhando Christopher, principalmente porque ele passava muito tempo comigo, me ensinando, mas agora, com a força que aprendi a colocar nos golpes, a agilidade que desenvolvi e as provocações que trocamos, me considero mais sua parceira de treino do que um incômodo.
– Eu mal alcanço seu rosto, como quer que eu tente te golpear com socos? – questiono, ainda deitada, aceitando a garrafa de água que ele me entrega.
– Não tem problemas em alcançar meu rosto quando quer me beijar – pontua e eu bufo, me sentando.
– Porque não corro risco de levar uma rasteira quando estou fazendo isso – rebato, lhe dando um sorriso debochado que ele retribui da mesma forma.
– Me deixa te mostrar uma coisa. – Ele se abaixa e segura meus punhos, me puxando pra que eu acabe em pé mais uma vez, seu cheiro misturado com seu suor fazendo com que meu interior se agite. – Me beija.
A única coisa capaz de fazer meu coração bater mais rápido do que esses treinos é Christopher. Seja a forma como me toca, como me olha, ou como sorri. Faz três meses que temos transado e esses três meses serviram para reforçar que ele é a personificação do pecado.
Sabendo que provavelmente vai dar um jeito de me derrubar por estarmos no ringue, me aproximo com cautela, mas no segundo em que meus lábios tocam os seus, a adrenalina do treino se transforma em excitação.
Ele abre a boca para que nossas línguas se enrolem e, por longos segundos, apenas me beija, suas duas mãos se entrelaçando em meus cabelos úmidos pelo suor.
– Cuidado para não morder a língua – diz em minha boca e eu franzo o cenho sem entender, mas antes que possa lhe perguntar algo, sua perna sobe entre nós e ele apoia o joelho em meu abdômen, jogando o próprio corpo para trás enquanto me puxa junto.
Sua perna funciona de alavanca e no instante em que suas costas acertam o chão com um impulso, ele me lança por cima de si, fazendo com que eu também aterrisse de costas, suas mãos em minha nuca, evitando que eu bata a cabeça.
– Isso é pra mostrar que eu tenho que tomar cuidado quando for te beijar? – resmungo, tentando entender toda a mecânica do movimento que ele acaba de fazer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amnésia
RomanceDizem que o amor é tranquilo e sereno, mas o que sinto por Maria é o oposto. Existem amores suaves, mas o nosso jamais foi assim. Conheci Dulce Maria há oito anos, e desde o início, tudo foi caos. O caos mais envolvente que já vivi, ao lado dessa m...