Dois corações e uma História

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Tenho que encontrar um jeito, de fazê-lo perceber que fomos feitos um para o outro." - TURMA DO CHARLIE BROWN

O TIC-TAC DO RELÓGIO parecia ecoar em meu peito, a cada segundo arrancando um pedaço da minha coragem, numa contagem regressiva cruel. O tempo era meu inimigo, e Chloé partiria para a França em poucos horas. Eu sabia que não tinha o direito de impedi-la sem parecer egoísta ou desesperado, não sem um motivo que fizesse sentido - mas a única razão que eu tinha era o que sentia por ela. O problema era que meu coração estava sufocado pela confusão das memórias fragmentadas, uma névoa que me impedia de agir como eu queria e mudar o destino que se desenrolava diante de mim.

Quando vi sua mala aberta sobre a cama, a realidade me atingiu com força. Cada peça de roupa que ela dobrava parecia enterrar nossas possibilidades. Meu peito abriu de uma maneira que eu não sabia descrever, como se cada batida fosse um protesto contra a despedida. Era o fim, e eu sabia disso. Mesmo assim, algo dentro de mim se recusava a aceitar.

A verdade é que eu não estava pronto para deixá-la partir, mas como explicar que meu coração já pertence a ela, sem que eu tivesse forças para lutar? Sem sequer ter a chance de dizer o quanto ela significava para mim? Eu a amava, disso não havia dúvida. Porém, o tempo estava contra nós, e eu temia que, ao vê-la ir, eu jamais a recuperasse.

Sentado na garagem com seu caderno de desenhos, observando os detalhes de cada um deles, todas as frases escritas expressando cada sentimento sufocado, trancafiado, envolto pela escuridão que se tornava quase uma amiga, eu me sentia derrotado. Encostado em uma estante velha, deixava minha cabeça bater contra a madeira fria repetidas vezes, tentando, de alguma forma, escapar da dor surda que me dominava. A cada impacto, parecia que eu me aproximava mais do precipício, de uma despedida sem retorno.

Foi então que flashes começaram a invadir minha mente. Pequenos fragmentos de memória que antes estavam perdidos nas sombras. O rosto de Chloé aparecia em cada um deles, marcante, forte, como se sempre estivesse ali, mesmo que eu tivesse esquecido por tanto tempo. Momentos que compartilhamos - um sorriso de canto, o toque suave de sua mão, o jeito como ela desviava o olhar quando estava nervosa. Cada cena me deixava mais tonto, como se o mundo estivesse girando rápido demais.

E ali, no meio de todas essas lembranças, compreendi o que estava me sufocando desde o início. Não era apenas o medo da despedida, mas o pavor de nunca ter tido a coragem de amá-la completamente, de mostrar que, apesar das minhas falhas e do caos que era minha mente, meu coração sempre foi dela.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora