O Crime Perfeito - Livro 4

CAPÍTULO DEZESSETE

UM MÊS DEPOIS

Entrar naquela onda foi fácil, foi como colar em prova final da matéria mais importante da escola. A prova inteira estava na minha frente e eu só precisava decorar.

Não estou brincando, eu estava sentada na mesa do meu apartamento, com a Vivian no colo e o 2k do outro lado da mesa com cara de raiva. Nas minhas mãos estava uma cópia do gabarito de uma prova que aconteceria dali dois meses. A prova tinha 120 questões sobre língua portuguesa, noções de direito administrativo e mais uma caralhada de assuntos. Além de uma redação.

Com uma grana boa e ela havia parado nas minhas mãos há algumas semanas, e eu só precisava decorar. Tão fácil quanto arrancar doce de criança. Suspirei absorvendo mais uma questão. Em poucos meses eu me tornaria alguém que nunca pensei em ser. O PL queria que eu entrasse no meio deles. Que eu criasse um vínculo, nutrisse um respeito e fizesse eles me temerem de alguma forma. Na minha cabeça pareceu tão louco, eu era uma mulher explosiva no meio de uma carreira machista.

— Eu não entendo o que tá querendo fazer... isso é perigoso!

— É uma experiência. — Respondi de cabeça baixa e ouvi o leve socar na mesa.

— Não só isso! — Levantei os olhos vendo o 2K apontar pro papel. — Esse plano inteiro de vocês!

— Sabe que eu preciso. — Voltei a encarar a prova.

— Não, não sei! — Ele xingou, eu suspirei e esperei o próximo surto.

Isso vinha acontecendo com frequência durante as duas semanas que eu me concentrava na prova. O PL não tinha aparecido pra deixar as questões como prometeu, mandou um dos seus homens vir e me instruir a fazê-las. O plano tão surtado estava começando e o 2K não estava sabendo lidar.

— Eu tô aqui pra te proteger, mas parece que não existo! — Larguei a folha na mesa e levantei os olhos. Por mais incrível que parecesse, eu que tinha que ter paciência agora.

— Kaleb...

— Não me chama assim! — Ele falou bravo e se levantou. — Essa coisa toda é idiota. Você me enlouquece! — Ele até que andou até a sala, mas voltou em passos largos e sussurrou. — Os dois me enlouquecem, os dois! — Suspirei.

Quando o cara me deixou em frente a porta do apartamento com apenas uma pasta nas mãos e poucas orientações... também tive essa ideia. Era uma loucura, mas agora... Bom, agora ainda era uma loucura, mas já era loucura bem aceita. Ouvi o 2K se afastar e baixei a cabeça pra menininha em meus braços que abria e fechava os olhinhos calmamente.

No papel que eu ostentaria por pelo menos um ano, o 2k seria apenas o Kaleb Kainan Vieira Brandão. Meu marido. Os meus filhos seriam dele e o dele seria meu. Eu entendia por que ele começava a enlouquecer, o porquê dele querer dar um fim naquilo e voltar a ser apenas o 2k... o traficante e braço direito do PL. Era uma vida fácil, comparada à que a gente se propôs a viver nos próximos anos por uma vingança.

Levantei os olhos, vendo ele atravessar a sala e ir pra cozinha. Como ele, a única coisa que eu não poderia fazer era voltar pra minha vida, mas era única coisa que eu desejava. Eu queria ter o PL de volta, ter os meus filhos de baixo das minhas asas. Baixei a cabeça e sorri pra Vivian em meus braços. Sua boca devorava o meu seio e ela cochilava em meu colo. Desenhei com o dedo o seu nariz e busquei com os olhos as crianças na sala. Eu fazia aquilo com muita frequência, tentar esquecer a sede de vingança e a dúvida, amando os meus filhos com intensidade.

As crianças sabiam onde o irmão deles estavam nesse momento. Se foi fácil dizer? Não. Olhar o Vitor naquela tarde quente, há uma semana, foi tão assustador. Suas perguntas depois de um mês sem ver o irmão gêmeo, eram tão assustadoras... Mas eu menti até o último minuto e não me arrependo disso. Eu respondi todas as suas perguntas, eu o abracei e o segurei com força quando ele gritou e chorou falando que eu estava mentindo sobre o irmão dele.