CAPÍTULO DEZOITO

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UM MÊS DEPOIS

Eram 135 vagas e uma delas seria minha. Eu receberia quase 12 mil reais pra trabalhar de forma integral e exclusiva... e ainda comandar o melhor da minha vingança. Depois que entreguei a folha de resposta com apenas uma questão errada propositalmente, entrei no meu carro e fui direto pro meu apartamento. Não havia comemoração pra mim, nós sabíamos que eu ia passar e o pior dos testes viria.

Quando cheguei no prédio, já passava das 18h. O céu nem estava escuro quando entrei no apartamento e me encostei na porta. Eu não ia mentir. Metade da prova eu passei tremendo, me negando a acreditar que aquilo realmente ia dar certo. Já a outra metade, passei acreditando que seria presa antes de conseguir fazer a segunda etapa.

Comecei a andar. Passei pelo 2K na cozinha sem que as crianças me notassem. A gritaria na sala era alta e eu passei sem problema. Entrei no meu quarto em segundos, mas antes de fechar a porta, ela foi empurrada. O 2K tava lá me encarando.

— Fez? — Eu não quis falar, mas confirmei com a cabeça e joguei a bolsa no chão, entrando de vez no quarto. — Teve algum problema? Alguém conhecido te viu, qual que foi o problema?

Eu bufei e acompanhei a minha bolsa. Me sentei no chão, tendo certeza que aquela merda era uma crise existencial! Isso existia? Me encostei na parede e ele se aproximou. A minha respiração tava rápida, meu coração parecia que ia sair correndo se eu arriscasse abrir a boca.

— Qual foi? — Ele voltou a perguntar.

Eu não sabia o que era. Parecia que eu estava de volta a minha adolescência e tava prestes a beijar na boca pela primeira vez. Passei a mão na calça, sentindo a umidade ultrapassar o tecido. Que merda, Manuella, agora deu pra voltar a ter medo?

— Ei... — Ele se abaixou na minha frente. — Vem aqui.

Deixei que ele me puxasse. Deixei que minha cabeça se aconchegasse em seu ombro e ele tentasse ser alguém que eu nunca tive. Era estranho, mas, durante os últimos meses, 2K se tornava alguém que nunca imaginei precisar. Alguém que via realmente como era a Manuella insegura.

A droga daquele plano era meu. Desestabilizar o Rodrigo com os documentos que eu já tinha em mãos, era o início de tudo, mas ai o Vinícius se foi, o meu pai sumiu e agora o PL comandava aquele lugar de novo... e eu tava aqui bancando a mocinha medrosa? Me afastei do seu toque e tentei respirar. Era quase quatro meses ali. Isolada, com a saudade preenchendo boa parte do meu corpo e a outra parte sendo devorada pelo medo e pela ansiedade. Onde eu tinha ido parar?

— Tu viu alguém? — Neguei mais uma vez. — E o que aconteceu?

— Nada. — Falei pela primeira vez e tive certeza que ele também notou que eu mentia.

— Manuella?

— Já disse que não aconteceu nada! — Falei alto, o que fez ele levantar e me virar as costas.

Dava pra ver, nitidamente, a tensão em seu corpo, dava pra notar o nervosismo e os olhares estranhos crescendo nas últimas semanas. Baixei a cabeça tentando voltar ao normal. Era só uma prova, Manuella. Só uma prova.

— Tá com pena de mim agora, Kaleb? — Ele se virou.

— Nunca tive pena de tu, não é agora que vou ter!

— E esse olhar é o que? — Olhei fixo em seus olhos. — Tá criando sentimentos nessa altura do campeonato?

Ele fez careta. Os punhos se fecharam e ouvi a respiração sendo puxada. Se eu não conhecesse tão bem o 2k, diria que ele estava preocupado... talvez ansioso e até com medo. Estreitei os olhos. Aquilo não era pra mim.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora