Capítulo 15

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1999

Era 10 de Abril. Era o dia do meu casamento, olhava para minha mãe com lágrimas nos olhos me observando. Eu desviei meu olhar, eu iria me debulhar de tanto chorar se continuasse olhando para ela.

Tia Mary arrumou meu véu e sorriu abraçando minha mamãe. Olhei para as duas e sorri agradecendo a Deus por ter duas mães maravilhosas.

- Senhora Young, senhora Thompson. Vocês precisam tomar seus lugares porque a cerimônia já vai começar. - A organizadora avisou colocando a cabeça para o lado de dentro do cômodo onde estávamos.

Estávamos nos casando no quintal de casa em Pasadena, como eu sempre sonhei. Somente com as pessoas que realmente amávamos.

- Vou deixar você ter a última palavra, Janie. - Tia Mary beijou o topo de minha cabeça - Obrigada por escutar meu conselho.

- Obrigada por me aconselhar. - Disse já com os olhos cheios de lágrimas.

Observei minha madrinha sair do quarto onde eu passei minha infância. Olhei para mamãe que arrumava meu véu como se arrumasse meu cabelo para ir à escola.

- Eu quero te falar algumas coisas. - Ela acariciava meus ombros nus naquela primavera - Você foi a minha melhor surpresa. Minha filha, você me deu uma força que eu não sabia que eu tinha. Eu te prometi que nunca iria deixá-la se sentir sozinha e isso vai valer para o resto da sua vida. Enquanto eu viver, você Harper, vai ser a minha menininha, a minha força, a minha coragem.

Depois de saber da história verdadeira, aquelas palavras da mamãe se tornaram mais fortes do que seriam se eu tivesse me mantido na ignorância.

- O papai acertou na escolha do nome, não é mesmo? - Ri limpando uma pequena lágrima que escorreu.

- Acertou em cheio. - Ela riu limpando as lágrimas com um papel toalha - Eu quero que John te ame tanto quanto seu pai me ama e eu quero que você o ame tanto quanto eu amo o seu pai. Sejam amigos, compartilhem segredos, sejam verdadeiros um com o outro, se protejam, sejam pacientes, sejam eternos namorados.

- Obrigada mamãe. Eu te amo.

- Eu te amo minha Harper. - Ela me abraçou.

Seu abraço era reconfortante. Me dava forças para enfrentar o mundo, minha mãe sempre esteve lá para mim. Minha mãe sempre foi minha melhor amiga.

Ao vê-la sair para ocupar seu posto, suspirei olhando para o meu reflexo no espelho. Eu esperava meu pai, ele iria me entregar para John como sempre sonhei.

- Happy? - Era a voz de John no outro lado da porta - Posso falar com você?

- Johny? - Fui até a porta mas não abri - Não posso abrir, da azar ver a noiva antes da hora.

- Eu viro de costas, eu só preciso conversar com você. - Fiquei apreensiva mas sabia que John nunca iria embora - Não fique apreensiva, eu só quero te dizer algumas coisas antes de irmos nos casar.

Era como se ele pudesse ler minha mente.

Eu abri a porta e o vi de costas, puxei-o para trás e fechei a porta. Ele se mantinha na posição, parecia estar lutando para não se virar.

- Está cheirosa.

- Obrigada. - Ri olhando para suas costas, ele estava lindo.

- Não sabe como estou lutando para não me virar e te dar um beijo. - Sua gargalhada preencheu o quarto. Suas mãos estavam no bolso - Eu te amo, Harper.

- Eu também te amo, John. - Sorri acariciando seus ombros.

- Vamos nos casar.

- Vamos. - Ri colocando as mãos em seus bolsos segurando suas mãos e sussurrei em seu ouvido - Diga o que quer me dizer, Johny.

- Você é o amor da minha vida. Eu nunca pensei que amaria alguém da mesma intensidade a qual eu te amo. - Seus olhos estavam fechados - Eu nunca quis ter filhos, mas quando eu te conheci, comecei a sonhar com isso. Eu pensei que nunca mais iria me casar, mas você chegou e mudou minha vida. Você, Harper, é a única razão para que eu me levante da cama todos os dias. Você, Harper, é a única mulher que eu quero acordar do lado no resto da minha vida porque você, Harper, é a minha paixão, a minha força, a minha alegria, a cor da minha vida preta e branca, o Sol dos meus dias nublados, o arco-íris após a minha tempestade. Eu quero te amar, eu quero te fazer feliz, quero para sempre ser o motivo do seu sorriso porque você, Harper, é o motivo do meu. Eu te amo mais do que possa imaginar, nunca houve alguém que amasse alguém como eu te amo.

Eu estava em sua frente, olhando para sua face que sorria enquanto falava. Eu não conseguia falar nada, nunca tinha escutado palavras tão bonitas quanto aquelas. Naquele momento eu me disse foda-se para a tradição.

- Abra os olhos. - Pedi.

- Mas e o azar?

- Foda-se. Azar é não viver uma vida ao seu lado. - Eu tremia - Abra os olhos.

Devagar, John abriu os olhos e eu pude ver aquelas íris castanhas que penetravam minha alma. Eu não precisava me traduzir para ele, porque ele já me entendia.

- Você está maravilhosa, meu amor. - Seus olhos ficaram cheios de lágrimas.

Sem falar mais nada, eu puxei-o para perto e beijei-o com toda a paixão que eu sentia.

Eu cresci observando meus pais, eu cresci os vendo amando incondicionalmente um ao outro, os vi sendo companheiros, eu cresci sonhando com um amor igual o deles. Eu finalmente encontrei o amor da minha vida como minha mãe encontrou meu pai.

***

Como John havia dito em nosso encontro a anos antes, nós estávamos sentados na arquibancada do estádio do Milan na Itália.

- Happy, você vai amar. - Estávamos a uma semana na Itália e o seu sotaque havia voltado como se nunca houvesse saído, eu adorava isso - È un classico, amore mio! Inter di Milano e Milan, sai quanto sarà divertente?

Eu não tinha entendido nada, mas amava a forma a qual ele falava em italiano. Apenas assenti com a cabeça com um sorriso de orelha a orelha.

- John, quanto tempo meu amigo! - Um homem que estava à nossa frente cumprimentou-o - Fazia tempo que não vinha a um jogo!

- Eu estava ocupado me casando, Silvio! - Ele gargalhou me abraçando - Essa é minha esposa, Harper.

- Ma che bella! - Eu sorri vendo-o me cumprimentar com um beijo na mão - Seu primeiro jogo de futebol?

- Sim senhor. - Encostei minha cabeça no peito de meu marido - John me trouxe, estou animada para assistir.

- John, perchè não me disse que era o primeiro jogo de sua esposa? - Estava indignado - Depois do jogo, vou te levar para conhecer os jogadores.

- Muito obrigada. - Eu sorri.

- Sabe, o John é um dos sócios mais fiéis do clube. - Silvio deu uns tapinhas nas costas de meu marido - Então esposa do John também já é sócia do Milan.

- Forza Milan! - John gritou girando seu cachecol no ar fazendo-me gargalhar - O jogo está começando!

Confesso que nunca prestei realmente atenção nos jogos de futebol, mas sim no John. Minhas pupilas dilatavam ao vê-lo torcendo com tanta paixão, da mesma forma que dilatavam ao vê-lo atrás das câmeras dirigindo um filme, da mesma forma que mais pra frente ele brincaria com a nossa filha.

- Gostou do jogo? - Ele perguntou, praticamente sem voz.

- Adorei! Agora sou torcedora do Milan. - Eu sorri abraçando seu braço direito.

Eu até hoje assisto jogos do Milan para matar a saudade que tenho dele.

A Misteriosa Vida de Harper YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora