9-2. Atlas

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-Atlas.- Ela diz meu nome com compaixão. Quando abre os olhos de novo, parece estar tentando não chorar. - Nem sei o que dizer. Achei que você tivesse uma família.

- Desculpe por ter mentido. Não foi por maldade, eu só queria poupar...

- Não se desculpe - ela me interrompe. - Você fez o que era certo. O inverno estava chegando, e talvez você não tivesse sobrevivido naquela casa. - Ela enxuga uma lágrima. - Não consigo nem imaginar como deve ter sido dificil... se mudar para Boston com aquela idade, sem nada. Sem ninguém.

- Deu certo - digo, abrindo um sorriso. - Deu tudo certo. Estou tentando acabar com a tristeza que acabo de causar. Não pense na nossa situação naquela época, pense apenas na nossa situação agora.

Ela sorri.

-Onde você está agora? Esse é seu escritório?

-É, sim. - Vou virando o celular para que ela possa ver um pouco do espaço. - É pequeno. Só tem um sofá e um computador, mas quase nunca estou aqui. Passo a maior parte do tempo na cozinha.

-Você está no Bib's?

-Isso. Os dois restaurantes fecham aos domingos. Estou aqui só dando uma geral.

Dou uma risada.

- Não vejo a hora de ir ao Corrigan's. É lá que a gente vai jantar no sábado?

Ela sorri.

- De jeito nenhum eu te levaria para algum restaurante meu no nosso encontro. As pessoas com quem trabalho são curiosas demais em relação a minha vida pessoal.

- Engraçado, eu também tenho curiosidade em relação a sua vida pessoal.

- Para você, eu sou um livro aberto. O que gostaria de saber?

Ela reflete por vários segundos, depois fala:

Quero saber quem são as pessoas na sua vida. Você não tinha ninguém quando a gente era adolescente, mas agora é adulto, tem restaurantes e amigos e uma vida inteira sobre a qual não sei quase nada. Quem são suas pessoas, Atlas Corrigan?

Nem sei como responder a isso sem ser rindo.

Ela não retribui meu sorriso, entretanto, o que me faz pensar que está perguntando mais por preocupação do que por curiosidade. Olho-a carinhosamente, querendo diminuir parte de sua apreensão.

- Eu tenho amigos - digo. - Você conheceu alguns deles há um tempo, lá em casa. Não tenho família, mas não sinto isso como um vazio. Gosto da minha carreira e da minha vida. Faço uma pausa, e depois digo algo com toda a franqueza: Eu sou feliz, se é isso que está querendo saber.

Vejo o canto da sua boca se erguer.

-Que bom. Sempre quis saber onde você tinha ido parar. Tentei te achar nas redes sociais, mas não tive sorte.

Volto a rir com isso, pois Theo e eu acabamos de ter essa conversa.

-Não uso muito as redes sociais. - Se eu dissesse a Lily que as usaria todos os dias se os perfis dela não fossem fechados, Theo talvez me dissesse que essa confissão iria assustá-la.

Fiz perfis para os restaurantes, mas são dois funcionários meus que cuidam deles. - Encosto a cabeça no sofá. - Sou ocupado demais para essas coisas. Baixei o TikTok alguns meses atrás, mas foi um erro. Passei horas vidrado certa noite e perdi uma reunião na manhã seguinte. Apaguei o aplicativo no mesmo dia.

Lily dá uma risada.

-Eu faria praticamente qualquer coisa para te ver fazendo videos para o TikTok.

Não vai rolar.

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