Jogos de Poder

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Seonghwa está ciente da traição de seu companheiro.

O velho ditado diz: "Nunca subestime a intuição de um ômega." No entanto, nunca subestime o bom senso de um ômega também.

Encostado na parede do lado de fora da sala de jantar, Seonghwa observa seu alfa chegar em casa. O vê fechar a porta de entrada, retirar os sapatos de couro envernizado e calçar os chinelos antes de atravessar a sala. Embora seja aproximadamente uma década mais velho que Seonghwa, seu alfa possui uma carreira bem-sucedida no direito corporativo que lhes proporciona uma residência como essa, em um bairro de prestígio. Apesar de estar ainda vestido com o terno do trabalho, percebe imediatamente que a gravata que seu alfa usa não é a mesma que ele vestia pela manhã.

– Você chegou! – Seonghwa afirma com um tom de falsa alegria.

Seu alfa se sobressalta e se vira para encará-lo, gaguejando:

– A-Ainda está acordado? Por que...Por que está parado no escuro?

– E por que não? Estamos em casa – Ele conhece cada canto da residência.

– Querido, eu disse para não esperar acordado.

Seonghwa esboça um leve sorriso.

– Não é tão tarde assim – São quase duas da manhã.

Embora a casa esteja mergulhada em escuridão, a luz da lua cheia com seu brilho azul prateado penetra pelas janelas, projetando sombras nítidas sobre os móveis e o rosto magro de seu alfa.

– Você sabe que tive aquela reunião de trabalho fora da cidade – Se justifica. Seonghwa sorri um pouco mais, o suficiente para revelar os dentes. A reunião havia ocorrido no início da semana. Ele estava em outro lugar naquela noite.

– Eu sei. Apenas fiquei preocupado quando você não atendeu minhas ligações.

Seu alfa se vira como se quisesse escapar da conversa.

– Desculpe. Ainda estou um pouco nervoso com a assinatura do contrato. Aqueles caras foram difíceis de negociar.

– Eu sei, eu sei – Seonghwa cantarola, demonstrando falsa preocupação. Ele se afasta da parede e vai até o fundo da escada, posicionando-se à frente de seu alfa e fazendo-o parar com um pé no degrau inferior. Seonghwa coloca a mão em seu ombro.

– Você trabalha tanto por nós. Não deve ser fácil – Ele sente os músculos de seu alfa relaxarem e percebe a respiração trêmula. Como se estivesse aliviado por ter escapado ileso.

– Obrigado por ser compreensivo, querido.

Seonghwa se contém para não rir e pergunta:

– Você comeu?

– Sim. No caminho de volta – Há uma pausa antes que ele continue, agora com um tom mais suave. – Você não cozinhou, não é? Eu te disse que–

– Não, não – Diz Seonghwa. – Pedi comida para viagem. – Já havia desistido de cozinhar para um homem que frequentemente se esquece do horário do jantar.

Seonghwa desliza a mão pelo pescoço do alfa até o queixo e então toca sua bochecha.

– Precisa relaxar depois de um dia tão difícil? – Ele assegura que o significado de suas palavras seja claro ao se aproximar e aninhar o nariz atrás da orelha do marido, respirando o aroma da pele que deveria estar marcada apenas pelo seu cheiro. – Pode descontar tudo em mim.

Seu alfa engole audivelmente. Está tentado, mas resiste.

– Desculpa, querido – Diz ele, afastando-se e empurrando a mão de Seonghwa para longe da fivela do cinto. – Preciso de um banho.

– Está bem – Murmura, parecendo muito mais magoado do que realmente se sente. Há muito tempo ele parou de desejar sexo com um homem que não sabe mais em qual cama deve estar. – Durma um pouco.

Observa ele recuar com os olhos semicerrados até virar o corredor e desaparecer de vista.

– Isso mesmo – Sussurra. – Continue pensando que sou um idiota – O cheiro do outro ômega ainda persiste na pele de seu alfa, desvanecido com o tempo, misturado com suor, colônia e o odor seco de cigarros mentolados. É uma presença estranhamente distinta que quase faz Seonghwa rosnar.

Não sabe a quem pertence o cheiro e não quer saber. Após três longos meses de suspeitas e questionamentos, esta é a conclusão que ele chega.

Acima, o som do chuveiro sendo ligado o faz piscar e sair de seu estado de torpor.

Não adianta iniciar uma discussão, fazer perguntas ou implorar. Embora seja um ômega, Seonghwa ainda preserva seu orgulho de homem. O único confronto que os alfas compreendem é na base do "olho por olho". Palavras não serão eficazes; apenas ações contarão.

Obrigado por ser compreensivo, ele lhe disse. Pft. Pura baboseira.

Isso já acontece há tempo suficiente para que a mágoa, a raiva e o cansaço tenham diminuído, restando apenas uma sensação de dormência.

Ele sobe as escadas e a cada passo em direção ao quarto seu coração parece se cobrir cada vez mais de gelo até que tudo esteja empedrado e nada mais pareça salvável. Ele se observa no espelho: seu rosto é bonito o suficiente, seu corpo esbelto. Mesmo sem dormir e vestindo pijamas sabe que é atraente. O que Wooyoung do outro lado da rua lhe disse mesmo? Que se isso não consegue manter um homem, nada conseguirá? Seonghwa ri, um som seco e desprovido de humor. Porque, afinal, quão verdade é que um alfa não pode ser mantido?

Enquanto se acomoda sob os lençóis no lado esquerdo da cama, percebe que não é melhor do que nenhum outro ômega, que não é diferente, que não é especial. A mesma traição que ocorreu com Wooyoung do outro lado da rua e Mingi lá de cima da colina agora aconteceu com ele. Seu alfa se envolveu com outra pessoa.

No entanto, talvez seja sim só um pouquinho diferente, porque ao contrário dos outros ele não acabará divorciado ou na prisão. Ele tem uma terceira solução, algo que ninguém suspeitaria.

Seonghwa ainda está acordado quando seu alfa termina de tomar banho e se veste para dormir. Ainda está acordado enquanto seu alfa apaga as luzes e se deita ao seu lado, deslizando para baixo das cobertas. Embora adormeça em minutos, sem culpa, Seonghwa permanece deitado por mais uma hora, depois duas, consumido pelo cheiro do outro ômega que contamina seus lençóis.

O Preço da Traição ✿ seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora