²⁵Entre a luz e a sombra

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Eu mal dormi naquela noite, as palavras de Damian ecoando na minha cabeça. Amanhã. Ele disse que conversaríamos amanhã, mas já fazia tanto tempo que tentávamos evitar esse confronto, que eu não sabia se realmente acreditava nisso. No entanto, algo me dizia que as coisas estavam mudando, lentamente, mas mudando.

Na manhã seguinte, fui para a cozinha da Mansão Wayne, meio distraída com meus pensamentos. A mansão estava calma, como sempre. Bruce estava fora em alguma reunião, e Alfred, como sempre, fazia com que o ambiente mantivesse aquela tranquilidade quase irreal. Apenas um véu para o caos que sempre se escondia por trás das portas.

Damian estava sentado à mesa, seus olhos verdes focados em um livro. Era uma cena quase pacífica, se eu não soubesse o quão tenso o ambiente ficava sempre que nós dois estávamos na mesma sala. Desde a nossa discussão na noite anterior, parecia que havia algo não dito entre nós, algo que precisava ser resolvido.

Respirei fundo e sentei na cadeira oposta à dele. Não disse nada a princípio, apenas observei enquanto ele continuava fingindo ler, ignorando minha presença.

— Nós precisamos conversar, Damian. — Disse finalmente, quebrando o silêncio.

Ele suspirou, mas não levantou os olhos do livro.

— Já conversamos sobre isso ontem, Astrid.

— Não, não conversamos de verdade. — Respondi, inclinando-me para frente, tentando captar sua atenção. — Continuamos nos evitando e agindo como se o que aconteceu não tivesse importância.

— O que exatamente você quer discutir? — Ele fechou o livro com um leve som, finalmente me olhando nos olhos. A intensidade de seu olhar era desconcertante, mas eu não recuei.

— Nós dois sabemos que isso vai além de apenas... trabalhar juntos, — comecei, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Há algo mais, Damian. Nós nos odiamos no início, e agora... agora, eu não sei mais o que estamos fazendo.

— Talvez seja melhor continuar como estamos. — Ele deu de ombros, sua expressão era impassível, mas havia algo nos olhos dele, algo que ele estava tentando esconder.

— Você não acredita nisso. — Respondi rapidamente. — Você sabe tão bem quanto eu que estamos ignorando coisas que precisam ser ditas.

Houve um longo momento de silêncio entre nós. Damian era um mistério, um enigma que eu estava tentando decifrar há semanas. Mas algo naquela noite, algo na maneira como ele me olhava, me dizia que ele também estava lutando com seus próprios demônios.

— Eu não pedi para você estar aqui. — Ele finalmente murmurou, desviando o olhar.

— Não, mas isso não muda o fato de que estou. E eu não vou a lugar nenhum. — Minha voz era firme, determinada.

Antes que ele pudesse responder, um alerta soou no relógio de parede. Damian se levantou rapidamente, o momento entre nós quebrado pela urgência de Gotham.

— O que foi agora? — Perguntei, já sentindo a adrenalina começar a subir.

Damian não respondeu imediatamente, pegou o tablet em cima da mesa e verificou o alerta. Seus olhos estreitaram.

— É algum tipo de movimentação perto dos armazéns no Porto Gotham. — Ele respondeu, o tom de voz já focado na próxima missão.

— Então vamos, — eu disse, me levantando também.

Damian hesitou por um segundo, me observando, como se estivesse considerando me deixar para trás. Mas depois de alguns segundos, ele apenas assentiu com a cabeça, resignado.

Chegamos ao Porto Gotham rapidamente, o ar frio da noite cortando nossas roupas enquanto nos aproximávamos em silêncio. Damian estava à frente, seus movimentos rápidos e precisos, como sempre. Eu o segui, mantendo-me vigilante, meus olhos percorrendo o ambiente sombrio em busca de qualquer sinal de perigo.

— Eles estão aqui, — ele murmurou, seus olhos focados em um grupo de homens perto de um dos armazéns.

— Quem? — Perguntei, minha voz baixa.

— Traficantes de armas, — ele respondeu secamente, seus olhos nunca deixando o grupo à frente.

Antes que eu pudesse reagir, Damian já havia avançado, se movendo com a agilidade que eu já esperava dele. Ele era uma força da natureza em combate, seus movimentos eram rápidos e precisos, incapacitando os criminosos com uma eficiência assustadora.

Eu o segui, atacando o outro lado do grupo. Os homens eram fortes, mas desorganizados, sem chance contra dois combatentes treinados como nós. Em questão de minutos, o grupo estava no chão, nocauteado.

— Foi fácil demais, — murmurei, ainda em guarda, observando o ambiente ao redor.

Damian, ao contrário, estava completamente relaxado, guardando suas armas e já se preparando para sair. Foi então que ouvi um som distante, um estalo fraco, mas distinto. Antes que eu pudesse reagir, algo atingiu Damian no ombro, fazendo-o tropeçar para trás.

— Damian! — Gritei, avançando até ele enquanto ele caía no chão, segurando o ombro.

Eu me virei para ver de onde o disparo havia vindo, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, mais homens saíram da escuridão, armados e prontos para atacar.

Eles nos cercaram rapidamente, suas armas levantadas, mas não havia medo em Damian. Mesmo ferido, ele se levantou, tirando uma lâmina de seu cinto e se colocando em posição de combate. Seu olhar era feroz, determinado.

— Não faça nada estúpido, — murmurei para ele, meu coração batendo acelerado enquanto observava o número de homens que nos cercava.

— Você não sabe com quem está falando, — ele retrucou, seu tom desafiador como sempre.

Antes que eu pudesse reagir, Damian avançou. Mesmo ferido, ele era implacável. Eu o segui, tentando cobri-lo enquanto ele se movia entre os homens, sua lâmina cortando o ar com precisão mortal.

A batalha foi intensa, mas conseguimos derrubar um por um, até que finalmente restava apenas um. O líder, um homem grande, armado com uma metralhadora, me enfrentava de frente. Damian estava um pouco atrás de mim, seu ombro ensanguentado, mas ele não dava sinais de parar.

— Vamos, — eu murmurei, me preparando para o ataque final.

Antes que eu pudesse avançar, Damian me puxou de volta, jogando-me para o lado. O homem disparou uma rajada de balas, mas Damian foi mais rápido, usando sua lâmina para desviar as balas antes de se lançar sobre o inimigo.

Ele o desarmou em segundos, derrubando-o no chão com um golpe rápido e preciso.

O silêncio caiu sobre o porto, apenas o som das ondas batendo nos cais e nossa respiração ofegante enchiam o ar.

Olhei para Damian, ainda segurando o ombro ferido, mas sua expressão era impassível. Ele se aproximou de mim, os olhos verdes brilhando na escuridão.

— Você se saiu bem, — ele murmurou, sua voz mais suave do que o habitual.

Eu o encarei por um momento, surpresa por sua súbita mudança de tom.

— E você... você precisa de ajuda com esse ferimento, — respondi, apontando para o ombro dele.

Damian apenas balançou a cabeça, mas não disse mais nada. O silêncio entre nós agora era diferente, menos tenso, quase como se algo tivesse mudado durante a luta.

Mas eu sabia que essa mudança não viria sem consequências. Damian era uma tempestade de emoções, e eu estava bem no olho do furacão.

A Guarda de Damian WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora