XI. Be cruel to me, 'cause I'm a fool for you

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Uma semana se passou.

Uma semana inteira em que eu evitei ao máximo ele e qualquer assunto que pudesse se relacionar a ele.

Me entupi de trabalho para que eu não pudesse pensar.

Mas... Pela quarta vez no dia, peguei o celular, indeciso, encarando a maldita mensagem de voz ainda não visualizada. Hesitei por alguns minutos. Eu queria mesmo saber o que ele queria me dizer? Eu merecia saber?

Eu sabia que não. Mas decidi ouvir mesmo assim.

A voz dele surgiu baixa, suave, meio hesitante no início. "Oi, Louis... Eu só... Bom, eu queria falar com você. Eu sei que você tá me evitando, e tudo bem. Eu entendo que você pode precisar de um tempo. Ou talvez... talvez você só não queira mais falar comigo, e, se for isso, eu também entendo."

Ele fez uma pausa, e eu pude ouvir ele respirar fundo. Era como se eu conseguisse sentir o peso na voz dele, como se ele estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

"Eu só... Queria pedir desculpas. Não por... Não pelo o que aconteceu entre a gente, porque, pra ser sincero, eu não acho que tenha sido um erro. Talvez só tenha acontecido no momento errado, sabe? Mas não me arrependo de nada que senti."

Minha garganta começou a fechar. A voz dele era tão honesta, tão cheia de uma dor que eu sabia que eu tinha causado.

"Se eu ultrapassei algum limite, eu sinto muito, de verdade. Essa nunca foi minha intenção. Eu só... Sinto muito por isso estar te machucando de alguma forma. Eu não queria que fosse assim."

A voz dele ficou ainda mais suave, quase um sussurro, como se ele estivesse lutando para manter a calma.

"Se você precisar de espaço, eu te dou. Se quiser que eu me afaste, eu me afasto. Só queria que você soubesse que, do meu ponto de vista, eu não acho que isso foi um erro. Só... Só queria que soubesse disso."

A mensagem acabou, mas fiquei segurando o celular, o silêncio pesando no ar.

Eu achei que ignorar Harry seria o mais fácil, simplesmente parar de responder e deixar o tempo apagar o que quer que tenha acontecido entre a gente. Mas a verdade é que o silêncio só fazia o buraco no meu peito crescer. Eu não queria que ele pensasse que era culpa dele, mas eu também não tinha forças para encarar o que eu estava sentindo. Talvez fugir fosse a única coisa que eu soubesse fazer direito.

Então, quando ouvi a mensagem de voz dele pela segunda vez, meu coração quebrou um pouco mais. A voz dele soava tão sincera, tão cheia de arrependimento, mas ele não estava pedindo desculpas pelo o que a gente viveu. Ele não achava que aquilo tinha sido um erro, não como eu tinha dito para ele. Ele falou que talvez só tenha acontecido no momento errado. E, no fundo, eu sabia que ele estava certo. Mas ouvir isso me fez sentir ainda pior.

Me afastei porque fiquei assustado. Assustado com o que eu senti quando estava com ele, com o que aquilo significava para mim. Eu sabia que Harry não merecia ser tratado assim, mas era como se uma voz na minha cabeça me lembrasse de todas as coisas que eu sempre ouvi enquanto crescia.

De repente, as lembranças do meu pai voltaram com força. Lembrei de como ele sempre ofendia qualquer pessoa gay que aparecia na TV, como zombava deles, como falava com nojo. E a pior de todas as lembranças... Eu, com 4 ou 5 anos, dançando Spice Girls na sala, sem nenhuma maldade, só sendo eu. E ele me pegou. Me olhou com aquele olhar de desdém e raiva, me chamou de tudo o que existia de pior. Acho que, desde aquele dia, eu aprendi a esconder quem eu era. A me esconder de mim mesmo.

Eu me senti quebrando de novo, ali, no chão do quarto, ouvindo a voz do Harry ecoar na minha cabeça e as palavras do meu pai me atormentando. E eu só conseguia chorar. Não queria estar sozinho com aquilo.

Chains | l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora