Finalmente cá estou.
Escuto com dificuldade um barulho de carro ligado e pelo o que meu resto de visão me permite enxergar esse é o carro do Alan, irmão da minha esposa.
A porta da minha casa está fechada, tento abrir mas não consigo. Não sei lhe dizer se está trancada ou não. Nesse momento meus músculos não me obedecem mais. Não consigo nem levar minha mão acima da cintura.
Vou dar a volta e tentar a sorte com a porta dos fundos. Algo que eu faria em 30 segundos parece levar mais de 2 minutos. Ainda bem que esta porta estava aberta! Se eu tivesse que entrar pela janela no estado que estou, eu levaria algo em torno de uma hora.
Vejo as costas do Alan assim que entro em casa. Ele me escuta e se vira para mim mas com um terror inacreditável na cara, ele se assusta tanto que sai tropeçando para trás e acaba caindo, derrubando tudo que estava na escrivaninha ao seu lado.
Foi uma mistura de feições em seu rosto: susto, felicidade, espanto, tristeza, raiva, revolta. Tudo em milésimos de segundo.
Ainda caído no chão suas mãos tremem muito enquanto olha pra mim.
Escuto passos rápidos no outro comodo e a linda voz de Alana perguntando em tom firme, porém silencioso, o que havia acontecido.
Ela entra rapidamente na sala e olha pra mim. Ela fica totalmente imóvel, para até de respirar, e deixa cair a arma que estava em sua mão.
Alana segurando uma arma? Está realmente tudo de cabeça para baixo, ela sempre teve pavor de armas.
Finalmente Alan levanta, ainda agoniado, pega o machado de incêndio que deixou cair quando me viu e pega também a arma. Suas mãos tremem ininterruptamente.
Nunca vi alguém suar tanto em poucos segundos como ele.
Não estou entendendo nada, por que eles estão tão espantados? Talvez eu realmente esteja muito doente e minha aparência demonstra isso. Ou eles acharam que eu estava morto. Mas será que Alana tinha desistido de mim? Simplesmente aceitou que tudo estava um caos e ia me deixar para trás?
Ok, não importa. Estou aqui agora e ela vai poder cuidar de mim e me ajudar a me recuperar e vamos poder passar por tudo isso juntos, ainda mais com Alan aqui.
Alan troca o olhar de mim para Alana diversas vezes. E Alana permanece imóvel.
Eu tento pronunciar algo, qualquer coisa, falar que vai ficar tudo bem. Eu tento, mas não sei se consigo. Porém, assim que tento esboçar algumas palavras, um pavor misturado com tristeza toma conta do rosto de Alana e isso quebra meu coração. O que foi que eu fiz?
Alana começa a chorar e Alan bota a mão em seu ombro tentando confortá-la, eu fico tão devastado que quero abraçá-la e tento me aproximar mas Alan coloca o machado em meu peito dizendo para eu não chegar perto, então eu paro. Alan também deixa escorrer uma lágrima e abaixa o machado.
Eles começam a caminhar para trás mas sem tirar os olhos de mim, Alana ainda chora. Não consigo me conter e os sigo. Vamos andando devagar até a porta da frente, Alan se preocupando em olhar em volta, mas ainda sem tirar os olhos de mim. Alana para de chorar, mas a tristeza em sua cara continua angustiante.
Então ambos saem pela porta da frente, ainda andando de costas. Alan se certifica de que tudo está seguro lá fora. Alana não consegue fazer nada a não ser olhar pra mim.
Ambos estão parados no jardim me olhando. Eu continuo dentro de casa, pois tenho certeza que se eu tentar descer os dois degraus da porta da frente, vou acabar caindo devido minha fraqueza.
Alan se aproxima do ouvido de Alana e deixa sair algumas palavras inaudíveis para mim. Alana se desata a chorar mais uma vez e finalmente diz "Tem que ser eu".
Ela tira a arma das mãos de Alan.
Alana está tremendo e lágrimas de pedido de perdão escorrem de seus olhos e ela diz: "Te amo muito para fazer isso mas te amo mais ainda para não fazer nada."
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Destroços de uma Memória
Mystery / ThrillerUm homem perdido precisa tomar uma decisão. Seria mais fácil se ele se lembrasse o por que de ter que tomar essa decisão. Seria ainda mais fácil se ele se lembrasse de quem era. Acompanhe a curta jornada desse homem em busca do que se esqueceu. ...