Eu sempre fui uma pessoa crédula.
Acredito, por exemplo, que beber depois de um dia ruim é a solução de todos os problemas.
Acredito que dias ensolarados são melhores do que os dias nublados e que a chuva é um castigo assustador projetado por Deus...
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Sinto algo molhado contra meu rosto e sorrio porque faz cosquinha. No entanto, se repete uma, duas, três vezes, e o cheiro é levemente desagradável.
O que é isso?
Minha cabeça dói como se estivessem martelando dentro dela e me forço a abrir os olhos para ver o que está acontecendo, mas minhas pálpebras se recusam a me obedecer.
Por que elas estão pesadas desse jeito?
E por que está doendo tanto?
Me obrigo a piscar, e embora minha vista esteja embaçada pelo sono, consigo visualizar com clareza a besta faminta e peluda em cima de mim.
Sua língua está contra minha cara e não respiro, ficando completamente paralisada.
Por que tem um gato me lambendo?
Se eu fingir dormir, será que ele sai?
Seus olhos encontram os meus em um contato visual fatal, e nem mesmo se eu quisesse, conseguiria escapar dessas imensas íris pretas, que parecem me engolir.
Sorrio.
O gato balança o rabo e é tão fofo que por um momento esqueço de tudo - não que eu me lembre de muita coisa.
Minhas têmporas latejam, mas deixo isso de lado para acariciar o pelo amarelado do gato.
Você é mesmo uma gracinha.
Ela não hesita e apenas aceita o carinho, se aconchegando no meu colo.
Eu dormi na rua?
Forço minha mente a pensar e tento lembrar de algo, mas nada me vem à cabeça. Meus pensamentos são letárgicos como se ainda estivessem sob o efeito de álcool, e só agora desvio meu olhar para outro lugar que não seja a pequena fera deitada em cima de mim.
Encaro o teto preto com um lustre luxuoso no centro dele, a cama é redonda, mas absurdamente espaçosa.
Deve ter o triplo do tamanho da minha. As paredes são sóbrias e o cômodo não tem nenhuma decoração, com exceção de uma televisão gigantesca e uma estante com livros enormes.
