Earn encarava a entrada do grande casarão. Pensava no quanto deveria ser solitário viver ali, um lugar tão grande com tão poucas pessoas. As janelas altas, com cortinas pesadas e escuras, escondiam qualquer traço de vida interior. Se perguntou como aquela casa poderia ser lar de uma criança.
Ela hesitou por um momento. Seus pés estavam fincados no chão de pedras da entrada. Com um suspiro profundo, ela deu o primeiro passo, cruzando a rua e indo em direção ao interfone. Não sabia o que esperar. O anúncio prometia apenas que precisavam de uma babá para cuidar de uma criança até o fim do dia, com a possibilidade de morar no casarão caso fosse necessidade. Earn obviamente tinha achado perfeito, já que tinha recém chegado naquele País para viver seu sonho. Poderia trabalhar, ter onde morar e a noite ir para suas aulas na Universidade de Artes da Itália.
Então, com uma ato, ela toca a campainha. Minutos se passaram antes de uma resposta. A voz do outro lado soou desconfiada:
— Quem é?
— Oi, olá! meu nome é Earn. Eu vim pelo anúncio de babá. — respondeu com cautela, tentando parecer confiante. Não obteve respostas. — Conversei com uma senhora por telefone, ela disse que eu poderia vir até aqui hoje e conversar com a senh... — O silêncio do outro lado parecia interminável, até que o som de um clique indicou que o portão havia sido destravado, antes mesmo que ela terminasse a frase.
Earn respirou fundo e empurrou o portão pesado. Ao caminhar pelo jardim negligenciado, notou esculturas antigas cobertas por folhas secas e plantas selvagens, dando a sensação de que o tempo havia parado naquele lugar. Sentia que aquele espaço era um potencial perdido de algo que poderia ser extremamente lindo.
Ela chegou finalmente à porta da entrada, onde uma senhora de cabelos levemente grisalhos já a esperava. Diferente do ambiente ao redor, a mulher tinha um sorriso caloroso e seus olhos transmitiam gentileza.
— Earn, querida! — a mulher a saudou, abrindo a porta com entusiasmo. — Que bom que realmente veio. Estávamos te esperando.
Earn, que até então se sentia envolvida por uma certa melancolia e frieza do lugar, ficou surpresa com a receptividade calorosa da senhora. O contraste entre o casarão imponente e a mulher amigável à sua frente a fez relaxar um pouco.
— Obrigada. Fico feliz em estar aqui — Earn respondeu, com um sorriso tímido, ainda tentando processar a mudança de atmosfera. A senhora estendeu a mão, convidando-a a entrar.
— A Senhora Fahalda já deve vir te receber. Ela acabou falando com você pelo interfone agora pouco. Logo ela deve te chamar para ir até seu escritório conversar sobre a proposta.
Enquanto dona Giorgia falava, Earn percebeu que era observada por uma pequena garotinha de olhos claros e com traços asiáticos.
— Ei, Dara. Venha cumprimentar a senhorita Sanithada.
Dara se aproximou, seus passos suaves ecoando pelo chão de madeira. Ela tinha uma expressão tímida, mas seus olhos eram incrivelmente atentos, como se estivesse tentando decifrar Earn. A menina parou diante dela, segurando um pequeno elefante de pelúcia.
— Olá, Dara — Earn disse com um sorriso suave, abaixando-se um pouco para ficar no mesmo nível da menina. — É um prazer conhecê-la. — Dara apenas assentiu, apertando o coelho de pelúcia contra o peito. Seu silêncio não era desconfortável. — Qual o nome do seu amiguinho, hein?
— Benji — Respondeu a garotinha, ainda tímida.
— Senhorita Sanithada — Earn se virou rapidamente para a voz que a chamava do alto das escadas da grande sala. A voz pertencia a mesma mulher que havia falado com ela no intefone. E assim como a voz, sua afeição também passava um ar sério. Mas Earn não se sentiu intimidada dessa vez. Na verdade, a jovem ficou intrigada pela beleza da mulher que, assim como sua filha, também tinha traços asiáticos. Mas, diferente dos olhos de Dara, a Senhorita Fahlada tinha olhos escuro, quase negros. — Poderia subir, por favor? gostaria de conversar com você.
— Claro. — Earn respondeu neutra. Deu uma piscadinha para Dara e cumprimentou a Senhora Giorgia antes que subisse os degraus. Sentia que já tinha conquistado as duas, mas sabia que seu maior desafio estaria a esperando no topo da casa.
Enquanto subia, ela espiava brevemente as pinturas abstratas pelas paredes. Havia uma combinação curiosa de desordem nelas, com cores que pareciam não ornar. Earn achou graça dos próprios pensamentos. Não conseguia deixar seu lado artístico de lado.
— Senhorita? — Fahlada a chamou. Earn se culpou por ter deixado se perder em seus pensamentos logo agora. — Por aqui, entre. — Disse, abrindo a porta do escritório.
O espaço era amplo e iluminado por uma enorme janela que ocupava quase toda a parede, deixando entrar a luz suave da tarde. Havia telas por todos os lados, Earn já não sabia mais com o que estava intrigada. Era muita informação em tão pouco tempo.
Fahalda se sentou atrás de uma grande mesa de madeira escura, gesticulando para que Earn se acomodasse em uma das cadeiras à frente.
— Você se apresentou no anúncio para babá — começou Fahalda, sem rodeios. — Mas preciso que entenda que este trabalho não é apenas cuidar de uma criança. Minha filha, Dara, é... especial. Ela é inteligente, mas precisa de incentivo para ser sociável. — Earn ouviu atentamente, absorvendo cada palavra, mas seu olhar ocasionalmente desviava para as pinturas ao redor, maravilhada pela intensidade delas. Fahlada percebeu a atenção de Earn nas pinturas e parou de falar.
— Me desculpe. Me perdi nas pinturas nas paredes. São intrigantes. Você que pintou? — E então, Earn viu a expressão de Fahlada, antes séria, se tornar um pouco mais dura. — Giorgia disse que precisa de um lugar para ficar, certo? — A mulher soltou as palavras como uma represália.
— Sim, sim senhora. Preciso. — A jovem de cabelos claros respondeu percebendo que ultrapassou os limites da outra mulher.
Fahlada cruzou os braços, sua expressão agora uma mistura de curiosidade e desconfiança. Ela observou Earn com atenção, tentando avaliar se a jovem realmente estava interessada no trabalho.
— Então, deixe-me ser clara — começou Fahlada, seu tom firme. — Dara precisa de mais do que uma babá comum. Ela precisa de alguém que possa lidar com a complexidade da sua personalidade e incentivá-la a interagir com o mundo de forma mais aberta. E, para ser honesta, não estou apenas contratando alguém para cuidar de Dara, mas também para se integrar a esta casa e, em certa medida, à minha vida. Hoje eu trabalho de casa, justamente para participar mais da rotina da Dara, então preciso que a casa esteja calma para participar de minhas reuniões e receber meus clientes quando necessário.
Earn ouviu tudo atentamente e pela forma que ela falava, já tinha quase certeza que ela também era tailandesa. Seu sotaque era presente no seu inglês fluente.
— Eu entendo. — Earn respondeu, sua voz firme apesar do nervosismo. — Estou disposta a fazer o que for necessário para ajudar Dara e me adaptar ao ambiente.
Fahlada olhou para Earn por um momento, sua expressão suavizou ligeiramente. Ela pareceu ponderar sobre a resposta antes de falar novamente.
— Muito bem. Então, vamos fazer um acordo. Você começará com um período de experiência para que possamos ver como você lida com Dara e com a dinâmica da casa. Se tudo correr bem, podemos discutir um contrato mais formal.
Earn assentiu, aliviada por não ter jogado a chance pelo ralo. Elas então acertaram mais detalhes sobre o trabalho. Concordaram que ela iria começar a se integrar na casa já a partir de amanhã, com a mudança. Antes de deixar Earn sair do escritório, Fahlada fez um gesto em direção a uma das pinturas na parede.
— E essas pinturas são do meu marido. Você está na Itália para estudar Artes, certo? Giorgia comentou algo assim. — Earn assentiu. — Poderia explorar um pouco do seu lado artístico com Dara? seu pai ficaria muito feliz se ela aflorasse mais esse lado.
"Ela tem marido..." — Earn pensou.
— Claro, senhora. Será um prazer.
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Ivy | LINGORM
FanfictionEarn sempre sonhou em se tornar uma renomada professora de Artes, mas nunca recebeu o apoio de sua família. Em um ato de coragem, ela decide aceitar uma bolsa de estudos para estudar na Itália. Mas, ao chegar na Europa, Earn precisava encarar a real...