O meu personagem - Pedro Gonçalves

-Capítulo 3-

- Temos tudo, vamos pagar.

- Está tudo?

- Está, vamos.

Empurrei o carrinho de compras até à linha de caixas.

Pagámos tudo e foi tudo para dentro de sacos.

- Se tu te esqueceres de alguma coisa, és tu que vens cá buscar.

- Não te preocupes, levo tudo, Célia. Falta só ir buscar a Carlota às 15h30. Vamos que já não temos o tempo todo.

Arrancámos até ao jardim de infância e estacionei à porta.

- Mamã!

A Carlota correu até aos meus braços e eu agarrei-a ao colo.

- Como foi a escola?

- Foi boa, mas o almoço foi peixe e eu não comi.

Fiz cara de aborrecida. Será possível que esta rapariga não coma nada?!

Fomos até casa e arrumei as compras.

- Célia, lês-me uma história?

- Claro, vai buscar o livro.

Ela correu lá para dentro e ri-me ao ver a escolha dela.

- Carlota, já falámos sobre isto. Esse livro não é para a tua idade, querida!

- Mas eu quero ler o livro da mamã!

- Vai buscar um das princesas, anda lá.

Ela voltou lá para dentro.

- Ela adora o teu livro.

- Pois, eu sinto-me um tanto quanto arrependida de o ter escrito. Sabes, o problema das autoras de romance, é que escrevem sobre quem amam e eu não amava lá uma grande pessoa.

- Eu entendo, mas sabes que mais? Acho que está na altura de voltares a escrever. Já passaram anos, Diana.

- Eu sei, mas não sei se tenho coragem para isso. O trabalho como tradutora e editora está-me ótimo. Não pretendo voltar a escrever, não agora.

- Pensa no que eu te disse. Tu tens talento, Diana! Pensa nisto, por favor.

- Vou ver.

Encolhi os ombros.

A Célia ía ralhar comigo pela minha reação, não fosse a mais nova correr em direção a ela com um livro em mãos.

Elas foram para o sofá e eu fui para o escritório para continuar a edição de um livro.

Quando eram seis horas, abandonei o trabalho.

Fui para a cozinha e comecei a preparar os ingredientes para o jantar.

- Mãe, é hoje que o Pedro vem cá?

- É sim, filha. Queres ajudar-me com a lasanha?

- Sim!