My muse

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    Ford estava em seu quartinho, deitado no sofá que lá tinha, seus olhos encararam o teto enquanto mordia inconscientemente seus próprios lábios. Sua cabeça estava a mil, seus olhos estavam inchados de tanto chorar e uma angústia crescia em si, fazendo sua garganta doer.

    O cientista conseguia se lembrar de cada pequeno detalhe daqueles dias, cada sensação, cada pensamento e tudo que isso causava para ele era mais e mais dor, uma tristeza imensa por ter sido traído pela criatura que mais amava em todo o multiverso, e hoje completava mais um ano desse acontecimento.

    Ele não conseguia se sentir inteiro desde então, claro que Bill era alguém horrível que só o usou e o machucou de todas as formas, mas de certo modo seus sentimentos não entendiam isso, eles só queriam o triângulo demoníaco de volta, não importava o que tinha acontecido ou o que viria a acontecer depois, ele só queria o amor da vida dele de volta.

    O homem até pensou em deixar tudo para trás e aceitar que Bill o tinha na palma das mãos, mas agora ele tinha pessoas que devia cuidar e sabia que Bill nunca os deixariam vivos, então essa ideia foi rapidamente descartada, mas deixar o triângulo amarelo em suas lembranças não parecia algo bom para ele, era doloroso, Bill era uma memória dolorosa para ele, mas o homem preferia morrer do que esquecer o demônio.

(...)

    Ford escrevia em seu diário usando seu código pessoal (Author's code), foram uma, duas, três páginas sobre como se sentia em relação ao demônio, toda a saudade sem sentido e a melancólica que isso causava, sobre como queria simplesmente o abraçar e nunca mais soltá-lo, porque de qualquer forma, aquela criatura foi a "única" que o ajudou e o entendeu, Bill um dia foi seu porto seguro, a pessoa com quem Ford poderia contar para todo o sempre, mas o sempre acabou. Não importava se tinham se passado 2 horas ou 30 anos, o sentimento de culpa era o mesmo.

    Ford fechou seu diário e se debruçou na mesa, começando a chorar por não saber o que fazer, não saber como agir, nada lhe parecia certo, não conseguia decidir que deveria trair seus sentimentos ou sua família, se ele estivesse pensando logicamente nunca teria essa dúvida, os sentimentos que se fodam! Mas é impossível usar a lógica em uma mente como a dela, um turbilhão de coisas e alternativas eram produzidas em seus pensamentos, e isso só lhe causava mais dores no corpo, seu estômago se revira e o homem sentia que iria vomitar todos os seus órgãos internos a qualquer momento.

    Estava com a mente tão cheia que não ouviu quando Dipper o chamou.

— Tivô Ford? O senhor está bem? — Dipper pergunta enquanto se aproxima do homem.

— Ah.. Ah! — Ford levanta sua cabeça rapidamente, limpando os olhos e se virando para o garoto — estou sim, o que quer?

— Stan te chamou para comer.

— Vou comer mais tarde.

— Hum.. Tudo bem, mas você está bem mesmo?

— Estou sim, agora deixe-me trabalhar.

— Ah, claro, se precisar de algo é só me avisar tivô Ford.

    Ford não disse nada, só ficou olhando o sobrinho se afastar e sair do local.

— Merda Ford.. Se recomponha, você não tem tempo para isso — o homem repreende a si mesmo, se levantando da cadeira e pegando algo no armário.

(...)

    Deitado em seu quarto novamente, Ford encarava a janela fechada, observando o céu escuro, e enquanto olhava para a paisagem, uma pequena lágrima escorreu de seus olhos.

— Ah.. Bill.. Eu sinto sua falta..

    Ford diz para si mesmo, virando para o outro lado.

— Se você ao menos fosse bom para mim.. Mas eu não conseguiria me importar menos, não agora — o cientista suspira — de qualquer forma, eu orgulho não me permitiria dizer nada à você, e isso seria uma grande traição com minha família, não seria?

    O homem tinha a esperança de ouvir a voz do demônio respondo-o, mas nada, apenas um silêncio ensurdecedor. Ford continuou a falar.

— Minha musa.. Você um dia realmente gostou de mim? Diga que "sim" mesmo que seja mentira.. — mais lágrimas caíram de seus olhos — fale a todos os seus capangas que eu sou o seu favorito.. Ou um dia fui, eu acho.

    Ford fechou os olhos e depois de algum tempo conseguiu dormir.


    Quando o homem acordou, sua cabeça latejava e seu sonho ecoava em sua mente, mas a única coisa que se lembrava era da risada de Bill.

(...)

Ford está apostando em cães perdedores

I need a human's touch~ BillFordOnde histórias criam vida. Descubra agora