03 - Poemas

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Com o primeiro item riscado da lista, eu sabia que o próximo passo precisaria ser mais sutil. Mas eu percebi que, para conquistar alguém como ela, eu não poderia ser direta. Não seria eu. Eu precisaria transmitir meus sentimentos à minha maneira, de uma forma que só ela pudesse entender.

Foi então que me ocorreu: palavras. Sempre fui boa com elas. Eu as usava para manipular, para ferir e, às vezes, para expressar as poucas emoções que permitia sentir. Um poema, ou melhor, uma série de poemas, seria o canal perfeito. Eu poderia me manter nas sombras, discreta, enviando minhas mensagens de forma que ela soubesse que alguém se importava. Mas nunca diretamente. Isso não era o meu estilo.

Naquela noite, com o caderno aberto à minha frente, escrevi o título do próximo item da lista:

2. Poemas

Eu me esforcei para escrever algo que carregasse o peso de quem eu sou. As palavras deveriam ter o toque melancólico de minhas emoções reprimidas, mas ao mesmo tempo deveriam refletir algo que falasse diretamente ao coração de Enid.

Na manhã seguinte, antes que Enid acordasse, deixei o primeiro poema cuidadosamente dobrado em cima de seu travesseiro.

"Entre a luz e a escuridão, há um espaço tênue,
Onde o silêncio grita mais alto que as palavras.
É lá que te observo, vibrante em cores,
Enquanto eu, na sombra, apenas te admiro."

Naquela tarde, eu a observei enquanto ela encontrava o bilhete. Sua reação foi um misto de surpresa e curiosidade. Enid desdobrou o papel com cuidado, seus olhos brilhando com a mesma energia que eu costumava achar irritante. Mas, dessa vez, fiquei... intrigada.

— Isso é lindo — ela sussurrou, mais para si mesma do que para mim, enquanto seus dedos deslizavam pelo papel. — Quem será que escreveu?

Eu, claro, fingi indiferença, mantendo meu olhar fixo no livro à minha frente. Quando ela olhou para mim, meu rosto permaneceu inexpressivo, como sempre.

— Wednesday, você acha que alguém da escola está me mandando poemas? — Enid perguntou, um sorriso suave em seus lábios. — Tem algo de tão... profundo nisso. Melancólico, mas... bonito.

— Parece que sim — murmurei, sem levantar os olhos do livro. — Talvez seja alguém que você conheça. Talvez não.

Ela deu de ombros, ainda segurando o bilhete com cuidado, como se fosse algo valioso. Eu sabia que havia tocado algo dentro dela. O poema havia alcançado seu objetivo.

O segundo poema deveria ser uma continuação natural do primeiro, mas com um toque mais profundo. Queria que ela sentisse que quem escrevia esses versos realmente a conhecia. Então, durante a noite, escrevi mais algumas linhas, revelando um pouco mais da minha perspectiva.

"Você dança em um mundo de luzes,
Eu caminho entre sombras que sussurram.
Mas nos momentos de silêncio,
É no escuro que te vejo com clareza."

Mais uma vez, deixei o bilhete antes que ela acordasse, desta vez escondido em seu casaco. Observei de longe enquanto Enid o encontrava durante a tarde, no meio de uma conversa animada com Yoko. Ela parou no meio da frase, o sorriso nos lábios se suavizando quando abriu o papel. Seus olhos correram pelas palavras com uma intensidade que não vi antes. Ela estava começando a se perguntar quem era o remetente.

— De novo? — ela murmurou, claramente surpresa. — Quem está me mandando esses poemas?

Yoko olhou curiosa, mas pareceu não se interessar tanto quanto Enid.

— Deve ser algum admirador secreto. Ou uma brincadeira — comentou a vampira com desdém.

— Não parece uma brincadeira — Enid respondeu, pensativa. — Esses poemas... têm algo real.

Eu permaneci impassível, mas meu olhar acompanhou cada detalhe de sua reação.

O terceiro poema precisava ir além. Eu já havia capturado sua atenção, mas agora precisava de algo que a fizesse refletir sobre quem, de fato, estaria por trás daqueles bilhetes misteriosos. E, ao mesmo tempo, deveria expressar mais abertamente a admiração que eu sentia.

"Há uma chama em você que eu nunca toquei,
Mas, mesmo de longe, ela aquece o vazio ao meu redor.
Você pode não me ver, mas eu vejo tudo,
E é por isso que continuo nas sombras."

Esse poema foi o mais arriscado até agora. Enid poderia começar a perceber quem estava enviando as mensagens, e, embora isso não me preocupasse, sabia que precisaria medir as consequências se fosse descoberta. Mas, para minha surpresa, ao encontrar o terceiro bilhete, ela não pareceu se aproximar da verdade, pelo menos, não ainda.

Desta vez, deixei o bilhete no bolso de sua jaqueta preferida, aquela cheia de estampas coloridas que eu particularmente detestava. Naquela tarde, vi quando ela colocou a mão no bolso e encontrou o papel dobrado. Enid abriu o bilhete lentamente, como se já esperasse por ele. Quando leu, seu sorriso se abriu, mas com uma expressão mais suave, quase... contemplativa.

Quem será você? — ela murmurou, olhando para a janela, como se esperasse que o remetente aparecesse.

Eu estava logo ali, apenas alguns metros de distância, observando em silêncio.

A lista estava funcionando melhor do que eu imaginava. A cada semana, Enid ficava mais curiosa sobre quem estava por trás dos poemas. E, mesmo sem saber, eu a estava conquistando pouco a pouco, de uma forma que só eu poderia.

A questão agora era: quanto tempo até que ela começasse a perceber? E, quando isso acontecesse, estaria pronta para lidar com a verdade?

EITA >:')

Hey, Sinclair. | WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora