em uma viagem missionaria qualquer, uma menina qualquer bateu um tok-tok suave em uma porta de madeira qualquer. uma senhorinha qualquer atendeu.
- bom dia! a senhora tem um minuto para conversarmos?
- tô ocupada agora - respondeu meio contrariada - tô fazendo almoço
- bem, se quiser eu posso te ajudar, voce manda e eu obedeço
- a mocinha nao deveria oferecer algo assim para uma velha como eu. olha que eu aceito, ein?
ao tom piadista ambas riram. aquela risadinha que demonstra que qualquer tipo de clima pesado é inexistente e todos estao desfrutando do momento e da companhia. a mais velha guiou a mais nova dentro da casa até a cozinha, nos fundos. era uma casa simples, mas com cara de casa que abrigou mais de uma geraçao com suas diferentes historias. era um verdadeiro lar.
- tu pode ir lavando os pratos enquanto eu faço essa massa, meu filha?
com a bucha em maos puxou o assunto:
- entao, como é o nome da senhora? ou melhor; como eu deveria chama-la?
- Lucinda. me chamam de dona Lucinda ou só de dona Lú. aí a mocinha escolhe
- tá bom, dona Lú, eu sou Maria. passando pela tua casa eu reparei em algumas fotos. sao da sua familia?
- sao sim. tem fotos dos meu netos, dos meus filhos, minha e do meu marido e dos que vieram antes. agora a gente é em quinze. tres filhos e oito netos, um deles é casado e tem um bebezinho.
- imagino que a senhora tem varias historias para contar, nao é, dona Lú?
- ô, filha, voce nao faz nem ideia!
- quantos anos voce tinha na sua memoria mais antiga?
- eu devia ter uns 4, nao sei bem. eu tava ajudando minha mae e uma outra mulher a cozinhar. eu tava cortando uns tocos de cenoura
um silencio se instalou por alguns segundos. dona Lucinda nao falou nada, pois estava provavelmente lembrando de algo bom do passado - era o que o sorriso saudoso comunicava. Maria nao falou nada, pois ficou sem saber bem o que falar e resolveu respeitar o momento nostalgico. pouco depois dona Lucinda deu um breve suspiro e viu que Maria estava terminando de enxaguar as ultimas coisas.
- ah, olha só! já terminou ai, num foi? entao venha cá me ajudar a cortar umas cebolas. eu vou botar elas na torta. é um toque especial arretado, visse?
- ok, mas vou avisar-lhe que eu posso chorar um pouquinho
- tudo bem, eu faço companhia - ambas riram - bem, mas a mocinha queria falar algo especifico quando veio aqui?
- na verdade, sim. (eu devo cortar picadinho?) eu vim pra essa cidade numa viagem com algumas outras pessoas. a gente está conversando com os moradores daqui, sabe? o plano é conhecer voces melhor e convida-los para reuniao que faremos na pracinha
- e que reuniao é essa?
- o proposito da reuniao é conversarmos mais, cantarmos algumas musicas e, principalmente, aprendermos sobre Deus. vai ser as 17h. o que voce acha?
- vixi, nao sei se eu vô poder ir.
- ah, serio? é uma pena! mas a senhora aceitaria que eu te explicasse um pouco do conteudo que queremos tratar na reuniao?
- claro, pode falar
- sabe, a senhora acredita que o Deus da biblia existe?
- minha avó era católica e minha mae me levou em algumas missas. imagino que sim
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A Conversa Antes Do Almoço
Short StoryEm um dia de almoço em família, uma senhora ouve batidas na porta. Em um dia de viagem, uma garota bate em uma porta. Entre muita conversa elas terminam de preparar o almoço juntas