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Uma semana depois

Enid Sinclair

- Gente, olha essa: "Querida Julieta, existe algo pior nesse mundo do que um homem?"
- Yoko lê a carta em um tom cômico.

- Sim, dois! - Divina responde.

Nosso dia a dia no escritório é basicamente assim, ajudamos umas às outras na hora de escrever alguma resposta mais complicada, compartilhamos as cartas engraçadas que, surpreendentemente, são muitas. Às vezes saímos do escritório com a mandíbula doendo de tanto rir e às vezes com dor de cabeça de tanto chorar.

E é isso que me faz persistir nisso, vivemos um pouquinho da vida de cada mulher que deixa uma carta.

- Divina, essa é pra você! - olho de relance, apontando pra carta na minha mão - "Julieta, eu sou apaixonada pela minha amiga mas não sei como falar isso pra ela. Tenho medo de estragar tudo... Me ajuda, por favor." - termino a leitura com uma risada. Ela sabe bem o que eu quis dizer com isso.

- Olha só tampinha de bueiro, qual a sua tara comigo? - ela me questiona. - Oh, essa combinação não foi proposital.

- Eu gosto de irritar você, é divertido. - concluo.

- Isso é T e E maiúsculo enrustido. - Isabel diz.

Encaro a minha irmã com espanto, Yoko se remexe na cadeira enquanto Divina apenas ri.

- Credo Isabel, você tá jogando praga em mim? - Divina questiona - A única pessoa que aguenta essa não querida é o meu irmão.

- E... sem contar que a Divina tem T maiúsculo por outra pessoa daqui. - Digo em um quase murmuro, mas alto o suficiente pra elas ouvirem.

- Quem? - Yoko questiona, genuinamente curiosa.

- Vo...- Isabel é interrompida pelo barulho da porta abrindo - Que porra?

Me viro imediatamente em direção à porta e... 

Uau 

Uma mulher extremamente linda estava parada no batente da porta enquanto encarava a mesa onde estávamos lendo as cartas. Ela era alta e tinha o cabelo longo e liso, a cor era puxada 'pra um castanho escuro, os seus olhos pretos brilhavam por conta da luz do sol que ultrapassava a janela, a morena vestia um sobretudo preto que destacava o batom vermelho da sua boca. 

Era uma turista, uma turista linda, por sinal. 

- Oi, me desculpem interromper, mas... - a voz dela é linda - Vocês são as secretárias de Julieta? 

- Sim, nós somos. - Divina responde. 

- Ótimo! - a mulher sorri - Eu posso saber qual de vocês escreveu essa carta pra minha avó, Amélia Addams? 

Ela tira a carta da bolsa e coloca no canto da mesa. Eu me levanto da cadeira, meramente surpresa, não sabia que a carta tinha realmente chegado até a Dona Amélia. 

- Eu, foi eu que escrevi! - digo me aproximando da mulher - Não acredito que chegou até você. 

- E, foi uma carta muito atenciosa... - ela sorri e me puxa pelo ombro até uma parte mais isolada da sala - Agora me diz, o que diabos você estava pensando? 

O sorriso dela se desfaz no mesmo instante que o meu. Agora uma expressão de desapontamento se faz presente no rosto dela. 

É sério que essa moça veio até aqui só
porque não gostou da carta? 

- Eu achei que ela merecia uma resposta. 

- Há 50 anos atrás talvez, não agora! - diz de forma cortante. 

- Ué, eu não sabia que o amor verdadeiro tinha data de validade.

Ela ri sarcasticamente.

- Amor verdadeiro? Sério? - confirmo com a cabeça, ela revira os olhos - Tem ideia do que teria acontecido se ela não tivesse fugido?

- Tenho sim, você não estaria aqui enchendo o meu saco.

- Uhum... E o que você faz aqui, hein? É uma americana sozinha que quer viver através dos outros? - Ela me encara.

- Não sou sozinha! Eu tenho um namorado.

- Ah, meus pêsames a ele.

Ela se vira e anda em direção à porta.

Cretina.

Ela não vai falar merda 'pra mim e ir embora sem ao menos falar qual foi a reação da Amélia quando leu a carta.

- Ei, espera! - grito descendo as escadas atrás da moça - Veio de Los Angeles até aqui 'pra me dar um sermão?

- Vim 'pra não deixar a minha avó vir sozinha.
- ela diz ainda caminhando.

- Amélia está aqui? Por quê? - não consigo esconder a empolgação na minha voz - Ai meu deus! Ela veio encontrar o Louis, que irado!

- Irado? - ela questiona finalmente parando de caminhar - E se o Louis não quiser vê-lá? - ela se aproxima de mim - Se ele a esqueceu? Ou se está doente ou morto... Isso é só uma suposição.

A encaro.

Isso foi golpe baixo, eu não tinha parado 'pra pensar nessas situações. Não foi a minha intenção fazer a Amélia criar falsas esperanças sobre isso.

A moça bonita tinha razão, eu sabia.

- Imaginei. - a garota completa me tirando dos desvaneios.

- eu quero conhecê-la, eu quero conhecer Amélia!

- e eu quero namorar a Zendaya, mas eu não sou o Tom Holland. - ela debocha e volta a andar.

- Vou seguir essa cretina - Sussurro.

Letters to Juliet •  Wenclair (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora