Aviso de conteúdo
Este capítulo contém cenas que podem ser sensíveis para alguns leitores, incluindo violência física, psicológica e temas de abuso........
Ao sair da universidade, Eloise seguiu pelas ruas de Nova York, tentando ganhar tempo antes de voltar para casa. Seus passos eram lentos, como se o destino final fosse uma armadilha da qual ela tentava fugir. Ela passou por uma cafeteria, pensou em entrar, mas logo desistiu. Qualquer atraso podia fazer Theo suspeitar, e ela não podia dar a ele mais motivos para sua raiva.
O céu começava a se tingir de laranja quando finalmente alcançou a porta de seu apartamento. Com a chave na mão, hesitou por alguns segundos. O silêncio do corredor parecia ecoar seus próprios pensamentos. Ela respirou fundo e girou a chave.
Assim que abriu a porta, o som da televisão ligada preencheu o ambiente. Theo estava jogado no sofá, os olhos vidrados na tela. Por um breve momento, ela sentiu alívio; parecia que ele estava distraído. Ela entrou silenciosamente, tentando passar despercebida, mas o rangido da porta ao se fechar quebrou o silêncio.
Theo virou a cabeça, e seus olhos se estreitaram ao vê-la.
"Finalmente. Pensei que fosse passar a noite na droga da universidade."
Sua voz era fria, cortante. Eloise evitou o contato visual, seu coração acelerando. Ela colocou a bolsa em cima do balcão da cozinha, tentando parecer o mais casual possível.
"Tive muito trabalho hoje... Fiquei corrigindo provas até tarde."
Ela começou a andar em direção ao quarto, esperando evitar mais uma discussão. Mas antes que conseguisse sair da sala, Theo levantou-se do sofá com um movimento brusco, bloqueando seu caminho.
"Corrigindo provas?" – sua voz carregava uma nota de incredulidade. – "É isso mesmo, Eloise? Ou você estava com algum colega de trabalho?"
Ela congelou. Esse tipo de acusação já havia se tornado comum. Não importava o que ela dissesse, Theo sempre encontrava uma forma de distorcer a realidade. Ele se aproximou mais, invadindo o espaço dela, e Eloise sentiu o cheiro forte de álcool em sua respiração.
"Claro que não, Theo. Eu estava trabalhando. Eu sempre trabalho até tarde."
Ela tentou se afastar, mas Theo segurou seu braço com força. O aperto era doloroso, mas ela sabia que não devia reagir. Toda vez que ela resistia, a situação piorava.
"Sempre trabalhando, né? Interessante. E eu, Eloise? Onde eu fico nisso? Parece que você nem se importa mais com essa relação!"
Eloise fechou os olhos por um momento, lutando para não perder o controle. Ela sabia que Theo estava bêbado, e quando ele bebia, sua raiva só aumentava.
"Eu me importo, Theo... Mas o trabalho é importante. Não podemos viver sem dinheiro."
"Dinheiro, dinheiro, dinheiro!" – ele gritou, soltando-a com um empurrão que quase a fez cair. – "É só isso que você pensa! E o que você me dá em troca? Nada! Não é à toa que eu fico desse jeito!"
Eloise segurou-se na mesa para recuperar o equilíbrio, sentindo o corpo tremer. A raiva de Theo estava sempre à espreita, pronta para explodir por qualquer motivo. Ela sabia que, por mais que tentasse apaziguá-lo, nada do que dissesse seria suficiente.
"Você acha que eu sou idiota, não é? Acha que eu não percebo como você se afasta de mim, como se eu fosse um peso na sua vida?"
O coração de Eloise apertou. As palavras de Theo ecoavam as mesmas dúvidas e medos que ela havia tentado esconder por tanto tempo. Ela não sabia mais o que dizer para acalmá-lo, então apenas abaixou a cabeça, em silêncio.
"Não é isso... Eu só estou cansada, Theo."
Ela tentou ir para o quarto, mas Theo novamente bloqueou seu caminho, agora segurando-a pelos ombros, forçando-a a olhar para ele.
"Cansada? Você acha que eu não estou cansado? Eu tenho aguentado isso por meses, Eloise! Você me ignora, finge que eu não existo. Eu sou seu marido! O que você está esperando? Que eu fique aqui assistindo enquanto você joga nosso casamento no lixo?"
Eloise podia sentir a raiva de Theo crescendo, e o medo apertava seu peito como um punho invisível. Ela tentou se soltar, mas a pressão das mãos dele nos seus ombros era implacável.
"Eu... eu não estou jogando nada fora, Theo."
Mas antes que ela pudesse terminar, Theo a soltou bruscamente, empurrando-a para trás. Ela tropeçou, batendo as costas na parede. O impacto a deixou sem fôlego por um segundo, mas ela se forçou a ficar de pé, lutando contra as lágrimas.
"Você acha que eu não sei? Eu sei que tem algo acontecendo. Sei que você não me ama mais. E sabe de uma coisa, Eloise? Se eu descobrir que você está me traindo, eu juro que vai se arrepender."
Os olhos de Theo estavam cheios de raiva e desconfiança, e Eloise sabia que qualquer palavra que ela dissesse só pioraria as coisas. Ela assentiu silenciosamente, sabendo que resistir ou argumentar não adiantaria. O melhor que podia fazer era se afastar e esperar que a tempestade passasse.
Ela se moveu lentamente em direção ao quarto, sentindo os olhos de Theo queimando suas costas. Quando finalmente fechou a porta atrás de si, deixou escapar um suspiro trêmulo, o som das lágrimas contidas escapando de sua garganta. Seu corpo doía, não só pelo empurrão, mas pela tensão constante de viver nessa prisão emocional.
Sentada na beira da cama, Eloise olhou para o pequeno espelho sobre a cômoda. O reflexo que ela via não era mais o de uma mulher segura e cheia de vida. Agora, seus olhos estavam opacos, como se todo o brilho tivesse sido drenado. Sua pele estava pálida, as olheiras denunciavam noites mal dormidas, e seus ombros estavam sempre curvados, como se carregassem um peso invisível.
Ela queria gritar, pedir ajuda, mas a vergonha e o medo a silenciavam. Havia momentos em que pensava em contar a alguém – Penélope, talvez, ou Francesca. Mas como poderia explicar? Como poderia admitir que o homem com quem ela havia escolhido casar era um monstro? E, pior, como poderia lidar com as consequências se Theo descobrisse?
Lentamente, Eloise deitou na cama, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente por seu rosto. Ela sabia que, do outro lado da porta, Theo ainda estava lá, pronto para explodir a qualquer momento. Seu corpo inteiro estava em alerta, esperando o som da porta se abrir de novo, o grito de Theo, o próximo ataque.
Mas, por enquanto, havia apenas silêncio.
Eloise fechou os olhos, desejando com todas as suas forças que, de alguma forma, pudesse escapar desse pesadelo. Ela queria desaparecer, fugir, mas algo a mantinha presa. Talvez fosse o medo de enfrentar o que viria depois. Talvez fosse o medo de encarar o fato de que ela havia perdido completamente o controle de sua vida.
Ela se encolheu em um canto da cama, abraçando os joelhos, enquanto o som distante da televisão ecoava pela casa. A noite seria longa. E, como tantas outras antes dessa, Eloise sabia que a única coisa que podia fazer era sobreviver. Sobreviver ao silêncio, à dor, à solidão. Sobreviver a Theo.

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My Salvation - Philoise
FanfictionQuando eu me vi perdida em meio às minhas tempestades, você foi o meu raio de sol... Quando pensei que estava destinada a sofrer, você trouxe a luz que eu jamais imaginei encontrar... Eloise Bridgerton passou anos aprisionada em um relacionamento se...