Helena
── Dispenso. — Falei, e então ele suspirou, me encarando.
── Duzentos mil?! Duzentos e cinquenta! — Argumentou, e eu o encarei com seriedade. É um ótimo dinheiro, bem acima da média para o que eu vou fazer.
── Okay. Palmeiras contra quem? Que dia? Hora? — Questionei.
── Palmeiras contra Flamengo, sábado, dezesseis horas. — Respondeu de forma simples. ── Tenta focar bastante no Richard Ríos. — Falou, e eu engoli em seco sem perceber. ── Ele tá gerando bastante mídia e meio que sendo o destaque do time, precisamos de boas fotos dele!
── Okay, vou fazer o possível. — Falei, levantando e pegando minhas coisas.
Me despedi do homem cujo nome já esqueci e segui para o meu carro. Essa semana, o Gabriel está viajando para um campeonato. Quis me levar junto, mas eu não estava a fim de sair da minha linda cama às cinco da manhã. Heloísa está de rolo com o Garro, nunca ouvi falar, mas aparentemente é um jogador de futebol e agora só vive grudada nele. Marina está grávida e depressiva, só fica em casa e não quer falar com mais ninguém. E a Sophia foi com o Gabi viajar. Estou praticamente sozinha!
Não é tão ruim, eu gosto de ficar sozinha.
Mas me acostumei com a companhia dele.
Ao chegar em casa, tomei um banho longo para ver se acordava. O sono me consumia por inteiro. Após vestir apenas uma calcinha e uma camiseta do meu namorado, caminhei em largos passos até a cozinha, peguei um vinho e servi uma taça. Fui até a sacada e me escorei ali, observando as pessoas na rua enquanto bebia minha dose de desestresse.
Um casal se beijando na rua, e ele implicando com ela depois. Até parece nós dois.
Desviei mais uma vez o olhar e vi uma menina com, creio eu, o pai dela. Aproximadamente uns seis anos, ela tagarelava sobre qualquer assunto enquanto o homem fingia estar interessado. Ela estava saltitante, e ele radiante, com um sorriso largo.
Família é foda. Eu trocava tudo, trocava dinheiro, minha casa, meu carro, trocava qualquer coisa material de valor ou até mesmo sem valor, só para voltar à minha infância, ter meu pai comigo e trocar a mãe que eu tenho. Sei que não posso ser ingrata com ela, mas eu não consigo me dar bem com ela, sentir carinho, um amor genuíno.
Atualmente, meu amor número um sou eu, e o número dois é o Medina, mas se fosse possível, eu o trocaria por isso. Eu faria de tudo para ter uma família saudável e estável.
Será que meu pai gostaria dele?
Quando vi, já estava na terceira ou quarta taça de vinho. Mais um piscar de olhos, e simplesmente sequei a garrafa. Deixei a taça sobre a pia e me joguei no sofá, sonolenta, enquanto meu celular vibrava incessantemente ao meu lado. Mas eu não queria atender, não agora. Estava perdida demais nos meus pensamentos e na minha própria brisa para dar atenção a qualquer outra pessoa que fosse.
Deitada no sofá, senti o peso da solidão se misturar com o leve torpor do vinho. Minha cabeça girava um pouco, não o suficiente para me incomodar, mas o bastante para me fazer questionar as escolhas recentes. O celular continuava vibrando, insistente. Suspirei, sabendo que, uma hora ou outra, teria que encarar a realidade novamente.
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lentes no horizonte, gabriel medina.
Fanfiction── Aquela lá é a Leninha, filha dos ventos, pior que furacão. Onde passa faz estrago! 01.08.2024