Capítulo 3

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Se tem algo que eu odeio, é ser acordado e já fazem dois dias que o que me acorda pela manhã é um sino extremamente alto, como se tivesse badalado dentro da minha cabeça. Levanto um pouco a cabeça e consigo ver através da janela um garoto puxando a corda do grande sino no meio das cabanas. Eu só consigo pensar em como queria estrangulá-lo com aquela corda neste momento.

Volto a deitar e me espreguiço na cama totalmente revirada, soltando um grunhido gutural em seguida. Quando me viro, vejo Jimin sentado ao meu lado, de frente para mim.

— Bom dia — ele diz baixinho, com o rosto um pouco inchado.

A cena me faz rir. Jimin está com as bochechas e bico ainda maiores, mas seu olho está menor do que o de costume quase se fechando. Sem falar no cabelo, apontando para todos os lados.

— Bom dia — respondo baixo, sorrindo olhando a cena.

Eu me levanto e Jimin continua sentado. Mais uma vez, me espreguiço, ficando até nas pontas dos pés, e quando olho novamente para Jimin, seus olhos estão arregalados e seu rosto completamente vermelho. Inicialmente, minha expressão é de confusão, mas quando meus olhos seguem o mesmo caminho que os dele, quero me enfiar em um buraco..

Meus olhos se arregalam e eu coloco a mão em frente à minha calça de moletom é praticamente grito:

— Preciso mijar! — e corro para o banheiro, fechando a porta com força.

E para deixar tudo mais vergonhoso, sou acostumado a dormir sem cueca.

Quando encosto a cabeça na porta, bato nela várias vezes, me xingando internamente.

Depois de passar alguns minutos tentando acertar o buraco do vaso sanitário e falhando miseravelmente, seco o que espirrou para fora com um pedaço de papel higiênico e finalmente começo a escovar os dentes — depois de lavar as mãos, claro.

Molhei meu pescoço e rosto por mais tempo do que devia, porém a água fria da torneira parecia não ajudar em nada a acalmar a agitação que eu sentia. Olhei meu reflexo no espelho, tentando encontrar um pouco de dignidade entre a confusão e a vergonha. "Deus se eu levantar o braço, o senhor me leva?"

Depois de escovar os dentes e respirar fundo, resolvi encarar a situação. Abri a porta do banheiro, meio hesitante. O silêncio do quarto era estranho. Me deparo com Jimin segurando o livro que eu estava lendo na noite anterior. Eros, da Ruth Oliveira.

— Desculpa... — eu murmurei, sem saber muito bem como me justificar.

Ele me olhou com um meio sorriso, ainda com as bochechas coradas.

— É... tudo bem. Acontece. — Ele tentou parecer despreocupado, mas o brilho nos olhos entregava que ele estava se divertindo — Já terminou? — pergunta, referindo-se ao livro, e eu nego. — O que está achando?

Sentei-me na cama, agradecendo por ele mudar de assunto e ignorar a situação embaraçosa.

— Estou gostando — dou de ombros. — Óbvio que estou achando o Juno, que é um dos principais, um gigante escroto, mas ainda tem muitos capítulos para eu mudar de ideia — explico, e ele coloca o livro de volta onde estava.

No fundo, ainda queria me esconder debaixo da cama, mas a presença de Jimin era reconfortante. Eu só esperava que esse incidente não se tornasse uma história que ele contaria para todo mundo.

— Quando terminar, me empresta? — pergunta, e eu juro que vi os olhos dele brilharem. — Prometo tomar cuidado — junta as mãos em súplica. — Por favoooooor.

Eu normalmente negaria com a expressão mais óbvia no rosto, pois meus livros são os meus tesouros e odeio que mexam neles. Então, nesse momento, eu juro que um alien tomou conta de mim e do meu corpo, me fazendo dizer sim para aquele rostinho tão fofo com os olhos pidões.

DIÁRIO DE UM ACAMPAMENTO  •  jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora