Shanyar

Capítulo 1: O Limiar Da Descoberta

O som suave e contínuo do ar condicionado sibilava nas paredes metálicas do complexo da ACRTAM. Dentro da imponente sede da agência espacial, um edifício moderno que se erguia como uma fortaleza de vidro e aço nas montanhas da antiga Patagônia, dois cientistas iniciavam mais um dia comum.
 Pelo menos, assim parecia.

 Bárbara caminhava pelos corredores com passos firmes e calculados, como era de se esperar de alguém tão meticulosa quanto ela. Seu jaleco branco, impecavelmente alinhado, refletia o brilho das luzes LED que iluminavam o salão principal do centro de pesquisa. Ela ajustava os óculos quadrados sobre o nariz enquanto analisava as últimas leituras no *DataSphere*, um dispositivo esférico flutuante que projetava hologramas tridimensionais de gráficos e dados em tempo real. O *DataSphere* era um dos mais recentes avanços da ACRTAM, e Bárbara sempre se orgulhara de dominá-lo como ninguém. Seus olhos, sempre atentos, vasculhavam cada ponto das projeções flutuantes em busca de qualquer anomalia, qualquer desvio que pudesse sugerir algo novo.

— "Sempre tão séria, hein, Bárbara?" — A voz de Roberto ecoou alegremente pelo salão.

Ele apareceu atrás dela, com aquele sorriso habitual, os cabelos um pouco bagunçados e a postura relaxada. Diferente de Bárbara, que seguia uma rotina rígida e inquebrável, Roberto era pura espontaneidade. Seu jaleco estava desabotoado, e o crachá pendia de qualquer jeito. Os olhos brilhavam com a curiosidade natural de quem via a ciência não como um trabalho, mas como uma grande diversão!

— "Alguém precisa manter as coisas em ordem por aqui" — retrucou Bárbara, sem desviar os olhos do *DataSphere*.
— "Se fosse depender de você, estaríamos com os dados de Marte misturados com as medições do cinturão de asteroides."

— "Hey, relaxa! Por isso estamos aqui em dupla, para equilibrar as coisas" — respondeu ele, piscando, enquanto dava um leve empurrão no *HoverTerminal*, uma tela de controle que flutuava ao seu lado.
— "E além do mais, a criatividade nasce do caos, minha cara!"

Bárbara revirou os olhos, mas havia uma certa leveza no gesto. Embora fossem completamente diferentes, havia uma sinergia inegável entre os dois. Ela respeitava o jeito de Roberto, ainda que ele muitas vezes a tirasse do sério com sua falta de seriedade. Por outro lado, ele via nela a âncora necessária para manter os pés no chão enquanto sua mente vagava por teorias e especulações mirabolantes.

— "Então, o que temos hoje? Mais leituras do alinhamento?" — perguntou Roberto, puxando um banco flutuante, que se ajustava automaticamente à sua altura.

 Bárbara não respondia por estar muito mais do que concentrada com seus olhos focados nos dados flutuando à sua frente, ela ajustava as configurações do OrbView-S10, um satélite posicionado acima do plano orbital do sistema solar. O satélite tinha um propósito específico: registrar o alinhamento dos planetas, um fenômeno que ocorria uma vez a cada várias décadas e que sempre fascinava os astrônomos.

— "Está tudo em ordem, Roberto?" — perguntou Bárbara, com seu tom meticuloso e direto, enquanto passava os dedos pela superfície da interface holográfica.

Roberto, sentado de forma desleixada em sua cadeira flutuante, mastigava uma barra de cereais e observava a sequência de fotos que o satélite estava transmitindo. Ao contrário de Bárbara, que tinha uma postura sempre impecável e séria, ele parecia estar aproveitando o momento, como se aquele fosse apenas mais um dia comum.

— "Sim, senhorita perfeccionista. O satélite está funcionando perfeitamente. Só estou esperando as imagens da grande dança cósmica. Sabe como é, planetas alinhados, aquele espetáculo clássico do universo."

Bárbara revirou os olhos, mas não pôde evitar um leve sorriso. Era assim com Roberto — ele sempre conseguia encontrar leveza onde ela só via seriedade.

— "Lembre-se de que este experimento é mais do que apenas uma foto bonita. Estamos mapeando as forças gravitacionais durante o alinhamento para ver como elas podem afetar as futuras viagens espaciais. Não é um show, Roberto. É ciência."