Ao fim da noite, já arrumada vou a festa de um desconhecido e era a primeira vez em muito tempo que iria sair rumo a de fato uma diversão.
Entro no carro e com olhos atentos observo cada imprudência de trafego e realmente dirigir aqui não é para mim, essa cidade não tem mais conserto. Volto a pensar o que seria uma festa de "bons modos" era o que dizia o convite.
Ao chegar na pequena casa, suspiro, desço e vejo o carro sumir de vista, me movimento com passos lentos até a entrada, onde toco o interfone e espero uma resposta.
- Quem é? – Ouço uma voz masculina desconhecida.
- 0008! – Era o que o convite mandava informar, logo vejo um rapaz de terno aparecer ao longe. – Não veio acompanhada? – Balancei a cabeça em negativo, ele sorriu e um gelo tomou conta de minha cabeça, pôs uma pulseira preta em meu braço e eu só penso onde me meti.
Ao entrar em uma grande sala, tudo era decorado de forma simples e elegante, realmente faixadas enganam, a casa era enorme, muitas pessoas vestidas de forma elegante ou até mesmo num exagero sem fim.
Observava as outras pulseiras e preta igual a minha só avistei mais três, procurava em algum lugar uma legenda para aquilo e não havia nada, odeio sair sem companhia e pior não conhecia ninguém, pessoas estranhas, casadas, muitas bebidas e eu só queria me divertir.
Logo fui procurar onde sentar, e sentei perto de uma espécie de palco e fiquei ali, parada, pessoas me olhavam e logo ficou tudo escuro, e uma música calma começou a tocar e que bom que o show começaria em breve.
Apareceu o mesmo rapaz de terno, com menos roupas, camisa branca social e sem calças, franzi a testa e respirei fundo, não iria julgar sem ao menos ver algo interessante.
Ele se debruçou em uma espécie de cavalete e logo apareceu mais um rapaz e com um dildo monstro e onde foi que eu me meti? Ele enfiava grosseiramente e sem nenhum tipo de lubrificação aquilo nos anus do rapaz que gritava e logo as pessoas começaram uma espécie de sessão de BDSM.
Eu olhava assustada e logo um outro rapaz pegou em minha mão, vendo minha expressão de susto me guiou até as escadas e quando chegamos a um corredor ele me disse: - Aqui existem coisas mais leves. – Fomos até o primeiro quarto onde tinham vários homens entrando e saindo de uma mulher miúda, magrinha e pequena, ela fazia expressões de dor e enquanto eu olhava para o rapaz horrorizada. – Não se preocupe, todos são maiores e é tudo consentido. – A euforia da diversão sumiu de meu corpo e eu só pensava que não teria como ficar pior, logo entendi o nome da festa e eu não precisava desta aula de etiqueta.
A curiosidade me matava para descobrir o que tinha nos outros quartos, logo me movi rápido e fui para o próximo e sempre pode piorar mais pessoas e mais fetiches estranhos, um cheiro fétido e eu não demorei nada nesse.
Avistei uma porta escrito descanso e fui para lá, sentei em uma poltrona e tinham televisões e pessoas se masturbando, pelo que eu entendi eram de voyeurs.
- Ei... ei moço? – Ele me olhava surpreso. – Olha eu vou tirar um cochilo aqui e daqui a pouco me acorde e não deixe ninguém mexer em mim. –Ele riu e disse: - Sua primeira vez? - Assenti e ele riu mais e por que uma pessoa vem a um local desse para se masturbar quando ele pode se satisfazer com as pessoas aqui?
...
Acordei com toques na cabeça. – Mas que porra é essa? – Olhava para o cara que fungava os meus cabelos. – Meu fetiche é cheirar. – Não pude evitar rir cruelmente deste. – Está bem moço, vou dar uma rodadinha por aí.
Fui a outro quarto, tive que colocar um avental, luvas e touca, mascara... havia uma maca cirúrgica e um cara todo bem protegido e logo entendi o que se passava, uma moça deitada, com muitas agulhas enfiadas em si, giletes enfiadas em sua coxa.
Suspirei fundo, olhei ao redor e realmente as pessoas fazem loucuras.
- Quer por uma agulha também? – Neguei, sorri tentando parecer simpática. - Desculpe, não tenho praticas. – Fui me afastando, dando espaço para o vazio, até me bater em uma moça, loira e alta, coberta somente pelo avental. – Eu te ensino! – Segurou minhas mãos e foi me guiando até a pobre moça. – Veja... – enfiava rapidamente as agulhas e eu só pensava que melhor nela do que em mim. – Viu tem que ser rápido e sem parar. – E assim fiz, não senti prazer nenhum nisso e espero que acabe logo!
...
Após sair daquela loucura, ofegava contra meu intimo para saber se abria mais uma porta ou ia embora e quando me dei conta estava em meio a um spanking, um casal pendurado no teto, cheios de lapões, arranhões causados por sei lá o quê?
Os vergalhões e a vermelhidão são de assustar, não tem como eu me sujeitar a passar por isso, não tem como sentir o gosto do sangue em minha boca sem ser em uma briga, é simplesmente irreal.
Me aproximei e o vermelho é quase roxo, como se fossem pisões de sangue, marcas circulares, eu cheguei muito perto, precisava ver de fato, eu não sei se acolheria uma pessoa dessas... as vezes é preciso deixar sofrer mesmo.
Não entra na minha cabeça o pensamento de que sofrer vai me dar prazer, eu choraria rios e oceanos para ter um sexo tranquilo, por que se a pessoa me bater eu devolvo com cadeiradas.
Olhar aquela situação de um casal ambos com a mesma aliança, apanhar de um terceiro e de mãos dadas, gemendo em satisfação não era o meu planejamento de diversão, eu nem sei mais o que é real a este ponto.
Quero explorar mais, saí de meus pensamentos, aquele quarto era quente e eu precisava de água, muita água. Voltei ao corredor e faltavam mais duas portas e eu optei pela preta, a de vidro seria a última.
A sala era escura, com tudo revestido de couro, tudo era couro, fascinante como o dinheiro muda o homem. Luxo em tudo até nas pessoas, era disposto com poucas coisas e pessoas fazendo o simples... sexo amarradas, amordaçadas e eu achei bem normal até.
- Droga! – Chamei atenção de alguns, sorri meio sem jeito e afastei o banco no qual me bati. – Continuem! - Falei dando as costas e me correndo em direção as escadas, desci apressada e olhei para frente, lá tinham os olhos mais castanhos que já vi, me olhava num fundo dos olhos e quando coloquei os pés no solo foi como pisar no vazio.
Fui até a porta de entrada e estava trancada, tentei tirar aquela pulseira e ela não saia por nada, me virei e aquela figura me prensava contra a porta.
- Daqui você não saí nunca mais docinho! – Soprou uma fumaça em meu rosto e fui perdendo os sentidos aos poucos, desfalecendo, cambaleando, até que senti meu corpo bater forte contra o piso...
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What is real?
Short StoryEntre a porta e a faixada, entre o solo e o pé, o que de fato paira no meio do libidinoso, dolorido e o que de fato pode ser irreal? - Não sobre sentimentos pelo outro e sim por si... pedaços ou inteiro? Questionamos se realmente habitamos e se habi...