Capítulo 3 - A Tempestade.

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Ciize saiu do apartamento de Milk aos prantos. Nem ela acreditava que tinha tido coragem para abandonar aquela que fez seu coração bater mais rápido que pingos de água de chuva. Falando em chuva. A mesma já caia na cidade com uma certa intensidade. O governo emitiu alertas pedindo a população que evitassem áreas alagadas e que permanecessem em lugares seguros. No entanto, apesar de receber a mensagem, Ciize nem a abriu. Entrou num táxi e seguiu para casa. Pelo menos, tentou.

...

Milk ainda olha assustada para o visor do celular. A mensagem ainda está lá aguardando uma resposta: - [Ainda acordada? Podemos conversar?]. - Com as mãos trêmulas digita: - [Sim!].

- [Posso ir aí?] - A mensagem de Love parece ter saído sem querer. Ela apaga, mas ainda foi possível ler. - [......] - Parece digitar outra mensagem. - [Eu preciso conversar pessoalmente. Podemos nos ver?].

Milk não está bem. A situação com Ciize a deixa meio sem rumo, mas precisa resolver a relação com Love antes que o lado profissional seja afetado.

- Love, que tal almoçarmos amanhã e aí conversamos?

- Parece ótimo, mas eu gostaria de conversar agora.

- Infelizmente, não dá. A chuva está ficando forte. Você sabe como são as chuvas nesta época. Melhor se manter segura.

- Ok, eu entendi.

- Até amanhã.

Levanta e pega a bolsa com a chave da moto e sai ligando para Ciize. O telefonema não é atendido. A preocupação só aumenta. Envia uma mensagem de texto: [Já chegou em casa? Não posso ficar da forma que estou. Precisamos conversar e resolver a nossa situação agora. Me responda! Eu estou na moto. Se estiver no trânsito, eu te busco.].

....

Ciize resolve não ir para casa e ir se encontrar com uma amiga que mora no subúrbio. O que ela não esperava é que os túneis com Bang Sue não fossem dar conta da quantidade de água de chuva que cai em Bangkok. As ruas se encheram rapidamente. O trânsito estava caótico. O carro parou em frente a um cruzamento. Ninguém saía do lar. Ninguém saía por enquanto.

Foi quando um caminhão desgovernado perdeu o freio. Na pista molhada, não conseguiu parar.

"CRASH"!

Uma batida gigantesca virou ao menos três carros no cruzamento, um deles estava Ciize. A água da rua já estava em seus cabelos. De cabeça para baixo, presa ao cinto de segurança permanecia desacordada. O motorista estava esmagado entre as ferragens. Muito sangue descia pelo pescoço perfurado por um pedaço de vidro da janela.

Um dos carros ao lado pegava fogo e o clarão e o calor das chamas acordaram a jovem atriz que tentava se mexer em meio a posição em que se encontrava. Não conseguia soltar o cinto. A água continuava a subir e com o acidente, os carros de socorro e das autoridades não conseguiam se aproximar.

Por sorte ou destino, uma médica que estava parada no sinal não foi atingida. A mesma sai de seu carro e corre até aos acidentados na tentativa de auxiliar aos feridos. O casal no carro em chamas já estava morto. A família com dois meninos de quatro e sete anos saíram ilesos, mesmo com a batida; mas o motorista do Táxi de Ciize, esse estava morto e ela presa ao cinto de segurança.

A médica se aproximou com cuidado. Era jovem, aparentava uns 30 anos, morena bronzeada do sol e era estrangeira. Vestia a camisa da seleção brasileira e em inglês tentou se comunicar.

Autora: [Vou deixar a tradução em Português. Não há necessidade do inglês aqui. Usem a imaginação]

- Oi. Você consegue se mexer? - disse para Ciize.

- Meu braço! Sinto dor no braço esquerdo e minha perna está doendo.

- Ótimo! Enquanto você sentir dor, a situação pode melhorar. Precisamos tirar você do carro, pois o carro em chamas vai explodir a qualquer momento e vocês estão próximos. Infelizmente, o motorista está morto. Vou precisar soltar você do cinto. Por favor, com seu outro braço tente me segurar. Eu não vou deixar você cair. Não se preocupe! Meu nome é Patricia e o seu?

- Rutricha.

Os olhos castanhos de Dra. Patricia bateram de frente com os de Ciize e elas se olharam por alguns segundos. As mãos da Dra. eram firmes. Segurou Ciize com precisão e com a mão direita, usando um canivete que buscou rapidamente no carro, cortou o cinto. Ciize caiu, mas foi segurada confortavelmente pela Dra. Patricia.

- Aii - Reclamou em seguida.

- Calma. Eu preciso virar seu corpo para puxá-la para fora. Tente não mexer os braços. A sua perna está com um estilhaço. Tiramos depois. Preparada?

- Ah?

Nem deu tempo de responder. Dra. Patricia Pradit era tailandesa. Filha de um tailandês, médico ortopedista, e mãe brasileira, médica ginecologista. Havia se mudado há alguns meses para Tailândia, onde quis fazer a residência, afim de conhecer a cultura do país que nasceu. Até então, havia vivido 17 anos no Brasil e os demais em Nova Iorque, nos EUA.

Ela puxa Ciize rapidamente e a arrasta pelo chão. Logo chegam mais ajudadores. Tempo suficiente para chegarem do outro lado da calçada e visualizarem a explosão do carro em chamas. A chuva começava a dar uma trégua e já era possível ouvir o som das ambulâncias e carros policiais. Bangkok estava um caos com aquela quantidade de chuva inesperada. Os alertas eram de chuvas intensas, mas não de tempestade.

- Obrigada. - Ciize segura as mãos da Dra., que imobiliza sua perna e braço com pedaços da própria blusa que acabara de rasgar, ficando apenas com um top verde e amarelo.

- Você é brasileira? - Diz ainda contida.

- Sim! Sou residente no Hospital Internacional Bumrungrad, aqui em Bangkok. Não se preocupe, vai ficar tudo bem... Provavelmente é só uma luxação em seu braço e o estilhaço precisa ser retirado no hospital após um raio x. Eu vou te acompanhar. Quer que eu ligue para alguém?

Ciize procura o celular. - Meu celular está no bolso detrás da minha calça. Tem que abrir o fecho. Você pode pegar para mim?

Dra. Patricia afirma com a cabeça e a vira devagar. A blusa curta de Ciize a faz perceber as costas definidas. A curva na espinha a deixa com a respiração intensa. Vê o fecho no bolso, abre e retira o aparelho, entregando em seguida. Antes, consegue sentir o perfume dos cabelos de Ciize que, mesmo molhados, inalam a fragrância nos fios que caem sobre seu rosto no momento que se afasta.

Ciize percebe e pede desculpas com as mãos juntas.

- Nossa! Quantas mensagens! - Ela vê as ligações de Milk e retorna uma.

Milk parece atender em seguida.

- Calma Milk, eu sofri um acidente. Serei transferida para o Bumrungrad. Pode avisar meus pais? Ok. Não se preocupe. Tem uma médica me ajudando. Nos vemos lá. - Desliga e percebe que o rosto da Dra. está um pouco tenso. Não conseguem se olhar nos olhos diretamente.

A ambulância chega.

Um amor para Resgatar. - MilkCiizeOnde histórias criam vida. Descubra agora