Rejeição

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— Se quisermos fazer um show, precisamos arrumar nosso repertório. – João sorriu.

  O garoto estava deitado de cabeça pra baixo no sofá, com as pernas no encosto. Ele e Kageyama estavam sozinhos na casa de João. Depois do dia em que Tobio encontrou Henrique e Gabriel no bar, ele e o mais novo ficaram cada vez mais próximos. Como ele morava perto da casa de sua mãe, ficava mais fácil para se encontrarem. Kageyama nem passava tanto tempo mais na república, estava cansado de tanto julgamento e opiniões não pedidas.

— Tipo Charlie Brown Jr. e CPM22? – O moreno sorriu de volta.

— Exatamente. – João riu, ainda de cabeça para baixo, mexendo os pés no ar — Algo mais nessa vibe. É o que a galera curte. E dá pra encaixar umas autorais no meio, né?

  Kageyama assentiu, pensando no quanto aquele tempo com João havia sido uma espécie de fuga. Estar longe da república, das brigas e das complicações com Hinata, e se concentrar em música parecia muito mais simples. E João, com sua personalidade leve e despreocupada, fazia com que ele se sentisse confortável.

— A gente pode ensaiar uma amanhã? – João perguntou, levantando-se de repente, como se tivesse uma ideia brilhante — Eu componho umas letras, você trabalha nas melodias, e pronto. Um showzinho intimista só pra testar o que funciona.

— Pode ser. – Kageyama concordou, embora sua mente estivesse em outro lugar. Ele gostava da ideia, mas não conseguia evitar que um pensamento intruso atravessasse seu entusiasmo. Aquele tipo de liberdade que estava experimentando com João, sem a pressão de suas outras relações, parecia bom demais pra durar.

— Ótimo! – João sorriu, pulando do sofá e indo em direção ao violão — Vamos ver o que conseguimos criar agora.

  Kageyama pegou sua guitarra e começou a dedilhar algumas notas, se concentrando no som e deixando as distrações de lado. Por um momento, ele esqueceu as complicações e o peso que estava carregando nas costas, se perdendo no que ele sabia fazer de melhor: tocar.

  Mas, no fundo, ele sabia que não podia fugir para sempre. A música, João, e aquele momento de calma eram só uma pausa temporária.

  Passaram algumas horas tentando compor, mas a inspiração só não vinha. João começou a ficar frustrado, quase desistindo daquilo, porém Kageyama não queria se dar por vencido. Entretanto, depois de mais um tempo, ele se jogou no sofá, suspirando de insatisfação e olhou para João que estava deitado no chão, o encarando com aqueles olhos castanhos.

— O que foi? – Kageyama franziu o cenho.

— Nada. Só estava pensando. – Ele disse sério.

— Na música? Acho que Gabriel é melhor pra isso.

  João ficou em silêncio, ainda o olhando. Kageyama não sabia distinguir o que se passava na cabeça dele. Os dois se conectaram com o olhar, quietos, apenas daquela forma. Kageyama ficou em silêncio, observando João deitado no chão. O contraste entre o ambiente sombrio e a suavidade dos traços do amigo era notável. João tinha uma beleza juvenil, uma combinação de frescor e tranquilidade que parecia quase etérea. Seus olhos castanhos, profundos e pensativos, refletiam uma calma que Kageyama achava rara.

Enquanto João continuava a olhá-lo, Kageyama se viu admirando não apenas a aparência física dele, mas também a aura serena que emanava. Era como se João estivesse em um lugar de paz, independente da frustração que ele dizia sentir. A luz fraca da sala destacava a expressão serena e introspectiva de João, e Kageyama percebeu o quanto ele estava distante de suas próprias preocupações. Havia algo inspirador na forma como João lidava com o silêncio e o desconforto, uma qualidade que Kageyama não tinha conseguido alcançar para si mesmo.

Traços do Oriente | KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora